Fugas - Viagens

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O céu ainda pode esperar, há outro paraíso na terra

Por Sousa Ribeiro

Um cenário poético tão inspirador para tantos artistas ao longo dos séculos e um retrato rural da China que tende a desaparecer.

“East or west, Guilin is the best”.

Se não for escrito em inglês não tem piada. E não rima. Mas quando se pousa um olhar, por mais breve que seja, no quadro que envolve esta cidade, logo se percebe este antigo ditado. Experimente, errando pelo país, mencionar o nome de Guilin a um chinês, mesmo ao mais reservado de todos, e comprovará com os seus olhos como os olhos dele adquirem um brilho invulgar e a boca se abre para produzir um som que facilmente associará a algo de magnificente.

“Muitas vezes enviava pinturas das colinas de Guilin que eu próprio pintava para os meus amigos que deixara em Suzhou. Mas raros eram os que acreditavam no que viam”, admitiu, num passado longínquo, Fan Chengda, um dos mais admirados poetas chineses da Dinastia Song e uma autoridade académica em Geografia que também se aventurou pelos caminhos da prosa e da narrativa através de relatos de viagens, muito populares na China nessa época.

Guilin, mais do que encantar pelas suas atracções urbanas, seduz pelas formas de uma natureza caprichosa que se perscrutam até perder de vista, como uma tela de múltiplas cores que um pintor foi pincelando, provido de toda a inspiração – e foram muitos, de eras tão distintas, os que se deixaram colonizar pela imponência da paisagem, os últimos dos quais nas décadas de 1930 e 1940, quando a urbe se tornou num dos palcos privilegiados da resistência à invasão japonesa e abrigo de intelectuais em busca de um refúgio de paz.

Nos dias de hoje, a exemplo do que sucede um pouco por todo o país, com especial incidência nas cidades, Guilin, com mais de um milhão de habitantes, se considerarmos a área metropolitana, sofre os efeitos da elevada densidade populacional e da actividade industrial que torna o ar menos respirável. Mas não faltam, ainda assim, lugares onde se respira serenidade, ricos em história e estratégicos para contemplar as águas do rio Li serpenteando por entre as montanhas cársticas que se recortam como bossas de camelos.  

Um dos meus lugares preferidos, na minha errância solitária (viajar em grupo, na China e especialmente em Guilin, pode tornar-se uma fonte inesgotável de irritação), é justamente um recanto que apela à solidão – a Colina da Beleza Solitária, um famoso pináculo (152 metros) com uma panorâmica soberba (mas também a arquitectura desordenada da cidade) e bem próximo (preço do bilhete incluído) do Wáng Chéng, uma antiga mansão de um príncipe Ming, construída no século XIV e que acolhe actualmente uma universidade.

O dia, como um rio no momento em que chega à foz, caminha sem grande pressa e convida a passos curtos. Não muito longe da colina que acabo de descer, uma outra, a Fubo Shan, metade sobre o rio, a outra metade em terra, território também eremítico com espaço para o templo do marquês Xinxi. Erguido durante a dinastia Tang (618-907), presta tributo ao general (fubo) Ma Yuan, a quem foi concedido o título de marquês (daí a toponímia) e que ficará para a história como um dos mais conceituados oficiais chineses, por força da sua importância na unificação do império, esmagando rebeliões tribais durante a governação do Imperador Guangwu.

Um mar de mansidão

A partir daqui, a despeito de uma luz pesada, a força do cenário é arrebatadora. A pouco e pouco, com os ruídos do centro citadino perdendo-se no horizonte, Guilin começa a cativar o viandante e a atenuar a ansiedade de sulcar as águas do rio Li, em direcção a Yangshuo. Não é fácil virar as costas ao panorama que é dado a contemplar, da mesma forma que não é difícil associá-lo somente a outros dois: a baía de Halong, no Vietname, e algumas paisagens do sul da Tailândia.

O rio é, por estes dias, um mar de mansidão, vigiado por montanhas que recortam o céu de um azul pálido. Num penhasco, ainda na colina que homenageia o general, entro num pavilhão com dois andares, levantado já na segunda metade do século passado e pomposamente chamado o pavilhão onde se escutam as ondas. Não há ondas. Apenas oiço um silêncio apaziguador que, como uma brisa suave num dia de Verão, transporta energia para continuar a descobrir as pérolas de Guilin.

