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São Petersburgo: a janela virada para a Europa está a abrir-se para nova revolução

Por Sousa Ribeiro (texto e fotos)

Desde 2006, São Petersburgo já ganhou quase 500 hectares ao mar no delta do rio Neva e os projectos megalómanos multiplicam-se. Isto numa cidade onde há políticos que se recusam a viver num museu, contrariando as leis defendidas por Pedro, o Grande há mais de três séculos.

São Petersburgo é como uma janela que, todos os dias, pela manhã, se abre para o Ocidente. Já era assim, em 1703, quando Pedro, o Grande, fundou a cidade, com a ambição de abrir a Rússia, virada há seculos ao Oriente, para a Europa que tanto o seduzira nas suas viagens. Hoje, mais de 300 anos depois, São Petersburgo continua a piscar o olho aos países ocidentais e não faltam projectos, espalhados por diferentes quarteirões e pomposamente apelidados de “megaprojectos” ou “projectos do século”, para aproximar ainda mais a capital do Norte a metrópoles como Helsínquia, Paris, Veneza ou Copenhaga.

Para festejar o seu tricentenário, em 2003, São Petersburgo levou a cabo enormes trabalhos de restauração que lhe devolveram o lustro imperial, recordando os tempos em que, relegando Moscovo para segundo plano — durante 200 anos —, era uma urbe que respirava progresso e modernidade. No mesmo ano, Valentina Matvienko tornou-se governadora da cidade e, estando muito próxima do primeiro-ministro Vladimir Putin e do presidente Dmitri Medvedev, ambos nativos de São Petersburgo, não perdeu tempo a anunciar — é considerada uma enérgica dama de ferro nos círculos políticos mas a sua eleição ficou marcada pela suspeição — as suas intenções de modernizar a “Veneza do Norte”, rodeada pelos monumentos barrocos e neoclássicos herdados dos tempos de Pedro I e de Catarina II.

Desde 2006, São Petersburgo já ganhou quase 500 hectares ao mar no delta do rio Neva, na extremidade da ilha Vassilevski, no golfo da Finlândia, para abrigar aquele que será o futuro distrito portuário. Neste espaço, irá nascer a “Fachada Marítima” e um porto com capacidade para receber milhão e meio de passageiros por ano (três vezes mais do que em 2009, por exemplo) e que terá ligações a Moscovo, aos países bálticos e à Finlândia, um projecto estimado em mais 900 milhões de euros.

Numa cidade em verdadeira metamorfose, no seu coração histórico e mesmo nos arredores, todo o conjunto arquitectónico deverá estar terminado em 2020, englobando também uma zona residencial e uma city numa ilhota artificial com uma área de 75 hectares.

Toda esta megalomania, defendida por Valentina Matvienko com o argumento de que os de São Petersburgo não podem “viver num museu”, tem gerado forte controvérsia junto dos habitantes, principalmente entre aqueles que residem na ilha Vassilevski e que compraram os seus apartamentos com vista para o mar (afectada pela construção da zona portuária). Os defensores do ambiente também se queixam dos danos decorrentes dos trabalhos de polderização (entregues a uma empresa holandesa) mas a polémica maior reside num plano confiado, já em finais de 2006, a arquitectos do gabinete britânico RMJM e fortemente criticado por figuras mediáticas e cidadãos anónimos da sociedade civil de São Petersburgo. A Gazprom pretendia levantar uma torre de 400 metros em forma de chama — que será a sede da sua filial petrolífera — num quarteirão de negócios com 66 hectares, na confluência do Neva e do rio Okhta, mesmo em frente à catedral Smolny, obra de arte do barroco. A própria UNESCO admitiu, pouco depois, que a inscrição do centro histórico na lista de Património Mundial (desde 1990) podia estar em risco. As sondagens mostraram que perto de 80% dos cidadãos se manifestavam contra este crescimento que podia estar apenas na sua fase embrionária, receando que, a confirmar-se a construção, mais arranha-céus iriam encher o céu de São Petersburgo, abrindo-se um precedente que as leis, ainda em vigor, proíbem: foram editadas por Pedro I e inviabilizam a construção de edifícios com mais de 48 metros no centro histórico e mais de 100 metros na área que o envolve.

Durante anos num impasse, a vontade dos habitantes acabou por prevalecer e a Gazprom teve mesmo de encontrar outro espaço, longe do centro histórico, para levantar o que será designado como Lakhta Center, baseado nos planos definidos para o Okhta Center mas a uma escala maior.

