Ao longo dos últimos anos, tem colocado anúncios no Facebook, sempre com um alvo específico, para tentar aumentar as probabilidades de sucesso: “pessoas que vivem num raio de 32 quilómetros de Barcelona e que gostem de fotografia”. Procura dar uma identidade ao fotógrafo desconhecido como quem indaga por um novo parceiro ou por um ente querido de quem se perdeu o rasto. Foi visto pela última vez em Barcelona, nos anos 1960, gosta de fotografia.
Até ao momento, Tom já gastou cerca de 450 dólares (aproximadamente 420 euros) nestes anúncios. A página tem mais de 11 mil seguidores e são muitos os que comentam as fotografias. Alguns reconhecem a rua ou o prédio; outros acreditam identificar nas crianças a preto e branco o rosto da avó, os traços de uma vizinha. São poucos os que arriscam um nome para o autor das fotografias. Confirmar qualquer um dos palpites tem sido o processo mais difícil.
A primeira – e até agora única – confirmação chegou no final de Janeiro. Cinco anos depois da criação da página no Facebook. Numa fotografia tirada a várias raparigas numa sala de aula está Rosalia Serrano. A menina de bibe às riscas e fita no cabelo tem hoje 66 anos. Estava a ver uma reportagem sobre a história dos negativos misteriosos com a filha quando, de repente, se reconheceu numa das imagens. A filha entrou em contacto com Tom, enviou-lhe outra fotografia da mãe quando tinha a mesma idade. Confirmaram: era a mesma pessoa.
Com a identificação de Rosalia veio o nome da escola onde a fotografia foi tirada. “Desde então já entrei em contacto com a escola para ver se conseguiam dar-me mais alguma informação, mas ainda não responderam”, lamenta Tom. “Também me disseram o nome de duas raparigas que surgem entre a fila de crianças atrás de uma freira numa das fotografias. Escrevi a pessoas com o mesmo nome no Facebook, mas ainda não recebi qualquer resposta.” É um processo moroso, dificultado pelo hiato de 50 ou 60 anos, que faz com que mesmo os mais novos nas fotografias estejam hoje numa faixa etária arredada das redes sociais.
A esperança do norte-americano, contudo, não esmorece. Ganhou até um novo alento no início do ano. Quando a investigação parecia ter chegado a um beco sem saída – e sem ter percorrido longo caminho – o jornal El Periodico descobriu a história com laivos de Vivian Maier. Será o fotógrafo desconhecido uma versão espanhola da ama norte-americana, cujo acervo de mais de 100 mil fotografias das ruas de Chicago só foram descobertas – assim como o seu talento – anos depois da sua morte? Outra publicação noticiou a história. E outra e outra. Em Espanha, nos Estados Unidos, em França. O optimismo renasceu.
Na cidade catalã existem “algumas pessoas a trabalhar” na resolução do mistério e com a recente cobertura mediática, Tom não desarma. “Tenho esperança de encontrarmos o fotógrafo ou pelo menos a sua família”, diz. Dezasseis anos passaram desde aquelas férias em Barcelona. Tom e a mulher nunca mais lá voltaram, embora gostassem de regressar. Quem sabe para devolver em mãos as memórias de um grande fotógrafo que um dia levaram de souvenir.