Fugas - Viagens

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Serra acima, serra abaixo, à descoberta da paisagem natural do Vale do Tua

Por Maria José Santana

Os amantes do turismo de natureza têm agora mais três boas razões para rumar ao Parque Natural do Vale do Tua. Esta área protegida acaba de ganhar três trilhos pedestres. Percursos com muito para apreciar e descobrir, estando já a ser preparada a abertura de outros troços.

O convite era irrecusável mas ao mesmo tempo exigente. A ideia de partir à descoberta da paisagem do Parque Natural Regional do Vale do Tua, por montes e vales carregados de vinhas e olivais, com passagem por algumas aldeias típicas, era tentadora e não deixava margem para hesitações – ainda para mais porque esta terra tem fama de receber bem e é conhecida por ter uma variedade de iguarias gastronómicas irresistíveis. A exigência? Toda esta aventura teria de ser feita a caminhar, serra acima, serra abaixo, ao longo de quase 20 quilómetros. O primeiro argumento acabou por falar mais alto, afastando quaisquer dúvidas que pudessem subsistir.

A Fugas disse “presente” e integrou o grupo de caminheiros que inaugurou os primeiros percursos pedestres desta área protegida que integra os municípios de Alijó, Murça, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Mirandela. Duas caminhadas em apenas dois dias, que deixaram uma certeza: é compensador meter pernas ao caminho pois, mais do que ser apreciada, a paisagem do vale do Tua merece ser sentida. Preparado para descobrir estes três novos atractivos do parque situado entre os distritos de Vila Real e Bragança?

Partimos de Abreiro, aldeia do concelho de Mirandela, para desbravar grande parte de dois dos percursos: o Trilho de Santa Catarina e o Trilho do Vale do Tua. O primeiro, com 7,4 quilómetros de extensão, tem como ponto de partida o painel informativo situado junto ao Museu Dr. Adérito Rodrigues – uma pequena unidade museológica que homenageia um filho da terra, médico, a quem foi reconhecida a ajuda que prestou à população local.

A rota segue, depois, em direcção ao Miradouro de Santa Catarina, local onde se podem ver as ruínas de uma antiga capela e, se subir um pequeno patamar, poderá usufruir de uma paisagem magnífica, na qual se destaca a aldeia de Abreiro. Dizem-nos que este local também é designado por Poço dos Mouros, uma vez que, outrora, foi um povoado fortificado ocupado entre a Idade do Ferro e o período Romano.

De volta ao trilho e à caminhada, a rota ruma, agora, ao Miradouro do Bilhardo, outro dos locais onde vale a pena fazer uma paragem para apreciar toda a vista diante dos nossos olhos: montes e vales, pequenas aldeias e, também, as águas do rio Tua. Continuando o percurso, em direcção à aldeia de Abreiro, há uma opção tentadora: existe um desvio para um lagar de azeite biológico que pode visitar e marcar uma degustação de azeitona e os seus produtos derivados.

Vestígios da Ponte do Diabo

No outro percurso de Abreiro, designado Trilho do Vale do Tua, o desafio lançado aos aventureiros passa por caminhar ao longo de 11,3 quilómetros. O trilho inicia-se no painel informativo localizado junto da antiga estação de caminho-de-ferro de Abreiro, na Linha do Tua - onde outrora paravam os comboios vindos de Bragança ou de Foz Tua. Depois de vencer o declive entre a antiga estação de caminho-de-ferro de Abreiro e a Estrada Nacional 314, o percurso segue, depois, para a Ponte de Abreiro, mais um local de paragem obrigatória. Aproveite para apreciar a paisagem do vale e os dois pilares da Ponte Velha, conhecida localmente por Ponte do Diabo - reza a história que, sempre que se assentava a última pedra na guarda da ponte, esta aparecia derrubada na manhã seguinte pelo diabo. Vítima do diabo ou não, o que é facto é que a ponte foi construída no século XVII e destruída no dia 22 de Dezembro de 1909, por ocorrência das cheias.