Também os apartamentos comunitários, conhecidos como kommunalki e uma herança da Revolução de 1917, têm os seus dias contados. Nessa época, há quase cem anos e em nome do colectivismo, a sociedade burguesa foi obrigada a partilhar estes espaços com os “camaradas proletários”. Tão bem caracterizados em alguns filmes, estes apartamentos, ora palco de tensões, ora cenário de gestos de solidariedade, ainda há bem pouco tempo eram habitados por mais de 10% dos cidadãos locais, dividindo entre eles cozinha, casa de banho e retrete.

A avenida do esplendor

Definitivamente, São Petersburgo traça o seu destino. E, todavia, quando se olha para ela, quando se percorrem as suas ruas e se erra pelas suas praças, tudo parece estar ali como sempre esteve, hoje como ontem. A primeira impressão pode não ser a mais positiva, talvez provoque mesmo uma certa tristeza: a pedra é cinzenta, o céu sobre o Neva é cinzento, até muitos dos gatos são cinzentos. Mas aos poucos — e mais ainda se a cortina do céu se abrir para umas horas de sol — São Petersburgo começa a despertar no visitante outros sentimentos e, no final, observados todos os grandes palácios, todas as construções magnificentes, essa agulha dourada do Almirantado, como um farol sobre a cidade, a paixão deverá ser, entre os turistas, a palavra mais utilizada para definir uma nova relação. 

Um sentimento de gratidão enche a alma do visitante quando se avistam e se conhecem na sua intimidade algumas das mais magnificentes atracções — e mais de 80% do que foi construído durante os séculos XVIII e XIX é original. Como o palácio Stroganoff, como a catedral de São Isaac (sem esquecer a praça do mesmo nome), com mais de uma centena de sólidas colunas de granito que pesam cada uma 114 toneladas, como, ainda, a igreja de São Salvador do Sangue Derramado, levantada em 1907 no lugar onde caiu Alexandre II, com os seus bolbos e mosaicos, ou a catedral Kazan, atípica em relação às igrejas de São Petersburgo.

O sol rompe ao início da tarde e a cidade torna-se ainda mais bela do que quando parecia adormecida na sua tonalidade cinzenta. Há também lugares com menos turistas e mais silêncio, envoltos numa atmosfera serena. Aprecio, particularmente, na minha errância também tranquila, a catedral Vladimirsky e, mais distante, a igreja Chesme, em estilo gótico, vermelha e com listas verticais brancas, que surge como uma miragem à distância. Prestando tributo à batalha com o mesmo nome, a sua localização deve-se ao facto de Catarina I se encontrar neste lugar quando teve conhecimento da sua grande vitória sobre os turcos.

A cidade, com todo o seu peso histórico e tão monumental, também nos faz sentir pequenos, vergados à força que emana do mundo da arte, da sua literatura representada, entre outros, por Alexander Pushkin ou o nómada Fiódor Dostoiévsky, que mudou de casa 43 vezes e possibilita, nos dias de hoje, que os turistas (e amantes da sua obra) se passeiem por todo um bairro associado à vida do escritor.

E haverá, no mundo, uma avenida mais literária do que a Névski Prospekt? Leia-se Nikolai Gógol:

“Não há nada mais belo do que a Avenida Névski, pelo menos em Petersburgo; ela é tudo para esta cidade. Não há esplendor que não brilhe nesta artéria, beldade da nossa capital. Sei que nenhum dos seus habitantes pálidos e funcionários públicos trocará a Avenida Névski por todos os bens do mundo. A Avenida Névski arrebata não só quem tenha vinte e cinco anos, mas também todo aquele a quem já cresçam no queixo pêlos brancos e tenha um crânio liso como uma bandeja de prata. E as senhoras! Oh, e às senhoras a Avenida Névski agrada ainda mais. De resto, a quem não agradará ela? Mal entramos na Avenida Névski, cheira-nos a passeio.”

E há a dança (o ballet russo, com Diaghilev e Nijinski no cimo da pirâmide), o teatro Mariinsky e a música, tão intimamente ligada à cidade, referências como Rimski-Korsakov (catedrático no conservatório de São Petersburgo), Tchaikovski (que estudou e veio a falecer nesta cidade), Prokofiev e Stravinski (também estudantes do conservatório), ou mesmo Shostakovic, um filho de São Petersburgo e cuja sétima sinfonia, Leninegrado, foi composta durante o cerco alemão que se prolongou por 900 dias, um dos mais cruéis episódios da história da humanidade, com um saldo de mortos (frio e fome) que superou um milhão.

