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Nesta Aldeia cabem miúdos e graúdos de todos os tamanhos

Por Cristiana Faria Moreira

Num ensolarado recanto da Calçada dos Barbadinhos, com vista para o Tejo, há uma nova Aldeia que quer ser um espaço onde cabem pais, filhos, avós ou tios à volta de livros, brinquedos, de papas de bebé ou de um simples café.

É costume dizer que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Que educar uma criança é tarefa com responsabilidades divididas entre pais, irmãos, avós, tios e amigos. Mas o que é que acontece quando o aconchego da família fica do outro lado do Atlântico? Cria-se a própria Aldeia. Foi o que fizeram Paula Simplício, 31 anos, e Sonia Aránguiz, 37, quando construíram um espaço onde, tal e qual como numa família, cabem bebés e pessoas centenárias, homens e mulheres. Todos à volta de papas de bebé ou de um simples café.

A Aldeia abriu em Julho e ocupa o número 136 da Calçada dos Barbadinhos, na freguesia de São Vicente, em Lisboa, num velho armazém que esteve votado ao abandono durante 20 anos e que se reergueu com ajuda de avós, pais, e filhos que ali foram pintar paredes, instalar o chão e decorar o espaço ensolarado que mistura o ar industrial com a delicadeza de uma minicozinha ou de um dossel branco que cai na carpete colorida, junto ao baú dos brinquedos. “Foi uma festa”, diz Sonia, a assistente social chilena que se casou com um português e que chegou a Portugal há três anos, na mesma altura em que Paula deixava o Brasil.

“Eu tinha um bebé, a Sonia também. E depois engravidou do Emílio”, conta Paula, socióloga e mãe de Leo, de três anos. “Na altura, como as crianças não iam à escola e, na nossa condição de mães estrangeiras, longe das famílias, dos amigos, de toda a nossa rede de apoio, ficámos um pouco sozinhas.” Dada a falta de projectos educativos e de espaços onde pudessem estar com os filhos, quiseram fazer da “necessidade” a forma de reentrarem no mercado de trabalho.

O que fazem os pais enquanto os miúdos estão a brincar?

Vêem na maternidade o principal trabalho das suas vidas, por isso a Aldeia quer ser um espaço onde os pais podem estar com os filhos, ao mesmo tempo que trabalham ou conversam com outros pais. Por isso, criaram um espaço onde cabe uma cafetaria, uma sala de actividades e uma galeria de arte. “Que nós saibamos, em Lisboa não há um sítio assim.”

A ideia amadureceu depois de as duas fundadoras terem feito um curso de empreendedorismo no Centro Nacional de Apoio ao Imigrante. Da ideia à concretização, a Aldeia demorou mais de um ano e meio a tomar forma, pela dificuldade em encontrar o espaço que correspondesse às “muitas exigências e ao pouco dinheiro” que tinham. Acabaram por encontrá-lo e, agora que está de portas abertas, Paula e Sonia querem-no em permanente construção.

“Quando abrimos, os vizinhos ficavam muito na dúvida do que era a Aldeia. Se era uma creche, ou um ATL. Alguns perguntavam se era preciso ter filhos para poder entrar”, conta Sonia. E quando perguntámos qual é, afinal, o conceito do espaço, não temos uma, mas várias respostas: “Somos uma cafetaria aberta ao público, num espaço onde as famílias podem vir e onde não é obrigatório consumir. Somos uma livraria infantil, ainda tímida. Uma loja de artesanato feito por outras mães.” Mas também um “centro de actividades para toda a família”, onde há concertos de música para bebés, oficinas de artes, ilustração e escrita, teatro, aulas de dança ou de ioga com o Tejo como fundo. Ou ainda workshops de comida saudável, uma preocupação que as fundadoras tiveram também na cafetaria onde disponibilizam doces sem glúten, leites vegetais, papas e sumos biológicos para tentar responder a todas as dietas.

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