O percurso ruma, depois, até à aldeia de Abreiro, onde encontrará vários pontos de interesse – são disso exemplo o pelourinho (que está classificado como imóvel de interesse público) e a Igreja Matriz (construída no século XVII) –, merecedores que, no mínimo, acelere o passo. Tanto mais porque vai precisar de força nas pernas para subir em direcção ao Miradouro do Vale do Tua, mais um ponto alto que lhe oferece vista privilegiada para o rio e para a linha do Tua. A rota desce entretanto, aproximando-se das águas do rio e seguindo ao longo da sua margem direita.

De visita à terra de Graça Morais

O terceiro percuso recentemente inaugurado leva os caminheiros até à aldeia natal da pintora Graça Morais. Vieiro é um dos pontos de passagem do Trilho do Tua-Vieiro-Freixiel, que tem 22,2 quilómetros de extensão – não vale a pena assustar-se, uma vez que corre o risco de ser gozado pelos verdadeiros pedestrianistas, habituados a cumprir grandes rotas a pé – e que tem início junto da antiga estação de caminho-de-ferro de Abreiro, na Linha do Tua. 

A rota definida passa ainda pela aldeia de Freixiel, onde pode visitar a antiga Forca - classificada como Imóvel de Interesse Público e que remonta à época em que a pena de morte era uma realidade em Portugal –, a Igreja de Santa Maria Madalena, a Fonte Romana e o Pelourinho – este último também classificado como Imóvel de Interesse Público.

Retomando o percuso recomendado, seguirá, depois, ao longo da serra Tinta até chegar ao topo, local onde irá encontrar mais um miradouro que permite ter uma visibilidade de 360º para o território envolvente – terá uma perspectiva abrangente das aldeias de Vieiro e Freixiel. Apreciada a paisagem, é altura de voltar a dar às pernas, agora a descer. O percurso conduz os caminheiros até ao miradouro da praia fluvial Vieiro-Abreiro, onde se avista o rio Tua e as suas margens, regressando, depois, em direcção ao ponto inicial: a antiga estação de caminhos-de-ferro de Abreiro. Neste local, existe uma derivação do trilho até à praia fluvial Vieiro-Abreiro que, nos meses mais quentes, convidam a um refrescante mergulho nas águas do rio Tua.

Contas feitas, são cerca de 40 quilómetros para cumprir por montes e vales, mais próximo ou mais longe do Tua, com uma paisagem que pode ser tudo menos monótona – tanto passará por zonas mais rochosas, como por bosques, vinhas e zonas de cultivo -, com a certeza de que encontrará muitos locais e produtos para repor as calorias despendidas nas caminhadas (ninguém tem dúvidas quanto à qualidade e variedade da gastronomia transmontana, pois não?). E fica também outra certeza: a médio prazo, surgirão mais três percursos, mais concretamente nos municípios de Carrazeda de Ansiães, Alijó e Murça. Ficamos à espera da sua inauguração, ainda que não nos faltem apelos para voltar ao vale do Tua.

Informações úteis

Os três trilhos do Parque Nacional Regional do Vale do Tua estão devidamente sinalizados e homologados - estão os três classificados como PR (Pequena Rota, ou seja, menos de 30 quilómetros). Os praticantes habituais de pedestrianismo não terão quaisquer dificuldades em interpretar as marcas instaladas no terreno; já os estreantes, ou menos assíduos, podem ficar a conhecer a sinalização no site da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (www.fcmportugal.com).

O que visitar

Além do Centro de Centro de Convívio e Memória de Vieiro - a antiga escola primária, onde estudou Graça Morais, que foi devidamente recuperada e inclui uma sala dedicada à famosa pintora – e do Museu Dr. Adérito Rodrigues, pontos de passagem dos trilhos, há muito para ver e visitar no vale do Tua. São várias as unidades museológicas, centros interpretativos e igrejas que estão abertas aos visitantes.

Contactos
parque.valetua.pt
Email: parquenatural@valetua.pt
Tel.: 278 201 43

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