Chego de barco (único acesso possível) e, à minha frente, ainda na colina Fubo, desenha-se a entrada de uma gruta. Reza a lenda que aqui viveu, há muitos, muitos anos, um dragão. Um dia, o dragão adormeceu e, durante o sono, a sua pérola foi roubada. Num outro dia, uns tempos depois, a pérola voltou. É a gruta da pérola retornada, para os chineses a Huanzhu Dong, com as suas esculturas esculpidas na pedra que contemplam, entre outros, budas das dinastias Song e Tang, um auto-retrato de Mi Fu, um famoso pintor, e um poema do já referido Fan Chengda.

Envolvido neste passado intangível e escutando o rumor que sobe da cidade, toco a barriga da colina, onde está situada a gruta dos Mil Budas, obras-primas, uma vez mais, da dinastia Tang. Não são mil mas umas três centenas: um erro de cálculo sem significado quando se aprecia a expressão de serenidade que emana destas figuras talhadas na pedra que parecem sorrir ao turista de uma forma benevolente.

Ao longe, as montanhas mantêm-se abraçadas por um halo de bruma – assim as observo desde Diecai Shan, mais uma colina, a norte da Fubo, com os seus imponentes quatro picos como sentinelas. Desde aquele que é um dos parques mais frequentados em Guilin, a visão é ainda mais esmagadora – justamente pode ser considerada a melhor perspectiva –, o rio, estendendo-se como um fio de prata, produz sobre quem lhe planta o olhar um encanto ao qual é difícil resistir e exacerba como nunca o desejo de escutar o marulho das suas águas correndo pelo meio das montanhas que ameaçam tocar os céus (e não tenha dúvidas de que crescem porque nesta zona os ácidos carbónicos são mais baixos na água das chuvas do que no solo, mais exposto à erosão) e que atraem outras montanhas de curiosos.    

O pináculo é atravessado pela Fengdong, a gruta do vento (sopra uma brisa constante ao longo de todo o ano), com duas grandes bocas que engolem os turistas de um dos lados e uma outra, tão estreita que não permite a passagem a mais do que uma pessoa de cada vez, do outro lado. No interior, há quase uma centena de esculturas de budas (novamente das dinastias Song e Tang), bem como dezenas de inscrições na pedra pertencentes a estas dinastias e a algumas das subsequentes.

Subindo por um trilho pavimentado, avisto dois elegantes pavilhões, ideais para um curto descanso antes de culminar a ascensão ao topo do penhasco Ming Yue (Lua Dourada), cerca de 220 metros acima do nível das águas do mar mas apenas 70 metros do rio Li – se a subida dificulta a respiração e provoca transpiração, a panorâmica é de cortar a respiração e estimula a inspiração.

A gruta da Flauta de Cana

Tendo agora o murmúrio do rio Li como companhia, caminho ao longo da margem oriental ao encontro da Dongzhen Men, uma porta parcialmente reconstruída e flanqueada por fragmentos originais das muralhas (cheng qiang) da cidade, erguidas durante a dinastia Song. A porta está situada no extremo nordeste do agradável Mulong Hu, um parque que acolhe o elegante Mulong Ta, um pagode da mesma dinastia mas inteiramente reconstruído e onde, todos os dias, depois das oito da noite, são habituais os espectáculos de música clássica chinesa e de ópera.

De bicicleta, percorro os cinco quilómetros que distam entre o centro de Guilin e a Ludi Yan, a gruta da Flauta de Cana, uma enorme galeria com estalactites, estalagmites e formações rochosas de formas tão bizarras quão maravilhosas, banhada por luzes de diferentes tonalidades – procure desdramatizar se vir pedaços de cimento e projectores camuflados e imperceptíveis desde a entrada e deixe-se levar, se a visitar em grupo (a evitar) e acompanhado de um guia, pela fértil imaginação chinesa. O nome da gruta, com uma extensão de 240 metros, deriva do facto de, mesmo à entrada, crescer um tipo de cana que permite criar flautas capazes de produzir as mais belas melodias.

Henry Kissinger, antigo secretário de Estado norte-americano, foi um dos mais ilustres visitantes da gruta da Flauta de Cana, inaugurada oficialmente em 1962 mas uma atracção turística com mais de 1200 anos de existência – tem mais de 70 inscrições que, alegadamente, remontam ao ano 792 d.C., da dinastia Tang.

