Fugas - Viagens

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Hanói, uma cidade que atravessa o tempo

No coração de Hanói
A Dinh Tiên Hoàng contorna uma parte do lago Hoàn Kiém e dá ligação a uma série de ruelas que se entranham no labirinto do Phô co Hà Nôi, o núcleo urbano mais antigo do Vietname, a cidade avessa a liftings de ocasião e que veio atravessando sem pressa o tempo. Diante do teatro de marionetas de água, uma das mais emblemáticas tradições culturais vietnamitas, o tráfego é um circo que dura dia e noite. Não faltam acrobatas, funâmbulos, malabaristas, trapezistas... Um velho muito velho, que já não seria criança no tempo em que os habitantes de Hanói se atiravam para abrigos antiaéreos mal se ouvia o som das sirenes anunciando a chegada dos B52, põe-se a tentar atravessar a rua. Missão impossível, ou quase, não fora a ajuda de uma transeunte, moçoila e grávida e com uma criança ao colo. Desde então a lavrar, às portas do bairro antigo, fica a dúvida, entre a interrogação e a certeza: não são, por vezes, aqueles que se acham em situação de maior fragilidade que estão em circunstância de melhor compreender os mais vulneráveis?

Fico a ver o homem desaparecer lentamente entre a multidão atarefada com os seus destinos e desejos, na direcção do Phô co Hà Nôi. Eis-nos no exacto coração da capital do Vietname, à procura de um roteiro que será, sempre, como a sede de Sísifo, desígnio ou anseio à beira de se contentar, mas fatalmente insaciável. O bairro antigo, um emaranhado de ruas à volta do lago Hoàn Kiém, é um labirinto nos primeiros dias; depois começa a tomar a forma de um mapa desenhado entre a Tran Nhat Dhuat, avenida paralela ao rio Vermelho, e a Pho Phung Hung, junto ao que resta da cidadela imperial de Thang Long — o embrião da futura Hanói —, que, apesar de destruída quase totalmente pelos franceses durante a ocupação colonial, viria a obter a classificação da UNESCO como Património Mundial. O coração incansável de Hanói pulsa entre esses limites – os limites da revelação de mistérios que ora parecem mostrar a face, ora se evolam como uma névoa equívoca, tal como a água nas mãos de Tântalo.

As heroínas do bairro antigo
A Hang Dao, a antiga rua dos mercadores de seda, constitui um eixo sul-norte tão útil quanto uma bússola: leva o forasteiro até perto do pequeno templo taoista de Bach Ma, o mais antigo da cidade (século XI), e deixa-o em pleno coração da zona boémia. Estamos aí imersos num mapa impreciso de um sem fim de bares com esplanadas feitas de mesas baixas e banquinhos de plástico, onde toda a tarde — e especialmente a partir do início da noite — multidões de jovens tomam assento. Quem procura a famosíssima cerveja de Hanói – a Bia Hoi, cerveja artesanal de gosto variável consoante a fermentação e o fazedor — vai lá parar. As ruelas à volta do cruzamento entre a Luong Ngoc Quyen e a Ta Hien são pródigas em botequins a abarrotar de gente, de tão falados pelos guias internacionais e de tão populares entre a rapaziada local. Outra imagem espantosa deste bairro único em todo o Oriente: assim que anoitece, milhares de jovens vietnamitas juntam-se, um pouco por todo o velho bairro, em grupos dispostos à volta de mesinhas ou sentados no chão. O ritual é sempre o mesmo: uma ruidosa confabulação e um arco-íris de manjares que baralha o iniciado na comida de rua vietnamita: pho gà, bún thang, xôi gà. E o saboroso pho khô, servido por uma amável velhinha na Hang Trong.

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