Nem as obras conseguem esconder as velas içadas das 20 embarcações atracadas no Passeio dos Sete Mares, entre Santa Apolónia e o Terreiro do Paço. "Ver Lisboa assim tem um outro encanto", descreve Tiago, no momento em que a embarcação finalmente lança a âncora. As entradas no porto continuam. São 10h00 quando chega o Amerigo Vespucci, o veleiro italiano construído em 1931 e usado como navio-escola. Os visitantes que já conseguiram entrar no recinto da The Tall Ships Races 2016 estão atentos às manobras de acostagem desenvolvidas pela embarcação. Depois do sucesso da acostagem, que durou menos de uma hora, a equipa formada por 250 tripulantes e 100 cadetes pisa Lisboa. Vicenza Rotini faz parte da equipa da lavandaria a bordo e está curiosa. Nunca visitou a cidade e vai aproveitar para partir à descoberta.
Antes da sua viagem por terras lusitanas, a italiana é já uma “atracção”. Vestida com farda branca é solicitada para selfies em frente à embarcação, que só pode ser visitada a partir das 16h00. Uma das visitantes que aproveita o momento é Fernanda Fernandes. Vive na Suíça, mas veio passar férias a Portugal. Juntamente com o filho e o marido, espera ansiosamente visitar oAmerigo Vespucci. “É a primeira vez que venho, mas quero muito conhecer esta embarcação, até porque falo italiano e quero conversar com os tripulantes”, conta.
Uma aventura que perdura há 60 anos
“Queremos dar aos visitantes a oportunidade de viver a aventura do mar”. Quem o diz é Carlos Messias, o director de marketing e comunicação do evento. Para isso, este ano a The Tall Ship Races tem mais actividades paralelas à visita dos navios. Numa iniciativa denominada Ocean Experience, há desportos como a esgrima lusitana, tiro ao alvo, yoga, escalada e atá a possibilidade de os visitantes fazerem um baptismo de mergulho ou um passeio pela cidade. Também este ano é especial por outro motivo. A The Tall Ships Races comemora o 60.º aniversário e tudo começou em Lisboa.
Decorria o ano de 1956 e Lisboa recebia a primeira edição, acolhida pelo engenheiro Luís Lobato, também fundador da Aporvela. A regata inicial tinha a missão de dar alguma utilidade aos navios de vela que perdiam protagonismo face ao surgimento das embarcações a vapor. Mas ainda há um outro objectivo que se mantém nos dias de hoje: dar orientação a jovens, tanto de estratos socio-económicos mais desfavorecidos como com melhores condições económicas. “Queremos que tenham novas perspectivas de futuro a partir da arte de marinharia e do treino de mar”, afirma Carlos Messias. Para tal, a Aporvela e outras organizações comparticipam a viagem de jovens dos 15 aos 25 anos. “Basta explicar o porquê de querer embarcar”, revela. “Muitas vezes, chegam-nos sem um projecto de vida. Depois acabam por ir para a Escola Náutica e tiram cursos ligados ao mar”, exemplifica Carlos Messias.
Essa é uma das missões da Caravela Vera Cruz, a réplica do século XV construída em 2000 por ocasião dos 500 anos dos descobrimentos no Brasil, refere Filipe Costa, o director de operações da Aporvela. “É uma réplica por fora, mas por dentro está actualizadíssima”, destaca logo o director de operações da Aporvela, que se movimenta do leme ao convés, já repleto de visitantes. Esta é uma época do ano muito ocupada para Filipe. Todos os verões, cerca de 300 jovens vão para o mar, navegando por Cadiz, Corunha, França ou Canadá. “Fazem um trabalho de verdadeiros marinheiros”, sublinha Filipe, referindo os serviços ao leme ou a pôr a mesa. Também é gratificante que a Caravela Vera Cruz se tenha tornado numa “pequena embaixada portuguesa”. “Onde quer que vamos temos um mar de gente, tal e qual como hoje”, diz apontando para a fila de entrada.