Pelo meio da neblina ou da luz de um sol que se põe lá ao fundo, percorrem-se os 262 degraus escondidos no arco da Ponte da Arrábida. Subir uma arcada a 65 metros de altura pode dar aquele friozinho na barriga, mas quem já arriscou diz que a experiência é para repetir. Afinal, não é todos os dias que se tem o Porto aos pés.
O projecto é da Porto Bridge Climb e abriu ao público no dia 24 de Junho. No final da primeira semana, mais de 300 pessoas tinham escalado o arco da Ponte da Arrábida. Um mês depois da abertura, mais de mil visitantes puderam ver o velho casario estender-se até ao mar.
Lá em cima, as duas margens do Douro desenham-se de uma outra perspectiva que mesmo as mais bonitas vistas para a cidade, como a do Miradouro das Virtudes ou da serra do Pilar, não conseguem alcançar. É essa a visão de um casal de turistas holandeses que, durante uma corrida matinal na Rua do Ouro, encontrou, por um acaso, a Porto Bridge Climb. “Para os portuenses deve ser muito engraçado ver a sua cidade desta forma”, diz Jurgen Meerkerk. É “uma experiência para repetir”, remata Emma van Bruggen. Apesar do seu apelido significar, literalmente, “debaixo da ponte”, a holandesa está a 65 metros de altura, no meio do rio Douro. Para lá da contemplação, o guia que os acompanha apresenta os pináculos de edifícios emblemáticos como a Torre dos Clérigos e a Igreja da Lapa, com a serra do Pilar ou a Foz no horizonte.
A escalada à ponte é uma viagem ao passado e um encontro de gerações. Muitos sobem pela adrenalina; outros regressam para recordar os tempos em que subiam o arco clandestinamente, muito antes de existirem as escadas. “Houve gente que andou aqui a caminhar pela treliça. Era uma coisa que se fazia, aquela coisa dos grupos”, conta Pedro. “Eu já subi quando era clandestino, agora espero conseguir gerir as vertigens”, diz sorrateiramente um dos elementos do grupo que se prepara para subir.
“É bom dinamizar estes espaços”, diz João Oliveira, um dos visitantes. Foi o que pensou Pedro Pardinhas, economista de profissão, quando lhe surgiu a ideia de reabilitar os elevadores da Ponte da Arrábida que estavam desactivados há muitos anos e, assim, “devolver um monumento à cidade”.
A partir daí, começaram as conversações com as Infra-estruturas de Portugal (IP) para apresentar um projecto que seria o de fazer um circuito turístico fechado entre a Ponte Luís I e a Ponte da Arrábida. Mas depois de uma ideia um tanto ou quanto rebuscada, o economista lembrou-se do arco. “Há escadas, há corrimão, põe-se um cabo, sobe-se.” Uma ideia simples que começou a ser planeada em Janeiro do ano passado. O processo foi mais longo do que o previsto e estendeu-se à Direcção-Geral do Património Cultural porque a Ponte da Arrábida é reconhecida como monumento nacional desde 2013.
Cá em baixo, os visitantes colocam os arneses, ouvem as explicações do guia relativas às questões de seguranças. O arnês, o corrimão, o cabo de vida e a fila indiana são o suficiente para uma subida segura e tranquila.
Três amigos saltam logo para a linha da frente na fila para a subida. Um deles é Pedro Cunha, que sobe pela segunda vez a Ponte da Arrábida. Desta vez, chega com os amigos Faisal e Kristine. Ele é da Jordânia e ela dos Estados Unidos, mas vivem em Portugal desde 2014. “No início da subida parece que tens medo, mas depois quando desces só queres é voltar”, partilha Pedro. Os amigos estão mais receosos. Afinal, olhar para a imponente estrutura de betão que se ergue à nossa frente impõe respeito. “Estou com borboletas na barriga, mas estou entusiasmada”, confessa Kristine. Mas são só escadas e é mais fácil do que subir a Torre dos Clérigos, é a garantia dada por quem termina a descida.