Fugas - Viagens

  • Nuno Ferreira Santos
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A moda da mindfulness deixa-a numa encruzilhada

A associação Círculo do Entre-Ser é inspirada nos ensinamentos de Thich Nhat Hanh. Em que diferem dos outros “budismos”?

Thich Nhat Hanh tem uma abordagem bastante inovadora e até mesmo revolucionária em relação ao budismo tradicional. Ele viveu a experiência da guerra do Vietname e foi nesse contexto que percebeu que a atitude justa não era ficar nos mosteiros apenas a meditar e a orar enquanto as bombas caíam mas ir para junto das pessoas tentar minimizar o seu sofrimento. Entendeu que hoje o budismo só pode ser um budismo comprometido.

Não podemos estar em atenção plena apenas para nós próprios mas para o mundo. E hoje em dia existem muitos problemas que não existiam no tempo do Buda Siddhartha Gautama, há 2600 anos, e por isso o budismo tem de se actualizar e estar atento a estes novos fenómenos (exploração económica, alterações climáticas, entre outros). Senão é um budismo morto, cristalizado. Então tentou formar uma comunidade onde exista uma união perfeita entre contemplação e acção, em que as pessoas estejam empenhadas numa intervenção no mundo, todavia não movida pelo ressentimento ou pela raiva, como acontece com boa parte dos activistas, mas movidos fundamentalmente por compreensão, amor e compaixão por todos, vítimas ou agressores.

Nem todos os mestres e escolas budistas deram este passo. Depois, Thich Nhat Hanh tem trazido para o budismo uma maior atenção às questões sociais, ambientais e ao diálogo inter-religioso. Dalai Lama é também exemplo disso. São certamente os mestres budistas mais conhecidos no mundo e inspiram milhares de pessoas que não são budistas mas que se reconhecem na mensagem universalista. É uma inovação importante no contexto da própria história do budismo porque é um discurso que sai dos limites da filosofia budista e assume uma mensagem universal.

Existem estimativas quanto ao número de praticantes de meditação em Portugal?

Que eu conheça, não. Mas penso que está a aumentar muito significativamente. Vejo-o pela afluência aos nossos cursos mensais [da associação Círculo do Entre-Ser]. Este espaço já não dá para tantas pessoas, temos de fechar as inscrições antecipadamente. E sei que noutros centros o fluxo também é grande. É claro que nem todas as pessoas começam a praticar regularmente, mas pelo menos um terço, cremos que sim. Em relação ao número de budistas em Portugal, estimamos que, entre praticantes e simpatizantes, existam cerca de 15 mil pessoas. Os praticantes de meditação serão certamente mais. Acredito que pelo menos dezenas de milhares de pessoas e que esse número esteja a crescer.

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