Fugas - Viagens

  • Nelson Garrido
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Viajar para o mundo do silêncio, a 100 metros de profundidade

Armando defende que o mergulho é um desporto seguro, tanto que já o fez mais de três mil vezes e só se consegue lembrar de um grande susto — e quando já estava fora do fato de mergulho. Na volta de um mergulho no Sri Lanka, o mar pregou-lhes uma partida e virou o barco onde iam, deixando-o ficar lá preso durante alguns segundos. Aqui sim, sentiu medo. Quando finalmente se conseguiu soltar, nadou em direcção a uma pequena aldeia e, ao levantar os olhos para terra, viu o condutor do barco, um nativo da ilha, a fugir enquanto outros corriam atrás deles empunhando paus. De repente, deixou de ter assim tanta pressa de sair do mar. Hoje ri-se quando se lembra do susto e de como acabou: com esses mesmos habitantes a tratarem as “feridas dos mergulhadores com lamas” e a culparem o condutor do barco de os ter levado para o mar, mesmo com condições pouco favoráveis.

Armando não consegue imaginar um susto capaz de o afastar do mergulho. Na verdade, não consegue imaginar-se longe do mar. Já tem tudo pensado: se algum dia deixar de ter força para carregar a garrafa de ar, carrega-a o neto, agora com dois anos e próximo companheiro de mergulho (esta actividade é sempre feita aos pares).

Também em todas as férias que faz acaba a mergulhar. Há um mês esteve na Indonésia: uma semana para andar de carro pela ilha de Java e cinco dias numa praia a mergulhar.

Nas viagens de turismo subaquático organizadas pela Escola de Mergulho do Norte, onde ainda é instrutor, quer seja a Sesimbra, Berlengas, Algarve ou México, Bahamas, Cabo Verde ou Egipto, a fórmula é diferente.“Toca a sineta de manhã, vamos mergulhar. Toca a sineta, voltamos para tomar o pequeno-almoço. Quando toca a sineta ou é para comer ou é para mergulhar”, explica.

Na sua casa no Porto, espalha pela mesa antigos cadernos de mergulho, livros de Cousteau e Hass e fotografias de fundos do mar e outras imagens onde está suspenso ao lado de tubarões, ainda a muitos metros do fundo. “As coisas mais bonitas que já vi foram debaixo do mar, de longe”, diz-nos enquanto arruma o espólio, “nós saímos deste mundo e entramos noutros”. Quando mergulha deixa de sentir o peso da gravidade, não ouve telemóveis a tocar nem o trânsito lá fora, só se ouve a si mesmo, a inalar e a exalar. Por tudo isto é que Cousteau lhe chamava o mundo do silêncio e também por tudo isto é que, quando neste sábado lhe perguntamos quando vai ser o próximo mergulho, a resposta é pronta: “já amanhã”.

 

Resposta rápida

Qual é o melhor sítio para mergulhar?

Isso é quase como os surfistas que andam sempre à procura da onda ideal. Eu gosto muito de mergulhar no mar Vermelho com tubarões. Em certas regiões, porque há outras que estão com turismo a mais.

 

O mergulho também sofre de demasiada exploração turística?

O mergulho hoje em dia movimenta mesmo muita gente. Tem ideia que o Egipto recebe mais pessoas para mergulhar do que para ver as pirâmides? A mim custou-me a acreditar, até lá ter ido.

 

Que preparação é precisa para se inscrever num curso de mergulho?

Nenhuma específica. Tem de ter à vontade na água e ter pelo menos 14 anos.

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