Mesmo que já se tenham escrito milhares de caracteres a descrever as maravilhas dos passadiços do Paiva é impossível não voltar a eles quando o tema é, precisamente, passadiços. Até porque, não sendo os maiores nem os mais antigos do país, eles são bastante únicos pela sua inserção numa paisagem muito diferente da da maior parte das estruturas deste tipo, mais associadas à beira-mar e às dunas. Aqui, estamos no Geopark de Arouca, num trajecto ao longo de um rio caprichoso, com a rocha como companhia e o verde a oferecer uma muito bem-vinda sombra.
Passaram dois anos desde a inauguração oficial dos passadiços do Paiva, mas já muita coisa mudou desde que a entretanto premiada estrutura de madeira permitiu que o rio e as suas encostas fossem apreciados com uma nova proximidade. Dois incêndios, em dois anos consecutivos, queimaram porções da estrutura, obrigando à sua reconstrução. O acesso deixou de ser gratuito e passou a ter o custo simbólico de um euro, além de o número de visitantes ser agora condicionado – cerca de 3500 pessoas por dia, duas mil das quais controladas através de uma pré-inscrição online e as restantes chegando através dos operadores turísticos. Nos dois extremos do percurso de 8,7 quilómetros (Areinho e Espiunca) nasceram parques de estacionamento. Surgiram cafés com esplanadas e a praia do Vau ganhou casas de banho. Além disso, há táxis alinhados nas pontas do caminho, à espera de levar de regresso aqueles que não querem fazer a pé o trajecto inverso e não têm outro meio de deslocação.
O que não mudou, para quem escolhe passar o dia por ali, é a beleza da paisagem. E são muitos os que se continuam a deslumbrar com ela. Uma média de 20 mil pessoas por mês, segundo José Pedro Brandão, da agora bem mais atarefada loja interactiva de turismo de Arouca. “90% das pessoas que cá vem procura informações sobre os passadiços”, diz. Curiosamente, são também bastantes as que optam por fazer uma visita guiada – “entre 500 a mil por mês”, diz o funcionário –, o que lhes permite descobrir mais sobre o universo que está prestes a percorrer: o rio, as rochas, os animais e as plantas. Mas o caminho não tem que enganar. Calce as sapatilhas, leve água e algo para comer, chapéu e protector solar e é só seguir o trilho (ou o último grupo de pessoas antes de si, o que aparecer primeiro).
Se não pretende percorrer o trilho e regressar, a pé, pelo mesmo caminho ao ponto de partida, aceite o nosso conselho e comece a caminhada no Areinho. Está a ver aquela escadaria imensa, encosta acima, junto à fabulosa garganta do Paiva? Se ela parece um pouco desmotivadora e ainda nem começou a caminhar, imagine ao que se assemelhará se a encontrar no fim do percurso, depois de já ter andado quase oito quilómetros. Pois é, é por aqui que quer começar – vencer o mais difícil quando ainda não lhe doem as pernas, porque depois o trajecto é quase sempre a descer. E quase sempre no piso confortável em madeira dos passadiços, embora existam alguns troços em terra batida (e é por causa destes que, mesmo estando calor, não vai querer levar sandálias).