Henry Kissinger descreveu a gruta, localizada no sopé da colina Guang Ming, como “poética”. É bem capaz de ter exagerado na sua apreciação. Mas ninguém – nem mesmo eu – dá o seu tempo por perdido quando, durante uma hora ou mais, vagueia por esta cave a quem os chineses também gostam de chamar “Palácio de Arte Natural”. E esse sentimento irá prevalecer e fortalecer-se quando, de repente, fixar os seus olhos, com natural êxtase, na caverna popularizada como o Palácio de Cristal do Rei Dragão, com o seu lago reflectindo as cores e as formações rochosas – e transmitindo uma sensação de paz que contrasta com um tempo de guerra em que serviu de abrigo aos bombardeamentos aéreos.

De regresso à cidade, deixo-me enamorar pela beleza das folhas vermelhas que atapetam a terra agora que o Outono avança e as árvores se encontram quase despidas e detenho-me, logo depois e por algum tempo, na aldeia de Lujia, nas margens do rio Flor de Pêssego, um tributário do Li Jiang, com as suas bonitas casas renovadas ao estilo tradicional do Norte da província de Guangxi. Estando tão próximo do ambiente por vezes frenético de Guilin, Lujia é um pequeno e sossegado cantinho onde se pode admirar a arquitectura daquela região, a vida rural, beber um chá na companhia de um ancião – ambos remetidos ao silêncio, ambos sorrindo, ele fumando o seu cachimbo e atirando com prazer nuvens de fumo que logo se dissipam, eu à procura das palavras que não encontro – ou simplesmente observando o mundo passando, vagaroso e humilde, à frente dos meus olhos.

Corvos-marinhos pescadores

Cruzo a cidade de uma ponta à outra, atravesso o Li utilizando a ponte da Libertação, sento-me num mercado de comida, já na outra margem, e concedo ao corpo o pequeno prazer de desfrutar de mais um momento tranquilo, no Qixing Gongyuan, o parque das Sete Estrelas, assim baptizado para celebrar os sete picos das suas montanhas (quatro da montanha Putuo e três da Crescente) e que estão ordenadas de acordo com a constelação da Ursa Maior.

Cobrindo uma área de quase 140 hectares, o parque permanece como uma das mais originais atracções turísticas do país (aberto durante a dinastia Sui) e proporciona horas e horas de divertimento e de lazer. Há penhascos para subir, caves para explorar, espaços para piqueniques, macacos para observar e mesmo um jardim zoológico que é aconselhável a todos menos aqueles que sofrem de depressões. Por aqui me deixo ficar, atravessando a ponte das Flores, com o seu arco projectado nas águas para formar uma lua cheia, fitando as montanhas, a colina do Camelo, os múltiplos pavilhões, a Praça da Luz da China com os seus murais esculpidos na pedra que representam cinco mil anos de civilização chinesa e, finalmente, Shi Ji Bao Ding, um Ding (caldeirão) com quatro pernas e uma altura de quase cinco metros que é o símbolo de prosperidade do país e de um povo que vive em paz.

O sol escoa-se silenciosamente e a luz do crepúsculo perfila-se no horizonte no instante em que a colina da Tromba do Elefante surge no meu campo de visão. Mais próximos estão alguns elefantes de cimento que parecem banhar-se nas águas do rio. Por entre eles, espalhando sorrisos, nadam as crianças, felizes, com rostos expressivos, levantando dois dedinhos para a câmara fotográfica.

A noite cai, brusca, os pescadores, fiéis aos métodos ancestrais (com mais de mil anos e já descritos no Livro dos Sui, a história oficial desta dinastia chinesa), estão sentados nas suas barcas rudimentares de bambu, chapéus cónicos na cabeça, segurando uma cana na mão e iluminados pela luz débil de um candeeiro.  Uma outra cana, suspensa sobre duas cadeiras também de bambu, atravessa a pequena embarcação a toda a largura e, apoiados em cada um dos extremos, estão dois corvos- marinhos que, treinados pelos pescadores, não tardarão a mergulhar os seus bicos nas águas escuras do rio antes de regressarem aos barcos com um peixe preso com firmeza (porque um fio à volta da base da garganta das aves as impede de engolir os maiores e, uma vez puxado, funciona como um sinal do pescador) e que logo depositarão no lugar habitual.

Uns dedicam-se mesmo à pesca, seguindo gerações e gerações, outros parecem mais interessados na indústria do turismo. Mas nem uns nem outros retiram encanto às trevas iluminadas pela luz mortiça que vai tremelicando nas águas escuras do rio, aos pássaros no seu constante vaivém e à explosão de silêncio à medida que a noite avança. Talvez porque, questão de sobrevivência ou mera encenação, esta é a China que, embora com tendência para desparecer, se perpetua no imaginário do viandante.