Um visionário

Pedro, o Grande, tinha apenas nove anos quando foi proclamado czar, pouco depois de assistir ao massacre de toda a sua família. A seu lado, impostos pela guarda palatina, o irmão Ivan V e a sua meia-irmã Sofia, que era quem, de facto, exercia o poder e que ameaçou Pedro de morte — e este logo a encerrou num convento, iniciando, nesses últimos anos do século XVII, o seu reinado. Apostado na abertura da Rússia à Europa, Pedro viajou incógnito pela Prússia, Holanda, Alemanha, Áustria, França e Inglaterra, trabalhando como carpinteiro em arsenais e estudando navegação e o modo de vida europeu.

Em 1698, o czar regressou à Rússia e logo tomou medidas que passaram pelo uso de trajes europeus, cortar a barba, adoptar o calendário juliano e reorganizar o exército e a marinha. O passo seguinte foi encontrar saídas geográficas e, nesse sentido, enfrentou os turcos e conquistou Azov, na foz do rio Don, e empreendeu uma guerra contra os suecos para ter uma janela para o Báltico. É dentro deste contexto que ordena a construção, no pantanoso delta do Neva, da fortaleza de Pedro e Paulo, à volta da qual iria nascer uma nova cidade que o ajudaria a esquecer a tragédia familiar vivida em Moscovo e que marcaria uma nova era — da história moderna da Rússia.

Mas a empresa deste projecto não se revelava fácil: o Neva é um rio curto, com pouco mais de 74 quilómetros mas com uma foz que se estendia por 500 metros, lançando tanta água para o golfo da Finlândia como se fosse o Nilo. Recrutavam-se operários de todos os recantos do Império, tártaros, cossacos, homens de todas as províncias; não se pagavam salários, a deserção e as enfermidades estavam na ordem do dia e a morte multiplicava-se enquanto o rio, vítima do rigor dos invernos no Árctico, não parava de crescer.

Em 1709, os russos derrotaram os suecos em Poltava, colocando um ponto final no domínio destes últimos no Báltico. Milhares e milhares de prisioneiros suecos foram obrigados a trabalhar (e pereceram) na construção do sonho de Pedro e ainda hoje são muitos os que acreditam que, tendo nascido maldita, São Petersburgo acabará, mais dia, menos dia, por se afundar, porque as centenas de ilhas em que se apoia cederão como frágeis nenúfares — uma maldição que se evoca sempre que as águas do rio transbordam e inundam a cidade, o que já aconteceu mais de 150 vezes desde a sua fundação.

Pedro, o Grande, estava mais preocupado com a ostentação e em mimar São Petersburgo com todos os luxos. Em pouco tempo, decretou que todas as casas viradas ao rio teriam de ser construídas em pedra — e o mesmo se aplicava às famílias ricas, com ou sem vista para o Neva. Em 1712, a cidade era uma realidade que enchia de orgulho o czar e em 1725, ano da sua morte, São Petersburgo contava já com mais de 40 mil habitantes. Sucederam-se reinados fugazes, o de Isabel, filha de Pedro, entre 1741 e 1762 (foi ela quem contratou o arquitecto Bartolomeo Rastrelli), o de Pedro III (neto de Pedro, o Grande e apenas no trono durante uns meses) e o de Catarina II, a quem se atribui, embora carecendo de provas, o assassinato do marido, Pedro III. A czarina esteve no poder 34 anos, um período que aproveitou para aumentar a já considerável colecção de arte iniciada por Pedro e a de amantes (para eles mandou construir alguns palácios), mas também para redesenhar a cidade, abandonando o barroco por troca com o neoclássico.

Do apogeu ao declínio

O tempo e a revolução industrial definiam o rumo de São Petersburgo em finais do século XIX. A cidade, ligada a Moscovo por canais, transformava-se, subitamente, num centro onde a indústria se semelhava a um vulcão em erupção, num enxame de fábricas e de mercadorias que tanto chegam transportadas por barcos a vapor como por via ferroviária. Abundavam os funcionários, dando asas à burocracia para manterem as suas funções, os ilustres, os nobres e os pensadores de um pensamento sem limites. O poder, esse, permanecia absoluto mas as sementes da luta contra a autocracia já haviam sido colocadas na terra e difícil se tornava travar o seu processo de crescimento. Sucediam-se as tentativas: em 1825, um grupo, conhecido como os dezembristas, defendia uma sociedade mais aberta, sem preconceitos, disposta a viver sem servos. Sem sucesso — as suas cabeças, pendendo sob a forca, nada mais poderiam exigir, tão pouco clemência. O medo instalara-se, como uma lapa sobre uma rocha, nada prometia mudanças até que, no início do século seguinte, em 1905, o povo saiu à rua para exigir reformas.

