Fugas - Viagens

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O céu ainda pode esperar, há outro paraíso na terra

Por Sousa Ribeiro

Um cenário poético tão inspirador para tantos artistas ao longo dos séculos e um retrato rural da China que tende a desaparecer.

“East or west, Guilin is the best”.

Se não for escrito em inglês não tem piada. E não rima. Mas quando se pousa um olhar, por mais breve que seja, no quadro que envolve esta cidade, logo se percebe este antigo ditado. Experimente, errando pelo país, mencionar o nome de Guilin a um chinês, mesmo ao mais reservado de todos, e comprovará com os seus olhos como os olhos dele adquirem um brilho invulgar e a boca se abre para produzir um som que facilmente associará a algo de magnificente.

“Muitas vezes enviava pinturas das colinas de Guilin que eu próprio pintava para os meus amigos que deixara em Suzhou. Mas raros eram os que acreditavam no que viam”, admitiu, num passado longínquo, Fan Chengda, um dos mais admirados poetas chineses da Dinastia Song e uma autoridade académica em Geografia que também se aventurou pelos caminhos da prosa e da narrativa através de relatos de viagens, muito populares na China nessa época.

Guilin, mais do que encantar pelas suas atracções urbanas, seduz pelas formas de uma natureza caprichosa que se perscrutam até perder de vista, como uma tela de múltiplas cores que um pintor foi pincelando, provido de toda a inspiração – e foram muitos, de eras tão distintas, os que se deixaram colonizar pela imponência da paisagem, os últimos dos quais nas décadas de 1930 e 1940, quando a urbe se tornou num dos palcos privilegiados da resistência à invasão japonesa e abrigo de intelectuais em busca de um refúgio de paz.

Nos dias de hoje, a exemplo do que sucede um pouco por todo o país, com especial incidência nas cidades, Guilin, com mais de um milhão de habitantes, se considerarmos a área metropolitana, sofre os efeitos da elevada densidade populacional e da actividade industrial que torna o ar menos respirável. Mas não faltam, ainda assim, lugares onde se respira serenidade, ricos em história e estratégicos para contemplar as águas do rio Li serpenteando por entre as montanhas cársticas que se recortam como bossas de camelos.  

Um dos meus lugares preferidos, na minha errância solitária (viajar em grupo, na China e especialmente em Guilin, pode tornar-se uma fonte inesgotável de irritação), é justamente um recanto que apela à solidão – a Colina da Beleza Solitária, um famoso pináculo (152 metros) com uma panorâmica soberba (mas também a arquitectura desordenada da cidade) e bem próximo (preço do bilhete incluído) do Wáng Chéng, uma antiga mansão de um príncipe Ming, construída no século XIV e que acolhe actualmente uma universidade.

O dia, como um rio no momento em que chega à foz, caminha sem grande pressa e convida a passos curtos. Não muito longe da colina que acabo de descer, uma outra, a Fubo Shan, metade sobre o rio, a outra metade em terra, território também eremítico com espaço para o templo do marquês Xinxi. Erguido durante a dinastia Tang (618-907), presta tributo ao general (fubo) Ma Yuan, a quem foi concedido o título de marquês (daí a toponímia) e que ficará para a história como um dos mais conceituados oficiais chineses, por força da sua importância na unificação do império, esmagando rebeliões tribais durante a governação do Imperador Guangwu.

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