Por esse rio abaixo

Não há um único turista mas, olhando bem, todos são turistas no barco que acaba de deixar o cais, com destino a Yangshuo, o ponto alto numa viagem por esta região. São pouco mais de 80 quilómetros e quatro horas dentro de uma embarcação onde sou o único europeu no meio de meia centena de chineses que correm de um lado para o outro, fazendo verdadeiras maratonas para captar o melhor ângulo, na ânsia de tudo verem ou de tudo fotografarem – e por isso observando pouco porque se escondem atrás das lentes da câmara. Mas, ao fim de uns minutos, agora que Guilin ficou para trás, percebo esta verdadeira angústia que contagia as crianças eternamente sorridentes, como compreendo também que tenha provocado, desde tempos imemoriais, um sentimento idêntico em aventureiros que viajavam de regiões longínquas para contemplarem com os seus próprios olhos esta verdadeira poesia da natureza.

“Ouvi falar do nome rio Lijiang há muito tempo. Hoje visito o rio Lijiang. É mais vívido e genuíno do que eu pensava. Não há outro lugar como Guilin. Faz-me pensar nas tradicionais pinturas chinesas”, admitiu, em 1998, durante uma visita a esta cidade da Região Autónoma de Guangxi Zhuang, o antigo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, encantado com o cenário e desconhecendo que Jiang significa precisamente rio – o rio Li.

Como os compreendo, os aventureiros e os turistas de hoje, agora que navego nas águas calmas do Li, neste universo de uma beleza sonhadora, envolto por uma bruma azulada e pelos raios de uma luz quase sem brilho. As montanhas imitam figuras, têm nomes que poetas chineses, especialistas em semelhanças, lhes atribuíram: “Mulher esperando o pescador”, “Dragões saltando para a água”, “Colina dos nove cavalos”; rasgando docilmente as águas, pequenas balsas dos pescadores, indiferentes à passagem dos barcos, vivendo as suas vidas; crianças banhando-se; corvos-marinhos focados no ataque a mais um peixe; mulheres lavando as suas roupas; ainda mais indiferentes e mais indolentes do que os pescadores, os búfalos d’água gozando do prazer da água até que alguém os reclame para os trabalhos agrícolas.

O rio Li é como um berço - embala. Mas seria apenas mais um rio se não vivesse rodeado desta orografia, desta paisagem imortal, tão bem caracterizada pelos pintores chineses e logo transmitida, sem inveja mas com orgulho, ao mundo. Pintá-la é possível, com extremo rigor; descrevê-la é impossível, em rigor – esta é uma experiência para ser vivida e não para ser sonhada com base em relatos, por mais que se tente não ignorar pequenos detalhes. O rio Li, com as suas montanhas caindo sobre ele como se fossem varandas, não é feito de pormenores mas sim de grandiosidade.

O barco chega a Yangshuo, olho para trás e vejo um rasto cor de esmeralda inundando as águas. Os turistas chineses agitam-se, rostos emoldurados por um sorriso e um brilho nos olhos que interpreto como a materialização de um sonho. As crianças acenam-me e eu embrenho-me pelos mercados e pelas ruas antes que a noite volte a cair. A pedonal Xi Jie é onde o coração de Yangshuo bate com mais força, uma artéria para mulheres ponderadas nas suas decisões – as montras estão cheias de malas de conceituadas marcas, todas fabricadas (contrafacção) na China e vendidas a um preço irrisório (e mais ainda para quem domina a arte do regateio).

A manhã desponta cheia de luz e o sol matutino não tarda a flamejar e a castigar a terra. Alugo uma bicicleta e parto, com um mapa no bolso, ao encontro das paisagens que rodeiam Yangshuo, cruzando-me com mulheres que fazem uma pausa nos trabalhos agrícolas para um breve almoço, com pescadores, com búfalos parcialmente imersos nas águas, tudo rodeado por arrozais como um manto verde e por montanhas que há 300 milhões de anos estavam submersas.

A meio da manhã, sento-me numa das margens do Yulong, um dos afluentes do Li, e observo a ponte do Dragão, o elegante arco projectando-se nas águas do rio, com as suas pedras gastas ao longo de uma existência de mais de 600 anos. Observo a indolência dos anciãos, com os seus cachimbos, um olhar perdido no passado e regresso pelo mesmo trilho, detendo-me em frente de uma árvore com mais de 1500 anos ou subindo à Yueliang Shan (colina da Lua), com o seu buraco em forma de lua. A vista global que se abraça é inesquecível, entra na memória e promete ficar até que a memória de nada mais se lembre.

