Essa descoberta levou a Real Companhia Velha a repetir a experiência em 2002, quando Gabriela Canossa era responsável pela Fine Wine Division da empresa. O sucesso foi enorme e a Real voltou a produzir o Grandjó, sempre em pequenas quantidades, em 2004, 2005, 2006 e 2007.
Gabriela Canossa esteve ligada às primeiras três colheitas. Em Junho de 2006, saiu da empresa, colocando um ponto final a uma relação de sete anos. A enóloga entrou na Real Companhia Velha para substituir Jorge Moreira, que havia saído para fazer o seu próprio vinho no Douro, o Poeira, e assumir a enologia da Quinta de La Rosa. Em 2010, Jorge Moreira regressou à Real como responsável máximo pela enologia da empresa e que antes era assegurada pelo americano Jerry Luper.
Da sua passagem pela Companhia, Gabriela Canossa traz ainda a satisfação de ter sido responsável também pelo lançamento do vinho Quinta do Cidrô Pinot Noir e a experiência de trabalhar numa empresa que vendia mais de oito milhões de garrafas. Agora, é coordenadora do painel de provas da revista Wine Passion, está a criar, de raiz, um arrojado projecto no Douro para um empresário e responde pelos vinhos de três produtores Casas Altas (Beiras), Quinta do Vale de Bragão e Quinta da Revolta (Douro)-, que, em conjunto, não produzem mais do que 250 mil garrafas.
Ironia do destino, um deles, a Quinta do Vale de Bragão, situada em Sabrosa, esteve na origem, há 20 anos, da sua decisão de se dedicar à enologia, quando "já estava formatada para ser artista plástica", recorda. Gabriela tinha seguido a via das artes durante o secundário, mas, a dada altura, sentiu "a necessidade do contacto com a natureza" e decidiu "ir estudar para a Escola Agrícola de Santo Tirso", conta. Foi nesta cidade que conheceu o médico Asdrúbal Mendes, numa consulta, e que, em conversa, lhe perguntou se tinha conhecimento da abertura do curso de enologia, em Vila Real. Gabriela não sabia, mas ficou interessada. Mal acabou a regência em agro-pecuária, inscreveu-se na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde fez o curso de enologia.
Durante o curso, estagiou na Taylor's. Já licenciada, abriu uma galeria de arte em Vila Real e foi fazer uma vindima à Real Companhia Velha. E ficou sete anos. Durante este período, os seus caminhos voltaram a cruzar-se com os de Asdrúbal Mendes, que vendia uvas para aquela empresa. Quando Gabriela Canossa deixou a Real, a Quinta do Vale de Bragão deixou também de trabalhar com a família Silva Reis e contratou a enóloga. "O dr. Asdrúbal costuma dizer que que é como o Zandinga e que havia preparado a minha ida há 20 anos, quando me falou no curso de enologia em Vila Real", graceja.
Gabriela não tem dúvidas que aquela consulta em Santo Tirso foi decisiva para o rumo que a sua vida tomou. "A minha família não tem nenhuma ligação ao vinho, é uma cambada de urbano-depressivos", diz. A galeria de arte ainda esteve aberta durante cinco anos.
10 enólogas: As mulheres estão a tomar conta das adegas
Há dezenas e dezenas de mulheres a fazer vinho
por Pedro Garcias
Sandra Tavares da Silva | Quinta do Vale D. Maria
Filipa Pato | FP Wines
Sandra Gonçalves | Dona Maria
Filipa Tomaz da Costa | Quinta da Bacalhôa
Graça Gonçalves | Quinta do Monte d'Oiro
Rita Marques Ferreira | Conceito
Gabriela Canossa | Quinta da Revolta
Joana Roque do Vale | Roquevale
Lúcia Freitas | Dão Sul
Susana Esteban | Solar dos Lobos