Fugas - Viagens

  • Filipe Farinha/Stills
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Bem-vindos não só ao Conrad mas também ao Algarve

Por Maria João Lopes

Os viajantes já não procuram só o luxo dos hotéis. Procuram experiências únicas nos locais onde estão. O Conrad está a apostar nesses programas. Por exemplo: já brincou no mar com um cão de água?

Assim que se chega ao Conrad Algarve não há que enganar. Ou melhor, não há nada que não nos surpreenda. Uma entrada majestosa, um branco que contrasta com o céu azul algarvio, um luxo que se espalha pelos detalhes, decoração, obras de arte, quartos com banheiras onde apetece tomar banho de imersão, varandas, jardins, piscinas, aquecidas ou não, exteriores ou não, uma suíte com piscina interior e direito a mordomo.

O hotel está cheio de histórias de hóspedes da realeza, de famosos que por ali passaram. Os responsáveis não revelam os nomes. O segredo, nestes casos, também é alma do negócio. Apenas contam, por alto, algumas extravagâncias: há quem chegue e peça, por exemplo, para tirar as mobílias dos quartos, querem espaço só para sapatos, só para roupa, há quem chegue com 150 malas.

O hotel tem tudo, é grande por dentro, grande lá fora, na zona ao ar livre. Tem spa, claro, e nós fomos experimentá-lo. Experimentámos tudo, aliás. Tudo o que o hotel tem para oferecer e, ainda, os mais recentes programas que os responsáveis da cadeia estão a criar em várias partes do mundo. A ideia é que os viajantes possam usufruir do que é mais genuíno no Algarve, de experiências diferentes em Tóquio, de alternativas em Nova Iorque, entre muitos outros lugares do mundo. Que levem na bagagem histórias dos sítios onde estiveram para contar e não apenas o conforto das almofadas do hotel, a maciez dos roupões ou o mergulho numa das piscinas.

No nosso caso, entre outras actividades, perdemo-nos na gastronomia — tanto fomos almoçar à Casa dos Presuntos, comida local, como experimentámos cozinha de autor; fomos passear para a ria Formosa e percebemos como se apanham ligueirões. Entrámos nas águas da ilha Deserta (onde vive apenas um homem, com quem infelizmente não nos cruzámos e não pudemos conversar), comemos no único restaurante que lá há e, depois, mesmo que a temperatura do mar não estivesse ainda no seu melhor, demos o nosso primeiro mergulho do ano ao lado de cães de água que brincaram e nadaram connosco.

Visitámos ainda a Novacortiça. Dentro desta fábrica de cortiça, funcionários de batas azuis tiram, cortam, põem, voltam a tirar e a colocar em diferentes máquinas pedaços de cortiça. Parece um circuito barulhento de máquinas, umas circulares, outras que cortam, uma dança no fim da qual saem discos que vão parar, mais tarde, a garrafas de champanhe como Dom Pérignon e Moët & Chandon. Há armazéns cheios de sacos e sacos com discos lá dentro.

Fomos de jipe até lá, pela rota da cortiça, o cheiro do Algarve mais profundo, passar aos solavancos nas ribeiras, ver animais a pastar, baixar-nos quando os ramos das árvores se cruzam com a nossa cabeça levantada para ver a paisagem, de terra cor-de-laranja. No fim do almoço na Casa dos Presuntos (onde comemos muitos pratos, o nosso preferido foi o arroz de polvo), só se ouviam as cigarras que nem chegam a quebrar o silêncio, parece que fazem parte dele ou que fazem dele mais silêncio ainda. 

Mas há outras propostas, para além daquelas que experimentámos. Há programas diferentes que se ajustam à disponibilidade do cliente. O conceito chama-se Never Just Stay.Stay Inspired, as experiências podem ser de uma, três e cinco horas, e estão disponíveis através da mobile app Conrad Concierge e no site stayinspired.com.

