Ekaterina Papina estava a tomar o pequeno-almoço quando, ao segundo dia de férias no Vietname, ouviu alguém falar russo. Os ouvidos sintonizam automaticamente os olhos quando alguém fala a nossa língua a tantos quilómetros de distância de casa e os dela arregalaram-se de espanto. A voz saía de uma mulher curvada, de cara enrugada, que tentava explicar ao empregado de mesa que não queria picante na comida. Decidiu ajudá-la e o queixo caiu-lhe.
Por trás daqueles óculos grandes, das rugas e dos cabelos brancos, estava uma viajante e aventureira. Elena Mikhailovna, 89 anos de idade e seis de passeios pelo mundo. Entre os países visitados: Turquia, Alemanha, Polónia, Vietname ou República Checa, o país preferido da avó Lena, como a baptizou Ekaterina. Já o visitou cinco vezes: uma por ano desde que, aos 83, decidiu que ia gastar parte da reforma a viajar.
Ekaterina Papina conta tudo no Facebook, entre um longo texto (em russo) e muitas fotos. O post depressa se tornou uma sensação na Rússia e já corre além-fronteiras pela Internet. É que a avó Lena viaja sozinha, de cajado e mochila às costas. E tem uma vida repleta de histórias.
Nasceu em 1927 em Krasnoyarsk, cresceu num orfanato e sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, trabalhando os campos com um carro de bois na zona de retaguarda, em Oremburgo. Quando a paz veio, manteve-se na agricultura e casou com um militar. Teve uma filha e tudo corria bem. Até o marido começar a beber. E a bater nas duas. No post, Ekaterina não conta o que terá acontecido depois. Passa directamente para a parte feliz: Elena tem dois netos, vive sozinha e viaja pelo menos duas vezes por ano.
Desta vez, o destino foi o Vietname. A dificuldade em ver, que os óculos apenas atenuam, é o único problema que a tem retraído nas aventuras (corre uma campanha de donativos para pagar-lhe a operação aos olhos, depois de a primeira não ter corrido bem). Mas raramente diz que não a um desafio. Viagens de moto ou passeios de camelo, banhos no mar, subir as alturas ou experimentar pratos exóticos. Já fez de tudo.
Para o ano terá 90 anos. E nos planos, Israel.