Fugas - Viagens

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Uma “Noite Estrelada” a caminho da “aldeia de Van Gogh”

Fica ainda evidente a sua personalidade difícil, “via sempre tudo preto ou branco” e nas suas cartas “estava sempre a pedir dinheiro”, nota Hans Keijzer. Aqui no museu também se podem ver quadros de alunos dele, de Eindhoven – paisagens – e saber que era um professor exigente, muito sarcástico e crítico. A finalizar, uma árvore genealógica, que se prolonga até hoje apenas com descendentes do irmão Theo (três deles pertencem à Fundação Van Gogh Village Nuenen, que gere o museu), que morreu pouco tempo depois de Vincent — apenas as irmãs tiveram vida longa.

O museu externo leva-nos, então, a percorrer a vila e os arredores verdejantes por onde Van Goh deambulava. São 23 os locais associados a ele, 14 destes pintados ou desenhados, nós não fizemos a rota. Passamos pela igreja onde o pai oficiava — ele não a frequentava, mas pintou-a para a mãe, quando ela partiu uma perna e não se podia deslocar (acrescentou depois elementos, aquando da morte do pai, representando o seu funeral); quase em frente ficava o posto de correios de onde os seus trabalhos saíam para Paris, onde Theo os tentava vender (esforço inglório, sabemos: só um quadro foi vendido no seu tempo de vida).

Na antiga praça do mercado, antigo centro da aldeia medieval, foi construído o primeiro monumento a Van Gogh na Holanda, em 1930, uma pedra de moinho com um sol desenhado — este representava o Sul de França e o período mais solar da sua obra, a pedra as obras mais “escuras” daqui. A sua antiga casa continua a ser a casa paroquial — nas traseiras o pai transformou a lavandaria num estúdio para ele, contrariando a ideia do próprio Van Gogh da falta de apoio parental. Das traseiras vê-se a torre do antigo cemitério onde o pai foi enterrado: comparando com o quadro, apenas alguns edifícios se interpõem — ainda está o pequeno lago, as árvores também despidas e até os pássaros revolteiam aqui.

Mais afastado do centro, paramos para uma cerveja no Watermolen van Opwetten, o moinho de água que Van Gogh pintou e agora é um bistrot italiano e holandês. O pôr do sol seria digno do Van Gogh do período francês, laranja a iluminar o Inverno. Em Março, conta Hans, começa o período alto das visitas guiadas — para grupos — e ele já tem o discurso preparado: “Vamos almoçar num quadro de Van Goh.” Em Nuenen é, está visto, muito fácil entrar no mundo de Van Gogh.

 

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