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O Porto que se põe aos pés da Ponte da Arrábida

Por Cristiana Faria Moreira

A Arrábida oferece agora um novo passeio a quem quiser descobrir “a vista mais secreta” sobre a cidade.

Pelo meio da neblina ou da luz de um sol que se põe lá ao fundo, percorrem-se os 262 degraus escondidos no arco da Ponte da Arrábida. Subir uma arcada a 65 metros de altura pode dar aquele friozinho na barriga, mas quem já arriscou diz que a experiência é para repetir. Afinal, não é todos os dias que se tem o Porto aos pés.

 O projecto é da Porto Bridge Climb e abriu ao público no dia 24 de Junho. No final da primeira semana, mais de 300 pessoas tinham escalado o arco da Ponte da Arrábida. Um mês depois da abertura, mais de mil visitantes puderam ver o velho casario estender-se até ao mar.

Lá em cima, as duas margens do Douro desenham-se de uma outra perspectiva que mesmo as mais bonitas vistas para a cidade, como a do Miradouro das Virtudes ou da serra do Pilar, não conseguem alcançar. É essa a visão de um casal de turistas holandeses que, durante uma corrida matinal na Rua do Ouro, encontrou, por um acaso, a Porto Bridge Climb. “Para os portuenses deve ser muito engraçado ver a sua cidade desta forma”, diz Jurgen Meerkerk. É “uma experiência para repetir”, remata Emma van Bruggen. Apesar do seu apelido significar, literalmente, “debaixo da ponte”, a holandesa está a 65 metros de altura, no meio do rio Douro. Para lá da contemplação, o guia que os acompanha apresenta os pináculos de edifícios emblemáticos como a Torre dos Clérigos e a Igreja da Lapa, com a serra do Pilar ou a Foz no horizonte.

 A escalada à ponte é uma viagem ao passado e um encontro de gerações. Muitos sobem pela adrenalina; outros regressam para recordar os tempos em que subiam o arco clandestinamente, muito antes de existirem as escadas. “Houve gente que andou aqui a caminhar pela treliça. Era uma coisa que se fazia, aquela coisa dos grupos”, conta Pedro. “Eu já subi quando era clandestino, agora espero conseguir gerir as vertigens”, diz sorrateiramente um dos elementos do grupo que se prepara para subir.

“É bom dinamizar estes espaços”, diz João Oliveira, um dos visitantes. Foi o que pensou Pedro Pardinhas, economista de profissão, quando lhe surgiu a ideia de reabilitar os elevadores da Ponte da Arrábida que estavam desactivados há muitos anos e, assim, “devolver um monumento à cidade”.

A partir daí, começaram as conversações com as Infra-estruturas de Portugal (IP) para apresentar um projecto que seria o de fazer um circuito turístico fechado entre a Ponte Luís I e a Ponte da Arrábida. Mas depois de uma ideia um tanto ou quanto rebuscada, o economista lembrou-se do arco. “Há escadas, há corrimão, põe-se um cabo, sobe-se.” Uma ideia simples que começou a ser planeada em Janeiro do ano passado. O processo foi mais longo do que o previsto e estendeu-se à Direcção-Geral do Património Cultural porque a Ponte da Arrábida é reconhecida como monumento nacional desde 2013.

Cá em baixo, os visitantes colocam os arneses, ouvem as explicações do guia relativas às questões de seguranças. O arnês, o corrimão, o cabo de vida e a fila indiana são o suficiente para uma subida segura e tranquila.

Três amigos saltam logo para a linha da frente na fila para a subida. Um deles é Pedro Cunha, que sobe pela segunda vez a Ponte da Arrábida. Desta vez, chega com os amigos Faisal e Kristine. Ele é da Jordânia e ela dos Estados Unidos, mas vivem em Portugal desde 2014. “No início da subida parece que tens medo, mas depois quando desces só queres é voltar”, partilha Pedro. Os amigos estão mais receosos. Afinal, olhar para a imponente estrutura de betão que se ergue à nossa frente impõe respeito. “Estou com borboletas na barriga, mas estou entusiasmada”, confessa Kristine. Mas são só escadas e é mais fácil do que subir a Torre dos Clérigos, é a garantia dada por quem termina a descida.

