Nos campos em redor os "rogas" (trabalhadores) não sabem quanto vão receber pelo seu trabalho, na enoteca os participantes pagam 55 euros para viverem uma experiência de vindimas tradicionais. Depois da recepção, balde e tesoura na mão e uma visita aos vinhedos para o corte das uvas ao som de concertinas.
Uma hora no campo e depois a visita à Adega de Favaios que antecede um almoço regional, novamente na Quinta da Avessada pataniscas com arroz de feijão, alheira e grelhados mistos, enumera Luís Barros, responsável pelo projecto.
À tarde, a prova documentada de vinhos licorosos dá o alento para a pisa das uvas acompanhada por um grupo de cantares e o dia termina com um lanche típico ("à base de fumeiros"), regado a vinhos do Douro.
Quando não há vindimas, a Enoteca do Douro, que tem 30 produtores e engarrafadores do Douro associados e uma "biblioteca" de vinhos que representa toda a região, não pára, recorrendo à tecnologia para recriar o modo de vida da região, os seus costumes e tradições. As paredes de xisto de um armazém onde "há cem anos já se produzia moscatel de forma industrial", conta Luís Barros, guardam uma "montra" para os vinhos aqui representados e para o passado com manequins robotizados a, por exemplo, simular a pisa da uva tradicional.
O pão
Conhecíamos o moscatel, já descobrimos outros vinhos e preparamo-nos para provar outra das especialidades da terra, o pão de Favaios, o trigo de quatro cantos.
Há oito padarias a laborar aqui, a mais conhecida é a de Manuela "Barriguda" (Fernandes) quando é fotografada, pá em riste, à beira do forno, tira-nos as palavras da boca: "Pareço a padeira de Aljubarrota", brinca. Anafada e rubicunda recebenos com a primeira fornada de pão quase a sair serão 500 hoje (0,40 euros cada).
No dia seguinte, sexta-feira, serão mais de mil e o trabalho vai entrar pela noite fora dela e da filha, ali na padaria tradicional (azulejo branco, balcão de madeira e mármore e nada mais na parte da "loja", mais azulejos brancos, balcões despidos e amassadeira eléctrica nas traseiras, onde os dois fornos a lenha, aquecem o ar). O marido está na distribuição, a outra filha também ajuda ocasionalmente, e os netos também não o recusam.
Quando lhe dizemos que corre na vila que o seu pão é o melhor, encolhe os ombros: o segredo é a farinha, de trigo, nunca corrigida.
"A farinha que a minha mãe já gastava", conta ela que herdou o ofício dos pais (o pai já era o "Barrigudo") aos sete anos e nunca quis fazer outra coisa (excepto aprender a ler). Mostra com orgulho o calo na mão, "de bater a massa", e faz a demonstração: os movimentos ágeis compõem rapidamente o pão, forma de laço, grande há uns mais pequenos, feitos para as crianças, "mimos" que Manuela oferece.
Não vimos o teatro de rua (pela Oficina de Teatro de Favaios, fundada em 2006) que também anima Favaios, normalmente em espectáculos defronte do Museu do Vinho e do Pão, ali nas imediações dos antigos paços do concelho (a vila teve foral e foi sede de concelho agora pertence a Alijó), mas este está fechado para obras. No entanto, cumprimos quase todo o circuito mais ou menos integrado do enoturismo de Favaios e tivemos um inesperado momento eucarístico. Na padaria de Manuela "Barriguda" comemos o pão quente com manteiga a derreter e vinho moscatel "caseiro" a acompanhar.