Demorou um ano, seis meses e 26 dias a percorrer as 196 nações reconhecidas internacionalmente. A 2 de Fevereiro, Cassie De Pecol cruzou a última fronteira, no Iémen, e aos 27 anos tornou-se não só a primeira mulher a pisar oficialmente todos os países do mundo, como a pessoa mais rápida de sempre a fazê-lo – menos de metade do tempo realizado pelo actual detentor do título no livro de recordes do Guinness. Yili Liu, também norte-americano, tinha demorado mais de três anos a percorrer as 194 nações então reconhecidas, concluindo a jornada em Dezembro de 2010. Cassie aguarda agora o parecer final da organização para reclamar o pódio de viajante mais veloz do mundo.
O projecto Expedition 196, como lhe chamou, arrancou no dia 15 de Julho de 2015 em Palau, depois de mais de um ano de preparação, entre definição de rotas, obtenção de vistos e angariação de patrocínios. É que a rapidez de tamanho périplo paga-se. E paga-se bem: mais de 186 mil euros (cerca de 198 mil dólares). Mas quebrar o recorde mundial era o principal objectivo definido à partida. E, pelo caminho, ao partilhar as experiências vividas na conquista de tal feito, inspirar jovens mulheres em todo o mundo a partir à descoberta de outras paragens, fomentando simultaneamente a paz mundial e o turismo sustentável enquanto embaixadora do Instituto Internacional para a Paz no Turismo.
Em mais de 50 países, Cassie encontrou-se com governantes e ministros do turismo, apresentando a Declaração de Paz promovida pela organização, em parceria com a associação de profissionais do sector do turismo SKAL International, e falou com mais de 16 mil estudantes sobre turismo sustentável. Para reduzir a pegada ecológica que foi deixando no planeta – agravada pela corrida contra o tempo, que a fez voar mais de 255 vezes durante a expedição – a norte-americana terá plantando quase 50 árvores ao longo dos países por onde foi passando. Faltam agora “cerca de 500”, que quer plantar no Connecticut, onde vive.
Portugal foi um dos primeiros países que Cassie riscou da lista, em Setembro de 2015 – foi a 12.ª nação visitada, entre Qatar e Espanha, ao passear pelas praias do Algarve. A gruta de Benagil, no concelho de Lagoa, estava “há anos” nos planos da norte-americana, revelava então no Instagram. “Para aqueles que não acreditam no quão incrível é esta gruta ou querem apenas ver outra foto para acreditar, banqueteiem os vossos olhos...foi muito emocionante”, escreveu na rede social ao partilhar um retrato feito no interior da gruta-postal.
Cerca de um ano depois voltou a cruzar-se com portugueses durante a longa jornada pelo globo. Desta vez, a bordo de um avião da TAP entre São Tomé e o Gana. A “maravilhosa tripulação” deixou-a “literalmente sentar-se no cockpit do A380 com os dois pilotos extremamente profissionais e fixes, Rui e André, todo o tempo [de viagem] e foi incrivelmente épico”, recorda. “Foi definitivamente um dos melhores momentos da expedição.”
No entanto, nem todas as experiências foram agradáveis. Na Coreia do Norte, um soldado recebeu-a com o aperto de mão mais seco que alguma vez sentiu e um incisivo cumprimento: “Vamos destruir-vos, América”. “Quero apenas mostrar-lhe que podemos ser amigos e que podemos coexistir de alguma forma”, retorquiu. Nas redes sociais, entre elogios e mensagens de incentivo, são muitos os comentários a criticá-la, acusando o projecto de ser veloz e superficial de mais, caro de mais, ecológico de menos. “É 100% irreal o quão cruéis e degradantes os seres humanos conseguem ser online – e é, na verdade, exactamente o oposto do que experienciei em todos os países do mundo”, escreve no post mais recente deixado no Facebook.
No final do mês, Cassie parte para o único continente que lhe falta carimbar no passaporte: a Antárctida, numa viagem de quatro dias a convite da Quark Expeditions. E aos 27 anos, pisados todos os países e todos os continentes, o que falta fazer? Escrever um livro sobre a experiência, terminar um documentário e “descobrir como se auto-sustentar através de projectos empreendedores e esse tipo de coisas para o resto da vida”, enumera em entrevista à CNN. “Sinto que o meu maior desafio pessoal ainda está por chegar”, conclui no Facebook.