O processo é ainda mais exclusivo no caso das uvas sem grainhas, uma vez que, depois da selecção por cachos, há uma fase de selecção por bagos (um trabalho que implica saírem cerca de 30 por cento mais caras que as uvas com grainha). Passamos a um exemplo prático. Suponhamos que cada lançamento numa determinada área de plantação tem três cachos.
Então deita-se o pior dos três para o chão, logo na pré-floração. Depois, no engrossamento, os maiores lançamentos ficam com dois cachos e os mais pequenos só com um. Finalmente, na época do pintor, só se conservam os melhores cachos na planta. Se a variedade for sem grainha e, suponhamos, um cacho conseguir produzir 280 bagos, estes são cortados até (por exemplo) se chegar aos 120, para estes ficarem mais grossos e com melhor sabor.
Usar as tesouras é a técnica fundamental, mas há outras operações que convergem para o mesmo efeito, incluindo amputar o córtex da planta. Este expediente não inibe a subida da seiva bruta, mas cria obstáculos à descida da seiva elaborada, que até encontrar um circuito alternativo se demorará mais a alimentar o cacho e a engordar os bagos.
Choque do frio
Se optimizar a qualidade da produção da uva de mesa é um das grandes apostas do Vale da Rosa, outra é estender ao máximo o período da colheita que por estas bandas se alonga até meio ano, enquanto noutros lados não vai além dos dois meses. Aumentar o calendário de produção implica, contudo, trabalhar variedades que produzem precocemente, caso da uva com grainha Cardinal, que se começa a colher logo em Junho, bem como de variedades que amadurecem mais tarde, por exemplo a Black Pearl, outra variedade com grainha que se consegue colher quase até finais de Novembro.
Produzir variedades precoces implica usar o sistema de pérgula com estufas para a sua área de plantação ficar toda fechada, incluindo as laterais, que passam a ser enroladas quando as noites já não são tão frias. As espécies mais tardias, por outro lado, dispensam a protecção do frio, empregando apenas cobertas para evitar o apodrecimento e atrasar ao máximo a data de colheita.
Quilómetros e quilómetros de terras ondulantes, tapadas com plásticos, como uma espécie de Almeria em pequena escala, não fazemcertamente do Vale da Rosa um dos recantos mais atraentes do Baixo Alentejo. Deve, porém, reconhecer-se que o plástico resulta e que a eficácia é mesmo tudo o que conta nesta herdade, onde o ciclo produtivo nem sequer encerra com as vindimas. Seguese o "choque do frio", operação democraticamente aplicada a todas as variedades, que se destina a enrijecer e aumentar a durabilidade da fruta. Esta deve chegar a cerca de três graus às prateleiras dos supermercados em Inglaterra e a coisa de sete graus às grandes superfícies do mercado interno.
Se em relação às uvas com grainhas não parece haver grande coisa para aprender, em contrapartida a fase de pioneirismo no que toca à implantação das uvas sem grainhas no Alentejo está ainda longe da conclusão. Daí a presença de técnicos chilenos e argentinos no Vale da Rosa e a experimentação constante de novas variedades. Daí também a parceria estabelecida pela herdade alentejana com a empresa californiana Sun World, num regime semelhante ao franchising. Explica António Silvestre: "Nós fazemos os testes desta ou daquela variedade de que a Sun World é detentora e depois passamos à plantação em larga escala das que se dão melhor.