Fugas - Viagens

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Pão português, amor marroquino, figo-da-índia. Vamos a Mértola

Assim que o doce sai da máquina, “Nicolau” oferece um para a prova e vai ligeiro percorrer Mértola de carrinho-de-mão. Há alturas em que vende na Mina de São Domingos, e em dias de festa e festivais anda a saltar as “capelas” do concelho. Todos os dias de Verão, sem falhas, a vila ouve dizer que “o gelado Nicolau tem o brinde na ponta do pau”. E tem mesmo.

O desertor
A dona Aurora (nome fictício), 88 anos, não se lembra do nome do desertor que deu origem à aldeia onde sempre viveu, como não se lembra do chá que faz bem às hemorróidas. Mas sabe que o de louro, por exemplo, trata a tosse e o de folha de figueira-da-índia é bom para a diarreia. Não muito longe da sua casa, na Amendoeira da Serra, onde moram 70 pessoas, “todos velhos”, fica o Monte do Vento, pequeno projecto financiado pelo ProDer (Programa de Desenvolvimento Rural) e desenhado para explorar o potencial de plantas aromáticas e medicinais da região, com o envolvimento da comunidade local. “Antes era com chás que a gente se curava; agora é com medicamentos. Não será melhor nem pior; é diferente”, resume Aurora, enquanto atira pedaços de presunto ao cão espalmado na sombra do passeio.

Ainda que hoje o mundo seja diferente, na aldeia da Amendoeira da Serra acontece, desde 2012, o Festival de Chás e Ervas do Mundo. “Estava tudo muito bonito; andaram a pintar as casas com essas flores e tudo. Parece-me que foi uma professora de Mértola [Nádia Torres, filha de Cláudio Torres, o fundador do Campo Arqueológico]. Agora não me lembra o nome, mas é muito boa professora”, recorda Aurora da festa do ano passado, onde houve workshops, oficinas, teatro de rua, exposições, danças e sessões de contos.  

Não há amêndoas à vista na Amendoeira da Serra. Só sobreiros, figueiras, oliveiras, rosmaninho e outras plantas rasteiras. Da toponímia fica-se sem saber mais. O que se conta do princípio da aldeia é o seguinte: “Há muitos anos veio para aqui um desertor. Sabe o que é um desertor? Pronto. Ele veio e vivia aqui escondido. Teve filhos e a família foi aumentando. E depois outras pessoas também vieram para aqui, como os meus pais, nem sei porquê.” Agora a vida faz-se entre o dominó e as cartas, a dar comida ao cão, a ver se este ano as laranjas são doces. “E se a morte estiver além na horta, a gente vai além com ela”, lembra Aurora. Está tudo lembrado.

 

Guia prático

Onde ficar

Casa Visconde de Bouzões
A Fugas ficou alojada na Casa Visconde de Bouzões, junto ao castelo, onde o ambiente é familiar e acolhedor. Os pequenos-almoços são fartos e prazerosos, com produtos locais, e a decoração é clássica e tradicional. www.casa-visconde.blogspot.com

Pensão Beira Rio
Fica na margem do Guadiana, junto ao cais da vila, de onde saem as canoas para explorar o rio. www.beirario.pt

Hotel Museu
Era para ser um hotel absolutamente normal, mas o início das obras desviou-lhe o destino. Hoje, o Hotel Museu, junto ao rio Guadiana, é também núcleo de visita a um bairro islâmico e ruínas romanas. www.hotelmuseu.com

Hotel São Domingos
No século XIX, a zona nobre da aldeia da Mina de São Domingos era reservada aos ingleses (a companhia Mason & Barry explorava então a mina), onde se situava o chamado Palácio. É aqui, junto à praia, a 18 quilómetros de Mértola, que hoje existe o Hotel São Domingos, de quatro estrelas. www.hotelsaodomingos.com

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