Quando recebeu uma mensagem de um desconhecido no BeWelcome a propor organizarem um festival sem “dinheiro ou ideias definidas”, o primeiro instinto normal de João seria apagar o email. Mas não foi. “Para mim, as coisas surgem muito na altura em que tu precisas de viver essas coisas. E esta foi uma delas”, diz, referindo-se ao encontro de viajantes que organizou com mais quatro (agora) amigos e que fica no Marco de Canaveses até dia 6. Estão previstas actividades como performances, terapias, concertos ou palestras.
É por isso que leva a expressão “dia-a-dia” a um sentido muito literal. “Eu gosto do esforço físico, mas só quando eu quero. Eu gosto de trabalhar, mas só quando eu quero. Eu gosto de tudo, mas não me obriguem a estar oito horas e durante anos a fazer a mesma coisa.” Não quer com isto dizer que tenha abdicado do dinheiro. Agora, por exemplo, aluga a sua autocaravana, começou um negócio de compra e venda de criptomoedas e até já tem as suas próprias máquinas de minerar bitcoins (daqui a uns tempos quer começar a construir as suas). Antes, ainda na Roménia, trabalhou durante três meses num posto de lavagem de carros. Mas foi bem claro mal começou: “Eu só trabalho durante quatro horas e quero este ordenado.” Do outro lado só lhe responderam: “Sim, está bem”.
A tentar descrever o seu dia-a-dia, bloqueia ao fim de duas acções. “Acordo, medito durante uma hora” e… “Boa, essa pergunta é difícil. Posso, pelo menos, subdividir em Inverno e no Verão?” Conta que costuma passar o Verão ao ar livre, gosta do mar e do que o mar dá e jurou, depois da primeira vez que passou um Inverno na Roménia, nunca mais querer frio. Por isso, fugiu para África e no ano seguinte não teve Inverno. “Isto é importante e também é relacionado com o dia-a-dia. É fazer o que eu sinto e, em vez de pensar em como é que a coisa funciona, pensar no que é que eu quero.”
Para “quem está preso a muita coisa”, João diz que “apenas é preciso começar por algum lado”. “Ter uma empresa era logo uma segurança, ter um hostel era uma segurança e gera-se um medo de continuar, fazer outras coisas. E esse medo foi-se perdendo”, confessa. “O que eu fui aprendendo em cada sítio onde estava, fazia com que me custasse menos e menos a passar para o próximo.” Depois da Roménia, o medo do “deixar ir” perdeu-se completamente. “Fui, fui, fui”, garante-nos. Curiosamente, é também a este país que acaba sempre por voltar.