Fugas - Viagens

  • Mário Lopes Pereira
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Entre dunas e ria, esvoaça um mundo de pássaros

Dos esquivos borrelhos nem sinal, mas o passeio vai sendo brindado por outros voos. Cotovias-de-poupa, fuinhas dos juncos, andorinhas-dos-beirais, andorinhas-das-chaminés e andorinhas-daurica — muito parecidas com as segundas, mas com a cauda preta. “Parece que têm umas calças vestidas”, descreve Marcial. Pousa um cartaxo na vegetação seca, ouve-se um maçarico. Lá ao fundo, de patas enterradas nos sapais, vêem-se ostraceiros e gaivotas. “Não estou a apontar muito para elas porque são comuns mas avistam-se cinco espécies nesta altura do ano”, indica Guillaume. A saber: gaivota-de-patas-amarelas, gaivota-de-cabeça-escura, gaivota-de-asa-escura, gaivotão-real e guincho.

“Adeus, praia”

Esta zona da ria, encaixada entre os ribeiros e o mar, não é o melhor sítio do Algarve para a observação de aves, confessam. Mas integra “dois habitats muito próximos e bastante diferentes”: o dunar e o estuarino. Numa caminhada curta e fácil é possível avistar várias espécies e compreender os diferentes ecossistemas, programa ideal para famílias e para promover programas de educação ambiental e de consciencialização da população. É essa a grande vantagem dos passadiços, defende Marcial: “Usufruir da paisagem sem destruir o ecossistema.” E acaba por “encorajar a actividade física e o contacto com a natureza”.

Numa encosta arenosa colada ao caminho de terra batida, juras de amor são eternizadas em palavras desenhadas a seixos sobre a areia. Uma garça-real e uma garça-branca alimentam-se na margem, junto aos veleiros que se aninham aos pés da vila de Alvor. O melhor estaria guardado para o fim: um casal de coloridos abelharucos escavou um ninho num dos bancos de areia de uma pequena lagoa e um juvenil espera por comida junto à entrada da toca. “Chegam nos últimos dias de Março e vão-se embora nos primeiro dias de Setembro”, precisa Guillaume.

O passeio termina junto ao restaurante Restinga, com quem têm uma parceria desde o ano passado (passeio de uma hora e bebida, salada ou refeição por preços que vão dos 25€ aos 50€). Foi Filipe Esteves, o proprietário, quem tomou a iniciativa. “A minha família tem o restaurante há 40 anos, eu venho para aqui desde os quatro. Gostava que um dia os meus netos vissem esta beleza única como eu a conheci.” No entanto, apesar de reconhecer que o passadiço “fazia falta pelo pressuposto de conservação da natureza”, a nova estrutura de madeira veio tirar-lhe o estacionamento à porta e isso “mudou os paradigmas do negócio”. Às vezes, tem de ir buscar ou levar clientes a casa porque nem os taxistas ali querem ir. Não há iluminação mas o pó chega para cobrir os carros.

O Restinga é o último restaurante da fileira de estabelecimentos que se sucede em catadupa quase até à Prainha. A partir daqui a estrada suspensa de madeira deixa de contemplar a natureza para servir um único propósito: unir, quase em linha recta, os parques de estacionamento, os apoios de praia, os acessos ao areal, os blocos de apartamentos e as unidades hoteleiras do grupo Pestana. Cinco bordejam o passadiço — e o grupo madeirense financiou parte da estrutura. No total, são quase seis quilómetros, da ria até à praia dos Três Irmãos. O sol sobe implacável ao meio-dia, é um corrupio de sotaques, chinelos, sacos, toalhas, chapéus-de-sol e geleiras. Há quem esteja a chegar e quem parta para o almoço. Um miúdo interrompe a parafernália dos pais para esticar a mão para lá do corrimão do passadiço. “Adeus, praia”, grita entre acenos.

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