Selfies, obviamente

A primeira semana de abertura ao público foi uma surpresa: “Eu não estava preparado para que as coisas andassem tão rápido e que houvesse tanta gente interessada. Há muita gente a querer reservar”, refere Pedro Pardinhas. Por dia são feitas dez subidas entre as 13h45 e as 20h30, em grupos com o máximo de 13 pessoas. “Era importante cobrir o pôr do sol e, por isso, ter mais visitas ao fim da tarde. A luz é mais bonita e as pessoas apreciam mais”, acrescenta. Ou então para quem procura um final de tarde diferente, depois de um dia de trabalho.

 No início da visita são recolhidos os telemóveis e as máquinas fotográficas para evitar “acidentes”. Já lá em cima são devolvidos para que os visitantes possam tirar dezenas de fotografias e de selfies, já que o momento merece ser eternizado. Alguns perdem-se entre conversas. Outros, simplesmente, perdem-se pela paisagem, como se estivessem suspensos pelos seus pensamentos.

 João Oliveira vive na margem de Gaia e estava ali a subir a ponte no dia do seu aniversário. “Foi uma surpresa da minha filha e da minha mulher”, conta. Lá em cima, mesmo por baixo do tabuleiro onde, por dia, passam milhares de veículos, o ruído é quase inexistente. “Somos só nós e a paisagem. É bom estar cá, é mesmo como se fosse uma fuga”, remata o gaiense.

A maioria dos visitantes, cerca de 95%, é portuguesa. Os turistas vão aparecendo “por acaso” porque estão ali de passagem ou vêem as pessoas a escalar a ponte. Muitos vão aparecendo sozinhos, a pares ou em grupos de empresas e de amigos. A subida é permitida dos 16 aos 79 anos e a quem estiver disposto a pagar 9,50 euros de segunda a sexta-feira e 12,50 euros ao fim-de-semana.

“De baixo dá a sensação de que os arcos são mais estreitos”, constata Anabela Martins, estudante de Farmácia da Universidade do Porto que, com mais quatro amigos, resolveu subir a ponte ao final da tarde.”Valeu a pena. Fica a experiência”, remata Diogo.

“As pessoas são muito espontâneas”, observa Pedro Pardinhas. Há as que chegam com algum receio, mas ainda não houve ninguém que não tenha conseguido subir. “Há pessoas que sentem isto como a superação de um receio”, remata.

Também os amantes da engenharia se perdem pelos pormenores da ponte nos quais a maior parte das pessoas não repara. “Chegam pessoas que têm uma ligação afectiva à ponte porque estiveram aqui, tiveram familiares na sua construção ou porque os pais fotografavam isto regularmente”, refere Pedro.

Passaram 63 anos desde o início da construção da travessia entre as duas margens do Douro, que demorou sete anos para ficar concluída. O projecto de Edgar Cardoso incluiu um processo construtivo inovador para a época, com a utilização de um cimbre suspenso para fazer, na altura, o maior arco de betão armado do mundo, com 270 metros.

A subida da arcada vai poder fazer-se nos próximos dez anos, duração da concessão da ponte à Porto Bridge Climb. No total, foram gastos 30 mil euros no sistema de segurança, nas obras do anexo que vai servir de recepção, nas casas de banho e na comunicação da empresa.

Para Pedro Pardinhas falta agora avaliar as condições meteorológicas para a subida à ponte durante o Inverno. Para já, há uma novidade: a subida à ponte nas noites de lua cheia. A próxima é já no dia 18 de Agosto. Mas se o luar tem um encanto, também os primeiros raios de sol da manhã merecem ser contemplados. Às seis da manhã do dia 7 de Agosto (amanhã), há encontro marcado na ponte da Arrábida.

Texto editado por Sandra Silva Costa

Porto Bridge Climb
Rua do Ouro, 680, Porto
Tel.: 929 207 117
Email: info@portobridgeclimb.com
www.portobridgeclimb.com
Preços: de segunda a sexta-feira: 9,50€; sábados, domingos e feriados, 12,50€.

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