Pela tarde, percorro outros caminhos, entre Xingping e Yangdi. A primeira, com as suas colinas, surge nas notas de 20 yuans mas a sua história contempla mais de dez séculos, alguns dos quais testemunhados por antigas e elegantes mansões. Yangshuo não é um lugar de quem alguém sinta, mesmo ao fim de muitos dias, vontade de partir. Há grutas interessantes, lama para cobrir o corpo antes de um mergulho em piscinas de água fresca, aldeias históricas como Fuli, com as suas casas de pedra e as suas vielas também empedradas - passando, de caminho, pelo lugarejo de Dutou antes de entrar no ferry, juntamente com a bicicleta, para atravessar para a outra margem.

East or west, Yangshuo is the best.

Guia prático

Como ir

Como não existem ligações aéreas directas entre Lisboa e Guilin, a alternativa passa por voar até Pequim ou Hong Kong (dista cerca de 500 quilómetros daquela cidade da província de Guangxi) e, uma vez aí, recorrer a um voo interno ou a outro meio de transporte. É importante ter em conta que os voos a partir de Hong Kong são por norma mais caros (entre 30 a 40%), pelo que se recomenda que o faça desde Shenzen (onde pode chegar de barco ou de comboio), cidade que também liga a Guilin de autocarro (conte com umas 12 horas de viagem). A opção mais em conta e talvez mesmo mais prática implica uma escala em Kuala Lumpur, capital da Malásia servida por diferentes companhias aéreas (pode encontrar boas promoções entre os 500 e os 600 euros). De Kuala Lumpur, a AirAsia viaja directamente para Guilin a preços em conta (mais ainda se reservar com grande antecedência). O aeroporto internacional de Liangjiang está situado a 30 quilómetros do centro da cidade – há autocarros pelo menos de trinta em trinta minutos.

Quando ir

O Norte (onde estão situados Guilin e Yangshuo) e o Sul de Guangxi gozam de climas distintos. Se, por norma, o calor tropical e a humidade estão associados à região, com temperaturas de 13 graus em Janeiro e 28 em Agosto, talvez não seja má ideia transportar consigo algumas roupas quentes, especialmente se estiver nos seus planos estender a viagem até ao nordeste da região, com um clima mais moderado nas montanhas e, durante o Inverno, com queda de neve e de geada. As maiores precipitações ocorrem, geralmente, entre Junho e Agosto mas, embora menos forte e mais constante, a chuva também faz a sua aparição em Março.

Em Guilin e em Yangshuo os termómetros registam uma média anual a rondar os 20 graus. A melhor altura para viajar é entre Setembro e Dezembro, meses que conhecem os valores mais baixos da humidade do ar. Janeiro, Fevereiro e Março são, tradicionalmente, os meses mais frios do ano.

Onde comer

Guilin, com uma cozinha muito especial, é um lugar fantástico para satisfazer o seu apetite. Estando situada nas margens do rio Li, é natural que o peixe faça parte da dieta da maior parte da população residente. Mas a cidade também é famosa, um pouco por todo o país, pela qualidade dos seus noodles. Entre as muitas especialidades, não deixe de provar o píjiu ya (pato com cerveja) e os tiánluó (caracóis). A zona de restaurantes mais concorrida é ao longo da pedonal Zhengyang Lu e nas vielas em redor. Mas os apreciadores de peixe devem dirigir-se à Nanhuan Lu, a leste da ponte Wenchang, ao lado do restaurante Yiyuan, onde encontrará uma ampla variedade de espaços especializados. Os adeptos da excelente (e picante) gastronomia de Sichuan não se arrependerão se começarem precisamente por este último (aberto para almoços e jantares), localizado na referida Nanhuan Lu. Em Yangshuo, pode tentar o Chongqing Caiguan, em Puntao Lu, também com comida de Sichuan, ou o vegetariano Anxiang Shuying Sucaiguan, na Diecui Lu.