Um domingo sangrento

Centenas de manifestantes, protestando pacificamente e dispostos a entregar uma petição ao czar Nicolau II, foram silenciados pelas armas dos militares quando se encaminhavam para o Palácio de Inverno cantando God Save the Czar. Mas 12 anos mais tarde, a 23 de Fevereiro de 1917, quando se podia caminhar sobre as águas geladas do Neva, a população, cheia de fome e órfã de direitos, voltou a expressar o seu descontentamento, primeiro em frente ao Palácio de Inverno, depois em redor das fábricas apelando a uma greve geral. No dia seguinte, mais de 250 mil pessoas vagueavam pelo centro da cidade e o czar, mal a notícia lhe chegou aos ouvidos, mandou restabelecer a ordem pública. Os militares, desta vez, baixaram as armas e caminharam ao lado dos manifestantes — era o fim de 300 anos de dinastia Romanov e de 500 da autocracia czarista e o início de um período ainda mais turbulento, marcado por uma guerra civil e duas guerras mundiais.

E tanto mudou em tão pouco tempo.

Em 1914, com a entrada da Rússia na guerra, São Petersburgo passa a ser Petrogrado; dez anos mais tarde, com a morte de Lenine e numa altura em que a capital já fora transferida para Moscovo, torna-se Leninegrado; em 1991, após um referendo, volta a ser São Petersburgo, uma variedade toponímica que dá azo a anedotas. Durante um censo, um jovem inquire um homem na Avenida Névski:

Onde nasceu? Em São Petersburgo.

Onde frequentou a escola? Em Petrogrado.

Onde vive actualmente? Em Leninegrado

Onde gostaria de viver? Em São Petersburgo.

Mas não foram apenas os nomes que mudaram, também alguns dos lugares mais emblemáticos da cidade passaram a ter outras funções: a imponente catedral de São Isaac, lugar de culto, transformou-se em museu ateísta. E aquele que era o Palácio de Inverno em Hermitage.

E quem, numa visita a São Petersburgo, lhe resiste? Apenas um idiota, com a devida vénia a Dostoiévsky. Se, na cidade, tudo parece envolto por uma aura de grandeza, no museu essa dimensão exacerba-se: são 2500 salas, 24 quilómetros para cá e para lá, mais de três milhões de obras de arte, entre as quais quase 15 mil quadros, mais de dois milhões de visitantes por ano — tudo ao longo de seis majestosos monumentos.

Sobre as margens do Báltico, a escassos quilómetros de São Petersburgo, com a sua fachada pintada de amarelo contra um céu com nuvens, exibe-se, em toda a sua imponência, a Peterhof, a residência de Verão de Pedro, o Grande. Daqui, rodeado de jardins e de lagos, o czar, fundador da marinha russa, dominava o mar que tanto o seduziu ao longo da sua vida. Por esse tempo, as estradas estavam em muito más condições mas esse não era o único motivo pelo qual o czar chegava à sua residência de Verão de barco — era pelo prazer, pela sua forte ligação ao mar e à água.

A partir de 1710, Pedro mobilizou diariamente milhares de operários para criar uma rede de adução de água e desse labor e dessa vontade resultaram mais de vinte quilómetros de canos que ligam as diferentes fontes e repuxos entre elas. Ninguém fica indiferente à Grande Cascata, em frente à entrada do grande palácio, ou à Cascata do Leão, decorada com colunas iónicas esculpidas do granito negro e do mármore e erguida já no século XIX, com mais de 170 repuxos. Quando se olha para o Peterhof, a comparação com Versalhes é instantânea — Pedro, o Grande, convidou um jovem arquitecto francês, Jean-Baptiste Le Blond, claramente influenciado pelo genial André Le Nôtre, para desenhar a estrutura. Vítima de uma morte prematura, Le Blond já havia, no entanto, traçado os planos e, dessa forma, os seus sucessores, o italiano Michetti e o alemão Braunstein, prosseguiram a sua obra.

