Fugas - Viagens

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Hanói, uma cidade que atravessa o tempo

Em poucos minutos estamos na Praça Ba Dinh e temos o mausoléu à vista, com a sua arquitectura solene de granito cinzento, um pouco intimidante naquela bizarra amálgama de Pártenon e mastaba, e com um friso de guardas fardados de um branco virginal. Estão sempre atentos aos movimentos da multidão. Cá fora há uma linha que os artistas das selfies não podem transpor e lá dentro uma vasta colecção de outros interditos: reina uma atmosfera de cariz religioso que há que respeitar imperiosamente, desde o silêncio absoluto à proibição de telemóveis, fotografias, mãos nos bolsos, etc. Neste cenário de veneração — inspirado no moscovita túmulo de Lenine —, a dimensão religiosa parece levar a palma à reverência política que o Partido Comunista do Vietname aspirou pôr em prática com o mausoléu e um programa metódico de culto da personalidade. Contra, diz-se, a vontade expressa por Ho-Chi-Minh, que terá manifestado o desejo de ser cremado.

Orar à flor-de-lótus
A grande Praça Ba Dinh é a maior do país — e o tamanho é tão celebrado quanto o simbolismo. Foi aí que Ho-Chi-Minh declarou a independência do Vietname em Setembro de 1945, desencadeando a reacção francesa que culminaria na Guerra da Indochina. À sua volta, como se consultasse uma enciclopédia, o viajante encontra assunto com que esboçar uma introdução a duas dimensões centrais da identidade vietnamita, a política e a religiosa. De um lado, na direcção do lago Ho Tay, o complexo presidencial: o palácio de três pisos usado para residência do governador colonial francês, que Ho-Chi-Minh recusou, preferindo instalar-se numa casa espartana de piso térreo, convertida actualmente em museu. Uma pequena construção de estilo tradicional vietnamita, em madeira e assente em palafitas, era o espaço de trabalho preferido pelo primeiro Presidente da República Socialista do Vietname e faz também parte do roteiro da visita.

Do outro lado do mausoléu, por milagre ou banalidade que os deuses vão escrevendo sobre as linhas oblíquas dos quotidianos humanos, os vietnamitas têm um dos templos mais ilustres para exercício da sua religião — uma religião que se considera de base budista (Mahayana), mas que incorpora elementos do taoísmo e do confucionismo. Dir-se-ia, antes, um sistema de crenças compósito, designado na língua vietnamita por Tam Giáo, que tem como traço relevante o culto dos antepassados e que funde nesse culto subsídios de outras crenças tradicionais vietnamitas. O templo é o famoso pagode assente num único pilar, em forma de flor-de-lótus, uma construção singular em toda a Ásia. Edificado há quase mil anos, foi destruído pelos franceses no fim da era colonial e reconstruído logo a seguir, reafirmando-se como pólo de peregrinações que têm tanto de religioso como de turístico. Ora-se ali pela fortuna e pela fertilidade, simbolismo que as mitologias orientais colaram à pele da flor-de-lótus. A atmosfera em volta é francamente popular, com barraquinhas cheias de bugiganga religiosa e incenso e estendais de aromática fruta tropical – mangas de fogo, o abominável durian, líchias a rescender a água de rosas.

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