Depois da cerimónia dos Óscares mais insólita de sempre – a Internet decidiu e quem assistiu à “troca” de vencedores para o principal prémio da noite, o de melhor filme, dificilmente poderá discordar –, vamos percorrer os caminhos dos quatro filmes que receberam os galardões mais emblemáticos: melhor filme, melhor realizador, melhores actores principais, melhores actores secundários, melhores argumentos (original e adaptado). Viagens cinematográficas, dentro dos Estados Unidos – não mostram toda a diversidade, mas há estereótipos, cidades pouco óbvias e imagens distintas de cidades (re)conhecidas ad nauseaum.
Moonlight, Miami, Florida
Estamos em Miami mas longe dos néons e dos edifícios Art Déco que fazem os postais turísticos da cidade da Florida – juntamente com as praias e a elas também iremos. Moonlight é sobretudo Liberty City, longe dos holofotes das estrelas e socialites que desfilam ao sol dos excessos.
No censo de 2000 era indicado como uma das maiores concentrações de população negra do Sul da Florida e os índices de criminalidade eram dos mais altos da cidade. É aqui que se vê (um)a Miami verdadeira, longe dos estereótipos que costumam surgir nos grandes e pequenos ecrãs e aos quais os autores quiseram fugir – também porque tanto realizador como autor da peça em que o filme se baseia cresceram aqui.
É aqui também que cresce o protagonista do filme, Chiron, passando uma infância e adolescência num projecto de habitação social, à sombra do crack, com uma mãe toxicodependente. E a praia também aparece, pouco saturada e paradísiaca, palco da busca da sua sexualidade e da sua aprendizagem da natação com um padrasto traficante de droga. Se grande parte do filme não foge daqui, a última também acontece num diner verdadeiro, o Jimmy’s Eastside – e, entretanto, já ouvimos Caetano Veloso em “Cucurrucucú Paloma”. Este foi o primeiro filme filmado em Miami a ganhar o óscar de melhor filme.
La La Land, Los Angeles, Califórnia
Neste filme, o nome não engana – e até o caminho que o filme percorre fica bem expresso neste petit nom de Los Angeles. Estilizado, num regresso ao technicolor, do princípio ao fim, La La Land conta o percurso de uma aspirante a actriz e de um músico à procura do seu caminho, separados pela ambição.
Como um roteiro pela cidade, o filme passa pelo Observatório Griffith e pelo parque em redor, mesmo diante do letreiro de Hollywood, e ressuscita o Angels Flight, um funicular na Baixa da cidade que deixou de funcionar em 2013, depois de 112 anos a subir e a descer.
Ressurreição também foi o que aconteceu no Rialto Theatre, arquitectura de amálgamas várias, presença habitual em filmes, que, tal como no filme, está encerrado (desde 2010) e tem um projecto para recuperação que poderá incluir um cinema.
A funcionar estão outros locais por onde Mia e Sebastian passam, como o Grand Central Market (num dos primeiros encontros comem na Sarita’s Pupuseria, de comida salvadorenha), um mercado que se tornou rapidamente um ponto de moda na cidade, o Hermosa Pier e o Lighthouse Café em Hermosa Beach (que Sebastian frequenta e onde leva Mia, quando ela ainda não gostava de jazz), a Colorado Street Bridge, a Smoke House (Lipton’s no filme, onde Sebastian toca canções de Natal), a Watts Tower, uma escultura de metal gigantesca que levou 33 anos a construir. A nova e a velha Los Angeles, sem esquecer os próprios estúdios de cinema, onde Mia trabalhou num café antes do estrelato – e o infame hotel Chateau Marmont, que frequenta depois de famosa.