Fugas - Vinhos

Viver o vinho num cinco estrelas alentejano

Por Carla B. Ribeiro e Joana Bourgard (vídeo)

Não é uma adega mas é à volta dela que todo o projecto, inclusive o de arquitectura, brota. Visita ao L'AND Vineyards, um recém-inaugurado resort de cinco estrelas em Montemor-o-Novo, onde o vinho também se vive.

A opção não foi casual: "a adega foi feita propositadamente como uma montra para as pessoas estarem completamente inseridas no mundo vínico", explica Patrícia Ramos, a enóloga responsável pelo Wine Club, um dos pilares no qual assenta o novel projecto de enoturismo e que conta com o apoio e coordenação do enólogo Paulo Laureano. "A ideia [do Wine Club] é que cada proprietário possa fazer o seu próprio vinho", explica José Cunhal Sendim, do grupo Sousa Cunhal, um dos promotores do projecto que envolveu um investimento de 44 milhões de euros. Para tal, cada proprietário pode optar por ter vinha no seu jardim. O L'AND encarrega-se da implantação da casta seleccionada, do tratamento e poda, da vindima, vinificação, engarrafamento e rotulagem.

Aos residentes é entregue o prazer de saberem estar a fazer o seu próprio vinho. "Deixamos a parte boa para os proprietários", brinca Patrícia Ramos. Os membros deste clube podem, porém, participar em qualquer parte do processo vinícola, decidirem se o seu vinho será leve ou robusto, o aroma que exalará, as notas que deixarão mais marcas na boca e o desenho do rótulo que torneará as suas garrafas. E, no fim, apreciarem um vinho só seu para "oferecer, vender ou guardar... o que quiserem". Contudo, para viver o vinho neste resort não é preciso estar hospedado no hotel ou ser proprietário de uma das villas.

Tendo por base a ideia de dar a conhecer mais sobre o vinho, "há cursos vínicos e provas diárias" além de ser possível pertencer ao clube de vinho sem ter qualquer ligação ao empreendimento. Mas desenvolver um conceito como este nem sempre é fácil e está sujeito aos caprichos do tempo.

Enquanto nos mostra as vinhas, Patrícia explica que o ano foi um desafio para os cinco hectares e meio plantados na herdade: o míldio, uma das principais doenças da videira, não deu tréguas e o tempo não ajudou. As chuvas do fim de Agosto baixaram o grau alcoólico da uva e agora é preciso esperar para avançar com a vindima - algo que deverá acontecer por estes dias e cujo ponto alto deverá chegar no próximo fim-de-semana com uma Moon Harvest, de 23 para 24 de Setembro: uma vindima realizada sob as estrelas que, aqui, se deixam contemplar em toda a sua grandeza e sem quaisquer obstáculos visuais.

Vinho, elemento vivo

O L'AND Vineyards começou a ganhar forma há cinco anos e começou precisamente pela componente enológica. "A primeira coisa que fizemos em 2006 foi plantar a vinha", recorda José Cunhal Sendim. A ideia surgiu muito antes, "a partir de uma necessidade de um património [da empresa familiar]". "Somos uma empresa ligada à área agrícola e já fazíamos vinho daí surgiu a ideia de criar um wine resort, ou seja, um empreendimento em que um dos pilares fundamentais é a enologia: por um lado, como elemento que estrutura a paisagem e, por outro, como elemento vivo com a criação de uma adega e de um clube de vinho." O néctar de Baco não é apenas servido para alimentar a alma e mimar o palato. Neste L'AND Vineyards é também usado para cuidar do corpo. É o que acontece no spa, explorado pela Caudalie, especialista em vinoterapia e também presente no prestigiado The Yeatman, nas margens durienses de Vila Nova de Gaia.

Nos seus produtos, estão presentes os efeitos anti-oxidantes dos polifenóis de grainhas de uva, a protecção imunitária garantida pelo resveratrol (substância que faz parte do sistema imunitário da vinha) e a acção anti-manchas da viniferina.

