Praticante de autocaravanismo há mais de 16 anos, João Ramos carrega garrafões de água para abastecer a "mini-casa" sobre rodas estacionada no parque para autocaravanas em Porto Covo, Sines, enquanto a mulher prepara o almoço.
Equipada com quarto, casa de banho, cozinha, televisão, água quente e energia obtida através de painéis solares, a autocaravana permite a este casal de reformados de Torres Vedras viver semanas ou meses "com todas as condições", desfrutar da natureza, conhecer o país, não ter horários para cumprir, evitar hotéis e fazer amizades ao longo dos anos.
"Esta já é a segunda autocaravana que tenho. Gosto de praticar autocaravanismo, porque é uma liberdade total. Como estou reformado e a minha esposa também gosta muito, optamos por andar com autocaravana e apreciar a natureza: hoje estamos aqui, amanhã vamos para o Algarve, noutro dia estamos noutro lado: é, de facto, uma liberdade total", diz à agência Lusa o antigo comerciante de fruta, de 64 anos.
No parque de terra batida e seca pelo sol, disponibilizado pela junta local, estão mais de 20 de autocaravanas ou caravanas (carro com reboque), muitas com matrícula estrangeira.
João Ramos conta que no último fim-de-semana o espaço estava lotado, uma realidade cada vez mais frequente, pois o número de praticantes deste "modo de vida" está a crescer.
"Só é pena que as nossas autoridades não olhem bem para o turismo itinerante, porque deixa dinheiro em todo o lado. Uma autocaravana, normalmente, tem duas pessoas. Cem autocaravanas são mais de 200 pessoas que estão naquela localidade, e têm de gastar pão, leite, vão muito a restaurantes e tudo isso leva dinheiro às povoações. E há zonas muito pobres, mais do interior, aonde as autocaravanas dão movimento", vinca o sexagenário.
O pó levanta-se e o silêncio é quebrado pela chegada de outra autocaravana, enquanto na outra ponta do parque está um casal sentado à volta de uma mesa, protegido pelo toldo.
Vanessa Marcelino, 29 anos, e o marido, rumaram de Lisboa na autocaravana dos pais para aproveitarem umas férias.
"Não temos um destino certo, acaba por ser mais vantajoso em relação a preços de hotel, não ficamos tão presos ao mesmo sítio e viajamos. Acaba por ser compensador, conhecemos vários sítios e o alojamento acaba por ser mais barato", afirma a educadora de infância.
A jovem reconhece uma maior abertura de algumas localidades na receção e na criação de condições para os autocaravanistas, mas bem perto dali já vivenciou o contrário.
"Em [Vila Nova de] Mil Fontes acabámos por ser corridos ainda esta semana. Começaram a pôr grades e os autocaravanistas tiveram de vir todos embora. Aqui em Porto Covo somos bem acolhidos, acabamos por movimentar a vila e temos aqui tudo", explica a professora.
A cerca de três quilómetros, junto a uma falésia, encontram-se mais autocaravanas. Uma das quais pertence a Fernando Santos, reformado, emigrante em França. Acompanhado pela mulher, aproveita a vista para o mar para pôr a leitura em dia e desfrutar da paisagem.
Autocaravanista há mais de duas décadas, o antigo condutor de autocarros, de 60 anos, considera que as pessoas e as autarquias portuguesas estão mais sensibilizadas para este "fenómeno", que é praticado sobretudo por uma "classe média alta", a partir dos 60 anos.