Onde dormir

Uma das melhores opções para orçamentos reduzidos, em Guilin, é o Backstreet Yout Hostel, na 3 Renmim Lu, com quartos e dormitórios espaçosos, muito asseados e decorados com extremo bom gosto com mobílias de madeira. Por dormitório, espere pagar à volta de 50 yuans; por um duplo cerca de 120. O hostel dispõe de Internet, aluga bicicletas (20 yuans por dia), tem também um café confortável e empregados prestáveis que dominam perfeitamente o inglês. O Backstreet Youth Hostel oferece ainda a vantagem de estar bem localizado, numa zona próxima de bares, restaurantes e lojas de comércio. 

Para um pouco mais de luxo, experimente o adorável Jingguan Minglou Hotel, na 9 Ronghu Nanlu, com uma panorâmica soberba sobre o lago Rong e o requintado cenário cárstico que abraça a cidade. Reproduções de antigos móveis chineses adornam a entrada, corredores e escadas e voltam a encontrar-se nos quartos fabulosos pelos quais deverá pagar, à excepção do período de férias dos chineses, entre 280 e 380 yuans, dependendo se opta por um standard ou por um mais luxuoso. O hotel não dispõe de restaurante mas há diferentes alternativas nas margens do lago.  

Em Yangshuo, não faltam pequenos hotéis e a preços em conta mas um dos melhores é o Yangshuo Culture House, na 110 Beisan Xiang, Chengxi Lu, um espaço gerido pelo simpático Wei Xiao Geng e a sua família, básico mas com quartos amplos e com muita luz. Situado a apenas dez minutos do terminal de autocarros, o Yangshuo Culture House está quase sempre cheio – convém fazer reserva com antecedência. Os preços variam entre os 70 e os 80 yuans, podendo optar entre ficar alojado em dormitório ou num quarto duplo. E não se surpreenda se, de repente, perceber que nada tem a pagar pelas três refeições diárias que Wei Xiao Geng lhe servirá durante a sua estada.

O melhor lugar em Yangshuo (a quatro quilómetros do centro) é, sem dúvida, pela serenidade que envolve o viajante, o Giggling Tree, na aldeia de Aishanmen, gerido por um casal holandês (Paulien Leisink e Karst Draaisma). Os dois, a viverem há já alguns anos na aldeia chinesa, juntamente com os filhos, restauraram uma antiga quinta e dotaram-na de todo o conforto, incluindo ar-condicionado e casas-de-banho modernas em todos os quartos, nos quais sobressai a pedra, os tijolos de barro e rústicas vigas de madeira servindo de apoio aos tectos. No exterior, um bonito pátio e um terraço frontal com uma panorâmica para os terrenos agrícolas emoldurados pelos picos de calcário – um ambiente perfeito para uns dias de tranquilidade.

Informações

Para visitar a China necessita de ter um passaporte com validade de seis meses e obter um visto na secção consular, situada na Rua de São Caetano, 2, na Lapa, em Lisboa. Os pedidos de visto, cuja emissão demora quatro dias úteis, são aceites apenas no período da manhã, entre as 9h e as 12h. O levantamento do passaporte com o respectivo visto pode ser feito tanto de manhã como de tarde, entre as 15h e as 17h. O pagamento do visto (35 euros para uma entrada e 53 euros para duas) terá de ser efectuado através de transferência bancária no Banco Millennium ou por multibanco.

A embaixada exige também o preenchimento de um formulário, uma fotocópia da página de identificação do passaporte, uma fotografia actual e uma declaração da entidade patronal comprovativa da profissão. Caso se encontre desempregado ou seja trabalhador independente, deve apresentar uma declaração a explicar o tipo de profissão, o motivo da viagem, uma fotocópia do saldo bancário disponível, nunca inferior a mil euros, e uma cópia da reserva do voo (ida e volta). Finalmente, se for reformado ou estudante, terá de se fazer acompanhar dos respectivos cartões.

O renmimbi é a moeda oficial chinesa e o yuan é uma unidade de conta – para mais facilmente perceber, tem o antigo exemplo do escudo e dos contos. Um euro corresponde a aproximadamente 7,15 yuans.

A província de Guangxi é um mar de minorias e, consequentemente, de línguas, como zhuang, xiang, hmong, dong, sui, hakka, jing (vietnamita) e yi. Em viagem por esta região, dificilmente se cruzará com alguém que fale inglês, mas Guilin e Yangshuo, com a sua vocação turística, constituem excepções, principalmente esta última. Ainda assim, o ideal é aprender algumas palavras em mandarim (putonghua) ou em cantonês (conhecido nesta zona por báihuà), se bem que esta última é mais utilizada em cidades como Nanning.

A diferença horária entre Portugal e a China é de + 8 horas.

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