Mas, acima de tudo, embandeirar em guerras comerciais suicidas em busca de mais umas décimas de quota de mercado, fazendo desabar os preços até ao limite do insustentável, mesmo entre as categorias especiais, revela uma estratégia suicida e de falta de visão a médio e longo prazo, muito pouco consentânea com a história do Vinho do Porto. Guerras comerciais absurdas que fizeram mais pelo descrédito do Vinho do Porto do que qualquer escândalo que alguma vez pudesse ter ocorrido. Que imagem de marca poderá alguma vez ter o Vinho do Porto se uma categoria tão especial como o Porto LBV acabou a ser vendida a pouco mais de 10 euros nas prateleiras de supermercados ingleses? Depois de erros tão grosseiros como este, quantos consumidores ainda sentirão predisposição para associar palavras como qualidade, exclusividade, prestígio ou esplendor ao Vinho do Porto?
Por isso, o Vinho do Porto sofre hoje de uma imagem tão debilitada e depreciada nos seus mercados capitais. E precisamente por isso foi tão decisiva e necessária a muito recente edição de um dos Vinho do Porto mais grandiosos e espaventosos de sempre, o Scion, editado pela Taylor's, provavelmente a marca mais prestigiada e reconhecida do universo do Vinho do Porto. Decisiva pelos predicados particulares do Scion, num vinho de uma complexidade mágica, absolutamente sublime em todos os detalhes, com esse toque de extravagância extra de ser um vinho de 1855, proveniente de duas pipas religiosamente conservadas pelos antigos proprietários, passadas de geração em geração como testemunho da família e como garantia financeira para um momento de apuro. Mas sobretudo decisiva pela raridade e pelo preço quase demencial a que foram propostas, com um valor inicial que ultrapassou a barreira dos 2500 euros, uma soma quase irreal e com o qual o Vinho do Porto não estava familiarizado.
Um Porto de luxo, vendido a um preço correspondente ao estatuto faustoso, engarrafado numa embalagem de luxo, devolvendo uma imagem de deslumbramento e fascinação que tanta falta faziam ao Vinho do Porto. Uma empreitada corroborada por outras edições igualmente sumptuosas da Andresen, com os Colheita 1900 e 1910, com o Vinho do Porto Muito Velho da Roncão e o futuro Memórias do Século XIX da Real Companhia Velha. Uma mensagem de exclusividade e prestígio que os produtores de whisky há muito compreenderam, visível no lançamento periódico de edições raras de whiskies velhos vendidos a preços estratosféricos. Ora, se um whisky com pouco mais de 60 anos pode chegar a atingir preços que rondam os 25.000 euros, o que impede um Vinho do Porto com 155 anos de arribar perto desses valores? Basta acreditar nos seus produtos... e saber vendê-los, como a Taylor's o soube fazer tão bem fazer com o Scion. Uma estratégia que fez mais pelo Vinho do Porto que muitas campanhas institucionais juntas.