Roubaix, a cidade industrial que uma piscina-museu fez renascer
Roubaix, situada 15 quilómetros a norte de Lille, ficou conhecida na região como “a cidade das mil chaminés”, cognome surgido com a indústria têxtil que a construiu. Mais de 95% da população local trabalhava então nas fábricas e vivia ainda aglomerada em bairros operários com parcas condições de higiene quando, em 1932, o presidente da autarquia decidiu construir uma piscina e banhos públicos acessíveis a todos. “Tinham de pagar entrada, mas era muito barato e podiam tomar banho durante 20 minutos”, começa por contar Ingrid Wacheux, guia do La Piscine Musée d’Art et d’Industrie André Diligent, o iPad sempre pronto para mostrar fotografias antigas.
“A ideia era que a piscina fosse como um templo”, descreve, onde não faltavam luxos como mármores importados da Bélgica, duches para homens e para mulheres, sala de pesos, lavandaria, cabeleireiro ou um jardim verdejante rodeado pelas paredes do edifício, “como o claustro de um mosteiro”, para que os operários pudessem ouvir finalmente o silêncio. Foi ali que grande parte da população aprendeu a nadar, até que o idílico edifício em Art Decó encerrou em 1985, porque o tecto começava a ruir. A procura de um local para instalar um museu de arte e de indústria em Roubaix devolveu a velha piscina à cidade em 2001.
E é quando já conhecemos toda a sua história que por fim a vemos, agora um estreito corredor de água ladeado por alguma estátuas do museu, para as quais nem olhamos, atraídos pelos enormes vitrais que desenham o nascer e o pôr do sol, pelas varandas brancas, pelos mosaicos no rebordo da piscina “inspirados na pintura japonesa A Grande Onda de Kanagawa”, pela fonte de Poseidon (ou Neptuno) que ainda goteja sobre o espelho de água e que era o ponto de encontro da população que, desconhecedora de mitologias, apelidava-a simplesmente de leão.
Só depois, e talvez porque Ingrid é uma contadora nata das pequenas histórias, é que descobrimos as peças do museu, percorremos as salas com os velhos catálogos dos tecidos produzidos na região, as pinturas de Rémy Coggie, as esculturas de Rodin e Camille Claudel, as peças de cerâmica, os desenhos ou a exposição temporária com obras de Marc Chagall. “Quando eu era pequena, a cidade era suja, cheia de fábricas velhas e muita gente desempregada. Agora começa a ser uma cidade de cultura”, diz Ingrid, de 25 anos, num entusiasmo que não desarma.
Lens, a cidade mineira que o Louvre pôs no mapa
Uma história semelhante espera-nos um pouco mais a sul. Uma cidade pobre, que a geografia transformou num palco de guerra sucessivamente destruído, que o declínio da indústria mineira votou ao esquecimento dos tempos. Uma cidade pobre, que procura agora renascer assente na história (há vários cemitérios e monumentos em homenagem às vítimas da guerra, principalmente da I Guerra Mundial, espalhadas pela região e núcleos museológicos que contam o passado mineiro da urbe), na gastronomia regional e na produção artesanal de cerveja, num novo e moderno museu que a chancela Louvre pôs definitivamente no mapa.