Começa a corrida aos mercados para comprar “os verdes” e os ingredientes para os pratos tradicionais (que culmina na Noite do Mercado, a 23 de Dezembro, quando o icónico Mercado dos Lavradores e as ruas circundantes se enchem até de madrugada para compras de última hora, o tradicional concerto de cânticos de Natal, comes e bebes, animação e muito convívio). Os bolos de mel e a carne de vinha d'alhos, iguarias da época na Madeira, começam por esta altura a ser preparados em família, convidam-se os vizinhos para fazê-lo em conjunto. Há quem já tenha armado a lapinha (presépio) e, a partir de dia 16, decorrem as tradicionais Missas do Parto, sempre seguidas de convívio no adro da igreja, com música e "mata-bicho" feito de aguardentes, licores, broas e bolos.
“Em Lisboa, por exemplo, parece que o Natal são dois dias, às vezes nem isso porque há quem trabalhe na manhã de 24 e no dia 26 já esteja de volta ao emprego. Aqui, os madeirenses conseguiram transformar o dia de Natal no mês do Natal”, compara Roberto Santa Clara. O arranque oficial é dado pelo acender das iluminações e a festa arrancou, verdadeiramente, no dia 11, com a abertura das principais atracções na Avenida Arriaga e as primeiras actuações musicais.
Das janelas do hotel já tínhamos visto as luzinhas brancas do quadro-presépio do anfiteatro do Funchal. Agora descemos até à baixa da cidade, onde o Natal se enche de cor e de vida. As árvores abraçam-se de lâmpadas ora rosas, ora azuis, vermelhas ou brancas. Pelas artérias pedonais há tectos com franjas de luzes e bolas penduradas; alguns largos iluminam-se com bancos em forma de estrela que vão mudando de cor; as ribeiras reflectem um arco-irís garrido.
Na Praça do Povo, uma árvore de Natal com 30 metros de altura e riscas largas em vermelho, branco e azul divide atenções com o encarnado vivo do cais, ali ao lado. As ruas estão cheias de gente, madeirenses e turistas, e para onde quer que olhemos há alguém a reunir o grupo para uma fotografia ou casais que se beijam para selfies com as decorações. Aqui e ali, ouvem-se comentários sobre a iluminação, a maioria parece contente com o resultado.
A Avenida Arriaga, apesar de repleta de pessoas, ainda vivia o Natal a meio gás. Agora, já será ali o centro nevrálgico das festividades, dividindo-se entre o Jardim Municipal (onde está instalado um comboio e casinhas de madeira que fazem as delícias dos miúdos), a placa central (onde vimos acabar de montar o presépio com figuras à escala humana e a decoração das 14 barracas do mercadinho de Natal), o Largo da Restauração (que mais uma vez terá a reconstituição de uma aldeia etnográfica) e o jardim norte do Palácio de São Lourenço (palco de metade dos concertos, que decorrerão igualmente na placa central).
"É um convívio muito giro. Antes e depois do jantar, toda a gente se encontra aqui", conta Isabel Borges, responsável pela decoração da placa. Este ano, as casas cobriram-se de padrões em xadrez, as figurantes – "o mais importante de um evento meu", define – terão saias de folhos com 300 galhos de verduras, azevinhos, espinhos, pinhas e pompos vermelhos.