A recente vertente de enoturismo ainda tem muito por onde crescer e, até agora, a vindima ainda não foi aberta ao exterior. Mas o processo da monda - retirar cachos quando em número excessivo para melhorar a qualidade da uva final - já foi partilhada por convidados num pacote que incluía ainda a experiência de casar gastronomia e vinhos com o chef José Júlio Vintém, do restaurante Tomba Lobos.
Ainda sem possibilidade de arregaçar mangas, há sempre a opção de seguir um dia de vindima que começa quando a uva assim o entende: "Queremos que o vinho saia o melhor possível e para isso temos de respeitar uma série de regras", explica Rita Carvalho. "É a uva que dita quando está pronta e depois disso temos de ser rápidos." Até porque este "é um processo em que a dada altura se deixa de ter algum controlo". Isto "se se quiser respeitar a uva e o campo".
Rápidos e madrugadores, acrescentamos nós. Assim que o sol nasce começa a azáfama, aproveitando ainda as horas mais frescas do dia. "Em Agosto começávamos às seis; agora estamos a começar pelas seis e meia". Cerca de 30 minutos depois do início da jornada, a Fugas chegava ao local e já caixas cheias de redondinhos bagos escuros - "se a casca se desfizer na boca e a grainha se revelar crocante, é sinal de que está pronta" - iam ocupando as fileiras de vinha.
Caixas e conversas que "animam os homens" (este ano, no campo só havia homens; já na adega foi o sexo feminino a predominar ao longo da vindima) e ajudam a passar o tempo. "Trabalha-se até às duas e meia da tarde, mais ou menos, mas a partir de uma certa hora já se está a preparar o trabalho do dia seguinte: é preciso lavar as caixas, os tractores, a maquinaria...".
"É um trabalho duro", conclui Rita Carvalho. Depois de um ano a cuidar da vinha, debaixo de chuva ou sol, as vindimas são o culminar de todo o investimento de cada um.
Mas isso não quer dizer que já não haja muito a fazer. No campo, há trabalho para o qual é preciso olho vivo, para escolher os melhores cachos, e ao mesmo tempo uma certa delicadeza, para não danificar as varas ao cortá-los. "Cada cacho de uva é [para quem os colhe] super valioso" e "qualquer cacho que caia ao chão [alguém] vai apanhar com todo o cuidado para não se perder", relata a enóloga.
Não é preciso só cuidado; é necessária rapidez e vários pares de mãos extra. Tanto que é a altura em que surgem os trabalhadores sazonais: "isto está a acabar e depois vou para a fruta, para Espanha", comentava um dos homens enquanto as suas mãos empedernidas vão pegando e cortando cacho a cacho com uma gentileza insuspeitável. O objectivo, explica a especialista em vinhos, é começar e acabar um talhão e, ao mesmo tempo, encher um depósito num só dia. Uma regra que irá determinar a qualidade do vinho e, quando se chega ao fim da jorna com um depósito por encher, então é preciso um esforço extra. "E se se tiver de colher ao sábado ou ao domingo, então colhe-se." Mas a labuta não acaba com o corte dos cachos. É ainda preciso força de braços para carregar as caixas que vão sendo empilhadas num atrelado. E, por fim, cuidados redobrados ao despejar as caixas no tractor que levará as uvas à triagem final. "É o resultado do trabalho de um ano destes homens; têm muito respeito pela uva", acrescenta Rita Nabeiro, administradora da Adega Mayor.