Um casal, recém-casado, recebe nas mãos duas pombas brancas e logo as liberta. Elas batem as asas e sobem nos céus cinzentos.

- Gorko! Gorko!

Os convidados pedem e homem e mulher, tímidos, bebem vodka e beijam-se tendo como fundo a estátua do Cavaleiro de Bronze, a mais famosa de todas de Pedro, o Grande e imortalizada num poema de Pushkin. A noite cai rapidamente sobre Peter, como os locais a gostam de chamar, no Neva ergue-se uma ponte para deixar passar um navio e as suas águas são a esta hora um espelho frio onde se reflectem todas as luzes de tantas e tantas janelas.

Todas elas viradas para a Europa.

GUIA PRÁTICO

Como ir

 

Para chegar a São Petersburgo terá, forçosamente, de efectuar uma escala noutra cidade europeia. Companhias aéreas como a KLM, a Air France, a Lufthansa ou a Turkish Airlines ligam Lisboa àquela cidade russa com tarifas (bilhete de ida e volta) entre os 200 e os 300 euros. Em alternativa, pode viajar para Moscovo (verificar preços também na Iberia e na Swiss) por cerca de 200 euros e, uma vez na capital, de comboio até São Petersburgo, um total de 650 quilómetros que são percorridos em quatro horas e com um custo (por percurso) entre os 55 e os 65 euros.

Quando ir

São Petersburgo tem os seus encantos em todas as estações do ano. Com um clima húmido continental, a cidade goza de verões quentes (a precipitação é moderada) e de invernos frios. No Verão, entre Junho e meados de Setembro, a temperatura máxima regista uma média de 22 graus (a mínima varia entre os 13 e os 16) mas Agosto é o mês do ano (também em média) com mais chuva. No Inverno, entre Novembro e início de Março, o frio chega em força e os termómetros chegam por vezes aos dez graus negativos.

Onde comer

São múltiplas (e a cada ano que passa com mais qualidade) as opções gastronómicas numa cidade conhecida pela saudável convivência entre receitas ocidentais e do Oriente Próximo. Entre os pratos típicos, não deixe de provar a sopa rassonik, o shaslik, a solyanka (também uma sopa, de carne ou peixe, com tomate), o golobutsi e zakuski, entradas que são oferecidas por quase todos os restaurantes. Para provar comida russa, experimente o Mechta Molokhovets (www.molokhovets.ru), na ulitza Radishcheva, 10, com uma cozinha inspirada no livro de receitas de Elena Molokhovets, A gift to young housewives, um bestseller que conheceu 28 edições entre 1861 e 1914 assinado por uma mulher altamente dedicada aos seus 10 filhos, à igreja ortodoxa e às muitas jovens compatriotas necessitadas de ajuda para governarem as suas casas. Pode também tentar o Kalinka Malinka, na ulitza Italiyanskaya, 5 (coelho à russa), ou, na zona de Vyborg, o extraordinário Staraya Derevnya, na ulitza Savushkina, um pequeno restaurante gerido por uma família e com uma cozinha também focada em antigas receitas (convém reservar e a forma mais fácil de chegar é utilizando o metro até à estação de Chyornaya Rechka e, a partir daqui, qualquer eléctrico que desça a ulitza Savushkina, saindo na terceira paragem). Para quem viaja com um orçamento reduzido e revela paciência no momento de esperar na fila, o melhor é dirigir-se à Stolovaya No 1 Kopeika, na Nevsky pr 25, uma cantina (self-service) aberta 24 horas por dia que serve sempre comida fresca e a preços muito em conta. Numa cidade com restaurantes representativos de tantos países, do Uzbequistão à Geórgia (tente o Tbilisi, na ulitza Sytninskaya, 10), da Arménia ao Líbano, os vegetarianos sentir-se-ão em casa no The Idiot, na nab reki Moyki, 82 — não há um único animal na ementa e não deixe de reparar, nesta verdadeira instituição dos expatriados, na singular publicidade: Dostoevsky loved this place – não seria nem será o único. 

Onde dormir

Se algum dia sonhou dormir num palácio de Verão, São Petersburgo oferece-lhe a possibilidade de materializar o desejo. Pedro, o Grande mandou erguê-lo, em Strelna, a escassos 25 quilómetros do centro da cidade, e Vladimir Putin fez do palácio Constantino, não muito longe do Peterhof (dez minutos de carro), a sua residência oficial, acolhendo os seus convidados bem próximo, no majestoso cinco estrelas Baltic Star Hotel (www.balticstar-hotel.ru), na Beriozovaya al, 3, inaugurado em 2003, por altura das celebrações dos 300 anos de São Petersburgo. Por um duplo, espere pagar entre 70 e 85 euros, por uma suíte entre 125 e 180, por um apartamento presidencial 500 euros e por uma cottage, com sauna e piscina, numa área que se estende por 1200 m2, a curta distância do Golfo da Finlândia, entre 800 e 950 euros.