Mas nem só à volta do vinho se desenvolveu o L'AND. Outro dos pilares do resort é o sentido de exclusividade. A começar pela paisagem envolvente, de um verde seco amenizado por um lago artificial (ainda falta analisar a água para se saber se será possível usar o lago para banhos e actividades náuticas) e com o Castelo de Montemor no horizonte.

A paisagem, elemento fulcral para dar corpo ao conceito de o exterior ser uma continuação dos interiores e vice-versa, foi assumida por João Ferreira Nunes: além da vinha, há áreas de olival, pomar e montado.

No terreiro central, para onde suites e edifício central confluem, há ainda espaço para ervas aromáticas que, misturadas com o aroma da vinha, perfumam a herdade. À nossa volta, o branco das estruturas rectilíneas contrasta com os verdes de várias tonalidades e com as plantas autóctones que se revelam coloridas, num misto de brancos, amarelos e violetas.

O projecto de arquitectura foi entregue ao ateliê Promontório Arquitectos que desenvolveu um conceito que passa por unir interior e exterior através de casas-pátio. "Queríamos uma arquitectura marcadamente moderna, sóbria e pura, mas ligada ao tema das casaspátio do Mediterrâneo" e, ao mesmo tempo, uma arquitectura que "transmitisse a ideia de conforto".

Nos interiores, da responsabilidade do brasileiro Márcio Kogan, a unicidade continua a ser um requisito assim como o conforto. Num casamento entre contemporaneidade e as mais profundas raízes do Alentejo rural e principalmente vinícola, há peças exclusivas e outras desenhadas especificamente para aqui como as mesas dos pátios comuns do edifício central, com a assinatura do próprio Kogan, ou uma reedição de cadeiras da década de 70. Tudo com o objectivo de "criar uma marca, a marca L'AND " ao mesmo tempo que este esforço "reforça a identidade do hotel".

Uma coisa é certa: cada peça foi pensada para se entranhar no espaço, tenha ela vindo da vizinha Montemor ou de paragens longínquas e até orientais, como os marcadores no restaurante assinado por Miguel Laffan e onde o chef promove a simbiose entre a cozinha contemporânea e os melhores ingredientes regionais. "Com tanta oferta e bons restaurantes à nossa volta, não fazia sentido dedicarmonos à cozinha alentejana", explica Cunhal Sedim. Isto sem, claro, desprezar o vinho numa intenção clara de casar gastronomia com o nervo central do empreendimento.

"O nosso objectivo era fazer um projecto que criasse valor a médio e longo prazo não só através dos postos de trabalho, mas através de um valor cultural que pudesse contribuir para a qualificação da região." Para quem chega à herdade, a aposta do L'AND resulta por isso numa nova maneira de viver o vinho e todo o mundo que o envolve: desde as vinhas até à prova final.


Como ir

A herdade situa-se a 4 km de Montemor-o-Novo, distrito de Évora, ficando a cerca de 100 km de Lisboa, a maior parte dos quais se podem fazer por auto-estrada: A2 até saída 7 (A6 Espanha / Évora / Montemor-o-Novo); A6 até saída 3.
Do Porto, são cerca de 380 km: A1 até à saída 6 (A2/A6/A13) e seguir as direcções da A2/A6.

As visitas

Diariamente, é possível visitar a adega e participar em provas todos os dias, das 11h às 17h. São organizados ainda cursos de enologia e programas culturais e gastronómicos. Marcações através de p.ramos@l-and.com ou dos números 266242400 e 910972757.

O hotel

O L'AND Vineyards, unidade de cinco estrelas na Herdade das Valadas, apresenta-se como "um boutique resort de luxo" que "elege o vinho como âncora da sua inspiração e integra a arquitectura na Natureza, promovendo uma atmosfera única de luxo sóbrio, beleza natural e tranquilidade".

Das 22 suites, algumas permitem a abertura completa do tecto do quarto, proporcionando um sono sob as estrelas. Os espaços, com ou sem vista de estrelas, incluem terraço privado com lareira, iPad, sistema de som Bose para iPod, televisão LCD, entre outros apetrechos. Algumas suites oferecem ainda jacuzzi exterior. Uma noite para duas pessoas custa desde 200€.

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