Fugas - Viagens

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Um retiro no Algarve para aprender a viver no presente

Foi assim, ansiando punição, que de manhã me dirigi para a massagem de bambus. No início, alguns movimentos respiratórios profundos, na presença de uma essência mentolada saída da linha Arumatherapy Associates (Londres), usada pelo Epic. Seguiram-se cerca de 50 minutos de trabalho com as mãos e com duas pequenas canas de bambu que sabem a rolo da massa a passar pelas costas. A pressão não chega a ser profunda, mas quem andou a acumular tensões, contracturas e fibras deslocadas vai ficar pensar duas vezes da próxima vez que estiver a espancar a massa dos rissóis na bancada da cozinha.

Não me podia queixar. Até porque Vivian Gonçalves, 26 anos, terapeuta de saúde e bem-estar formada em Portimão não parava de me dar feed back enquanto desfazia em pó a minha convicção de que eu só tinha uma contractura – e antiga. “Uma das qualidades de um bom massagista é uma mão firme”, avisara. “Não é só festinhas.” Ainda bem, ripostei em silêncio, pelo que no final, saí até um pouco desconsolado. Em segredo, comecei a sentir saudades do sofrimento do bootcamp, ao qual se seguia sempre uma sensação melhor. Mas o corpo ainda me pedia para não pisar o acelerador. E por isso mantive-me fiel ao programa que concebera para mim.

Horas depois regressei para a massagem ayurvédica. Primeira diferença: ela é feita num colchão, ou tatami. Depois, já não há canas de bambus, toda a massagem é com as mãos (a espaços são usadas toalhas para alguns movimentos de cabeça suaves) e os cerca de 50 minutos incluem movimentos de alongamento.

Quem hoje em dias escolhe um programa destes sabe que estamos no domínio da experiência. Ela vale o que cada um está disposto a investir nela. No final, além do programa, há que incluir a conta do alojamento neste hotel Sana de cinco estrelas. Duas frases para quem não conhece o universo Sana, detido pelo grupo Azinor: tem 16 hotéis, maioritariamente no centro e sul de Portugal, mas também em Luanda e Berlim. Em 2019 espera acrescentar dois hotéis, um Evolution, conceito que já tem em Lisboa, e um Epic (a gama de topo), ambos em Casablanca.

O segundo dia reservava a segunda surpresa. Uma sessão de Mindfullness. um treino de meditação de tradições budistas, como explicou Renata Domingos, 29 anos, de Faro, alguém que deu a volta à vida quando percebeu que estava a ir por um caminho que não a completava. Num mundo cheio de profissionais em burn out, a ideia de travar e mudar de rumo parece quase uma excentricidade. Durante uma hora, aceitei a missão de cumprir o que prescreve esta técnica – “meditar com a intenção de prestar atenção ao momento presente, sem julgar”, segundo Renata. “No dia-a-dia, a mente ou vai para o futuro ou refugia-se no passado. Portanto, a nossa atenção já não está no que está a acontecer aqui e agora”, continua. Creio que foi esta frase que me levou a suspender a descrença.

Em boa hora o fiz. Porque a minha dorsal e as minhas lombares continuam um caco, mas a ideia de que vivemos pouco no presente ressoou de tal modo que estava disposto a sofrer horrores nas massagens que me faltavam, sobretudo na deep tissue, que é profunda e se assemelha muito à massagem desportiva. A verdade é que senti todos os “aquis” que dolorosamente tenho atado às costas pela vida fora, e também todos os “agoras” que doem quando alguém lhes passa por cima com os nódulos dos dedos. Mas nem o tratamento hidratante que se lhe seguiu, com esfoliante feito de café e amêndoa e lama do Mar Morto me massajaram tanto a alma e energizaram tanto o corpo quanto a pequenina nota que deixei para a última folha do bloco de apontamentos, que acabei por arrancar e colar no frigorífico: “Não te esqueças do agora.”

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