Após abrir, em finais de 2009, próximo da estação ferroviária, o Hostel Soul Kitchen (www.soulkitchenhostel.com), optou por novas instalações, nas margens do Moika (nab Reki Moyki, 62/2) e relativamente próximo de atracções como o Hermitage e as catedrais de Kazan e de São Isaac. Com vários prémios conquistados ao longo dos últimos anos, é um espaço repleto de charme, com o conforto de um hotel-boutique e preços em conta. O Soul Kitchen dispõe de dormitórios para quatro e oito pessoas (entre 13 e 20 euros por pessoa), todos com cortinas que garantem alguma privacidade, quartos privativos para famílias ou grupos, de duas a cinco pessoas (a tarifa depende da ocupação e varia entre os 30 e os 90 euros) e duplos (entre 35 e 90 euros, dependendo da época do ano).

A visitar

Numa cidade com 2500 bibliotecas, uma centena de museus e 25 teatros, entre outras atracções, difícil mesmo é traçar um plano para desfrutar de tudo quanto oferece São Petersburgo. Não deixe de visitar o Museu Russo, inaugurado por Nicolau II em 1898, com ícones tradicionais e pinturas vanguardistas do século XX — ocupa uma parte do palácio de Mármore, uma obra-prima do neoclássico que Catarina, a Grande, mandou construir para Grigori Orlov, um dos seus amantes. O palácio Tauride (oferecido a outro amante, Grigori Potemkin, herói da guerra da Crimeia) também não deve ser ignorado: os seus salões acolheram o primeiro parlamento russo (Duma), pouco antes da Revolução. Para os amantes da literatura russa, tem a casa-museu Dostoiévski, naquela que foi a sua última residência, a casa-museu Pushkin, onde o escritor viveu durante 30 anos, e, ainda, a casa onde Vladimir Nabokov passou a sua infância e uma parte da sua juventude. Também pode visitar a casa de Pedro I, erguida em 1703 em estilo holandês, o Kunstkammer, que abriga o Museu de Antropologia e de Etnologia ou simplesmente de dar um passeio de barco ao longo dos canais que rasgam a cidade ou de admirar as suas pontes. Para algo diferente, talvez uma saltada ao Museu Erótico, que preserva o pénis de Grigory Rasputin, o monge louco que achava que a vida apenas fazia sentido com pecado (álcool e sexo) e redenção (orações) — o pénis continua a ser alvo de atenções mas não tanto como junto das senhoras da aristocracia da segunda metade do século XIX, conhecedoras dos seus poderes místicos e, mais ainda, dos seus invulgares atributos físicos (30 centímetros, se tiver curiosidade).

Informações

Para visitar São Petersburgo, é necessário ter um passaporte com pelo menos seis meses de validade (conta a partir do momento em que deixar o país) e obter um visto junto da secção consular da embaixada russa em Portugal (apenas possível mediante marcação). O processo, com todas as burocracias, exige alguma paciência mas o recentemente criado centro de vistos (com sede na Rua dos Anjos, 67, em Lisboa, e atendimento ao público de segunda a sexta, entre as 9h e as 17h) contribuiu para uma melhoria na qualidade dos serviços prestados. De resto, para ficar a saber quais os documentos necessários (formulários, fotografias, seguro de viagem, entre outros) aconselha-se uma visita a www.consul.embrussia.ru/pt ou à página do centro de vistos www.vhs-portugal.com.

A moeda é o rublo — um euro equivale a 74 rublos. Um pouco por todo o lado, em São Petersburgo, encontrará caixas multibanco (são possíveis levantamentos em rublos, dólares americanos e euros mas deve ter em atenção os valores das taxas de serviço cobradas), bem como casas de câmbio (apenas são aceites notas em perfeitas condições). Hotéis, restaurantes e as maiores lojas de comércio aceitam cartões de crédito/débito.

O russo é a língua oficial mas não terá dificuldade em encontrar, pelo menos entre a população mais jovem, quem fale inglês, francês ou alemão.

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