Inquietação

Admitimos que o passeio que implicava a apanha da amêijoa — que acabou por ser lingueirão — nos estava a inquietar. Tínhamos visto no site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera que a apanha de bivalves estava interdita. Mostrámos o nosso telemóvel ao responsável do barco, ele ligou para a capitania local. Confirma-se: tudo interdito. Mas havia uma justificação para a actividade: nós só íamos aprender como se apanha, não íamos comer.

No nosso caso, com os pés enfiados numas galochas e um vento desgraçado, só conseguimos foi matar um lingueirão. Mas aprendemos, só de ver quem sabe, como se faz: um buraco na areia, deita-se sal, espera-se que o bicharoco salte cá fora e, zás, temos de apanhá-lo, com alguma mestria e não da forma atabalhoada como nós — Fugas — fizemos. Não os levámos, não os comemos, voltámos a deixá-los na ria. A única excepção — e que, segundo a organização, estava autorizada nesse dia — foi um conjunto de travessas de ostras, acompanhadas de champanhe, que nos serviram e que comemos ali na hora.

Com os nossos melindres, nem de propósito, ficámos doentes à chegada a Lisboa. Atenção, nada em que se possa estabelecer causa-efeito. E o que vale é que a febre surgiu já longe do sol do Algarve e pudemos aproveitar tudo: as piscinas exteriores aquecidas, o jacuzzi e até uma massagem no spa.

Esta parte não foi menos cómica do que a nossa falta de jeito para apanhar lingueirões. Antes da massagem, tínhamos de preencher um questionário para que as técnicas pudessem perceber o nosso estado de saúde física e mental. A todas as perguntas do género “sente-se preocupada, sente-se exausta, precisa de mimo (esta fez-nos rir), tem o sono perturbado, e por aí fora, respondemos sempre que sim e responderíamos a muito mais se isso nos fizesse usufruir de uma massagem milagrosa. Em vez de motivo de preocupação, foi, claro, motivo de gargalhadas no meio do silêncio zen do spa, onde não faltam piscinas, jacuzzi, banho turco…Perguntei, divertida, à técnica: “Parece-lhe que estou a exagerar?” Respondeu-me: “Não, mas no seu caso, se calhar, precisava era de uma semana inteira no spa.”

Enfim, foram dias de sol e de luxo: os primeiros mergulhos ainda em Maio no mar e nas piscinas, mojitos, champanhe, comida de autor, pratos que parecem pinturas — por exemplo, no Gusto, do chef três estrelas Michelin Heinz Beck —, festas com malabaristas, graffiters a pintar ao vivo, música, dançarinos, aulas em que aprendemos tudo o que continuamos a não saber sobre vinho, a não ser que podem ser descritos de forma criativa e todos os adjectivos são bem-vindos.

O primeiro vídeo que nos mostraram assim que chegámos ao Conrad, sobre o conceito Never just stay, stay inspired, tinha como banda-sonora uma versão da música imortalizada por Nina Simone, Feeling Good. Felizmente foi assim que nos sentimos nos quatro dias em que lá estivemos, usufruímos do hotel e do programa paralelo que pretendia mostrar outras belezas e curiosidades algarvias. As experiências foram, de facto, diferentes. E até a massagem nos fez bem, embora a técnica tivesse razão: precisávamos de uma semana inteira de spa para nos resolver todas as mazelas do corpo e do espírito. Fica para a próxima oportunidade.

Conrad Algarve
Estrada da Quinta do Lago
8135-106 Almancil
Algarve, Portugal
Tel.: 289 350 700
www.conradalgarve.com
O melhor é consultar as tarifas no site, porque variam consoante a época do ano e os quartos. Segundo os responsáveis do hotel, o preço médio rondará os 250 euros.
Sobre os programas e respectivos preços, mais informações em stayinspired.com

A Fugas esteve no Algarve a convite do Conrad Hotel

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