Fugas - Viagens

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Olhão: O sotavento algarvio está a rejuvenescer

Por Joana Júdice

Em Agosto e Setembro, quando meio Portugal se refugia a Sul, vamos contar histórias e revelar alguns segredos do Algarve. Começamos pela descoberta das ruelas de Olhão.

Renascido das sombras vazias de um território esquecido e envelhecido, o Al-Gharb ou Algarve veste-se com um novo rosto lavado e juvenil, cuidando das suas feições singulares e carismáticas, com especial delicadeza e autenticidade. Entre as ruas estreitas e de sangue mouro, remotamente inspiradas na ordem geométrica e arquitectadas com jogos de luz, novas portas e janelas se abrem com negócios que unificam a tradição e a frescura moderna num twist irreverente que vai dar que falar. Se está de férias pela zona do Sotavento existem novas paragens obrigatórias no seu roteiro. Comecemos por Olhão, a aldeia a renascer.

Deambule pela boémia zona antiga de Olhão, reabilitada em novos espaços de turismo rural e aluguer turístico e delicie-se com as grelhas de sardinhas e carapaus frescos a assar em cada esquina. O passeio está repleto de surpresas particulares, com as casas tipicamente decoradas com mosaicos arabescos, de porte pequeno e modesto, reabilitadas para turismo rural, rodeadas por ruas, com a largura de uma mesa, que se enchem de sombra refrescante nos dias de Verão. As portas não se fecham e as janelas estão sempre abertas. Os residentes cozinham, cosem e fazem a sua vida, sem segredos por guardar.

E, entre ruas e ruelas, esquinas e janelas, para terminar (ou começar) de boca afinada, disfrute dos melhores petiscos algarvios pela mão de Emília Graça dos Santos, 80 anos, na modesta tasca algarvia À do Fernando.

“Ó filha, desde quando cozinho? Desde que me lembro de ser. Tinha antes um outro negócio, com o meu marido, que já faleceu, tive depois outro com o meu outro filho e agora este com a minha filha e neto”, conta a artista do restaurante com um sorriso acolhedor, enquanto descasca batatas com perícia.

Apenas conhecida por locais, ou pelos transeuntes que se albergam nestas novas casas, Emília é uma artista da culinária portuguesa, com muitos anos de experiência e dedicação.

“A nossa comida é sobretudo a frescura e qualidade dos ingredientes. Estas amêijoas, por exemplo, acabaram de chegar do mar”, explica o neto Vasco, que gere o negócio de família. Atraídos pelo cheiro irresistível do pão acabadinho de fazer que aqui se serve à mesa, pelo aroma fresco do peixe que transporta ainda o sabor a maresia e pelo irresistível segredo dos refogados de cebola e alho, decorados com coentros e outras iguarias da terra, os clientes saem sempre de barriga satisfeita. “E nunca nos esquecem”, acrescenta Paula, a mãe de Vasco.

A magia nasce nas mãos de Emília, responsável pela perícia e subtileza gastronómica por detrás do fogão que cria o melhor da gastronomia portuguesa algarvia. O negócio é gerido entre família, num ambiente acolhedor e descontraído. A não perder ficam as seguintes sugestões. De entrada, não deixe escapar o maravilhoso pão alentejano, feito numa pequena padaria, que se situa na porta ao lado. Chega à mesa ainda quente e fofo, com as côdeas ligeiramente estaladiças. Experimente as lulinhas salteadas na frigideira com alho e as amêijoas abertas ao natural, servidas numa taça de barro, decoradas com coentros frescos que conferem um sabor especial.

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