Sempre a andar que não é o mesmo que viajar. M. S. Lourenço vivia em Sintra e esse era o seu universo. “Acho que era difícil arrancá-lo para fora de Sintra”, nota Frederico Lourenço. Pelo menos com o filho não foram muitas as vezes que saiu de lá – os passeios que davam eram ali, entre a serra e a praia Grande. Terão ido mais longe, concede Frederico, mas as recordações são escassas – sim, iam à Figueira da Foz no Verão, onde viviam os avós maternos (os pais deixavam lá os filhos e iam de férias “para sítios mais interessantes) e de Inglaterra chegaram a ir ao País de Gales. Mas raramente aconteceu algo de excepcional – “o meu pai era uma rocha de consistência. Não tinha picos nem abismos”. Quando foram a Tomar, tinha Frederico 14 ou 15 anos, também não houve nada de especial, porém essa viagem perdura nas lembranças. Talvez porque pouco antes de morrer [em 2009], já no hospital, M. S. Lourenço e o filho tenham falado dela com um “colega” de quarto, que era de Tomar. “Foi engraçado”, reflecte Frederico. “Lembrámo-nos das igrejas que tínhamos visitado." E o Convento de Cristo, “muito bonito”.
Mas mais cedo, ainda na infância, houve os percursos constantes entre Oxford e Lisboa, quando vinham de férias. Faziam a viagem de barco, de carro, de avião – naqueles oito anos terão experimentado todas as modalidades. As viagens eram longas e pacíficas, porém tinham uma particularidade: os pais falavam em francês para não serem entendidos. “Era uma coisa muito irritante." E houve um ano de “Verão inacreditável”. Vieram de carro e quando saíram de Inglaterra estava muito frio. Atravessaram Espanha e encontraram temperaturas de 40 graus. “Quando chegámos a Lisboa a minha mãe disse: ‘Ah, é engraçado, agora é que dou conta que viemos o caminho todo com o aquecimento no máximo’”, lembra, rindo. “São coisas típicas dos meus pais."
Se não fosse a distância emocional, Frederico teria gostado de ir à Grécia e a Viena com o pai. A Grécia que é muito sua (traduziu, por exemplo, a Odisseia e a Ilíada) – “tenho essa curiosidade de saber como é que ele reagia à Grécia” – e a Viena que era muito do pai – “ele tinha uma relação muito forte com a cidade” (sobretudo aos lugares “de” Wittgenstein, que ele traduziu). “Acabámos por não partilhar." Porque a tal distância ganhou. “Estávamos os dois perplexos, já há muitos anos, com essa distância. E sentíamos que era impossível criar uma ponte. Isso foi até ao fim”.