É costume dizer que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Que educar uma criança é tarefa com responsabilidades divididas entre pais, irmãos, avós, tios e amigos. Mas o que é que acontece quando o aconchego da família fica do outro lado do Atlântico? Cria-se a própria Aldeia. Foi o que fizeram Paula Simplício, 31 anos, e Sonia Aránguiz, 37, quando construíram um espaço onde, tal e qual como numa família, cabem bebés e pessoas centenárias, homens e mulheres. Todos à volta de papas de bebé ou de um simples café.
A Aldeia abriu em Julho e ocupa o número 136 da Calçada dos Barbadinhos, na freguesia de São Vicente, em Lisboa, num velho armazém que esteve votado ao abandono durante 20 anos e que se reergueu com ajuda de avós, pais, e filhos que ali foram pintar paredes, instalar o chão e decorar o espaço ensolarado que mistura o ar industrial com a delicadeza de uma minicozinha ou de um dossel branco que cai na carpete colorida, junto ao baú dos brinquedos. “Foi uma festa”, diz Sonia, a assistente social chilena que se casou com um português e que chegou a Portugal há três anos, na mesma altura em que Paula deixava o Brasil.
“Eu tinha um bebé, a Sonia também. E depois engravidou do Emílio”, conta Paula, socióloga e mãe de Leo, de três anos. “Na altura, como as crianças não iam à escola e, na nossa condição de mães estrangeiras, longe das famílias, dos amigos, de toda a nossa rede de apoio, ficámos um pouco sozinhas.” Dada a falta de projectos educativos e de espaços onde pudessem estar com os filhos, quiseram fazer da “necessidade” a forma de reentrarem no mercado de trabalho.
O que fazem os pais enquanto os miúdos estão a brincar?
Vêem na maternidade o principal trabalho das suas vidas, por isso a Aldeia quer ser um espaço onde os pais podem estar com os filhos, ao mesmo tempo que trabalham ou conversam com outros pais. Por isso, criaram um espaço onde cabe uma cafetaria, uma sala de actividades e uma galeria de arte. “Que nós saibamos, em Lisboa não há um sítio assim.”
A ideia amadureceu depois de as duas fundadoras terem feito um curso de empreendedorismo no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante. Da ideia à concretização, a Aldeia demorou mais de um ano e meio a tomar forma, pela dificuldade em encontrar o espaço que correspondesse às “muitas exigências e ao pouco dinheiro” que tinham. Acabaram por encontrá-lo e, agora que está de portas abertas, Paula e Sonia querem-no em permanente construção.
“Quando abrimos, os vizinhos ficavam muito na dúvida do que era a Aldeia. Se era uma creche, ou um ATL. Alguns perguntavam se era preciso ter filhos para poder entrar”, conta Sonia. E quando perguntámos qual é, afinal, o conceito do espaço, não temos uma, mas várias respostas: “Somos uma cafetaria aberta ao público, num espaço onde as famílias podem vir e onde não é obrigatório consumir. Somos uma livraria infantil, ainda tímida. Uma loja de artesanato feito por outras mães.” Mas também um “centro de actividades para toda a família”, onde há concertos de música para bebés, oficinas de artes, ilustração e escrita, teatro, aulas de dança ou de ioga com o Tejo como fundo. Ou ainda workshops de comida saudável, uma preocupação que as fundadoras tiveram também na cafetaria onde disponibilizam doces sem glúten, leites vegetais, papas e sumos biológicos para tentar responder a todas as dietas.
Têm ainda uma parceria com a associação Amamenta Lisboa e com a Associação Portuguesa Pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto que pretende sensibilizar para a “violência obstétrica” para que as mulheres possam ter uma escolha informada em relação ao parto.
A maioria das actividades são gratuitas, sendo que algumas precisam de inscrição, que pode ser feita através da página de Facebook da Aldeia.
Para já, o cliente que mais aparece é um pai que leva, de um lado o filho, do outro o portátil. Na génese do projecto da Aldeia está também a vontade de criar um escritório de coworking, onde quem quisesse usufruir do espaço pudesse pagar uma mensalidade, respondendo assim à tendência crescente do trabalho à distância, mais flexível, onde se consegue trabalhar a partir de casa ou do café. Por isso, salienta Paula, houve também a preocupação de garantir uma boa rede de Wi-fi.
Apesar de recente, e de estar “fora da passagem e um tanto escondida”, a Aldeia tem recebido famílias que percorrem Lisboa para ir ao seu encontro, dizem as fundadoras. Agora é tempo de sair e dar espaço a Violeta que vem a correr com a sua saia amarela e se esparrama na carpete da sala. Ali, naquela Aldeia, todos os dias são uma festa.
Aldeia - Crescer em Família
Calçada dos Barbadinhos, 136E
1170-341, Lisboa
Tel.: 935 604 001
930 480 283
Email: info@aldeia.com.pt
https://www.facebook.com/AldeiaCrescerEmFamilia/
Aberto de segunda a sábado das 9h às 13h e das 15h às 19h
Outras propostas
A Casa ao Lado
Com 12 anos de existência, e um currículo longo na animação de espaços culturais onde pontua, como por exemplo o Theatro Circo, em Braga, esta A Casa ao Lado é, em Vila Nova de Famalicão, um porto seguro para quem quiser levar as crianças a “desenvolver a sensibilidade, a criatividade e principalmente educar para a compreensão e respeito da área artística”. São esses os objectivos expressos por Ricardo Miranda e Joana Brito, os fundadores. Para além das Oficinas de Artes Plásticas que existem na Casa, numa base regular, está planeado um arranque de ano lectivo com um leque de novos cursos direccionados para crianças dos quatro aos 15 anos, como cursos de ilustração, joalharia e cinema de animação. Todos os cursos e oficinas têm duração de duas horas semanais com horários fixos, e com uma lotação máxima de oito alunos, para uma maior atenção individual.
A Casa ao Lado
Av. 25 de Abril, 121
Vila Nova de Famalicão
Tel.: 934 841 129
www.facebook.com/ACasaAoLado/
Bombarda Oficinas Artes
Se o que estivermos a pensar for dar às crianças uma imersão em actividades culturais com maior domínio das artes plásticas e cénicas, estar no coração do Quarteirão das Artes só pode ser uma boa ideia. As oficinas criativas para crianças são uma proposta que tem cerca de oito anos e que serve quem pode ir todas as semanas, apenas duas vezes por mês, ou, até aparecer sem compromissos. Há possibilidades, e preçários, para todos. Aos sábados de manhã, oficinas pensadas por uma equipa de profissionais de várias áreas artísticas têm como foco a valorização da auto-expressão, recorrendo a diversas técnicas e materiais da expressão plástica.
BOA- Bombarda Oficina Artes
Rua Adolfo Casais Monteiro, 59
Porto
Tel.: 917 482 723
www.facebook.com/Boa-Bombarda-Oficinas-Artes