Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

Grandes tintos para passar do Verão ao Outono

Por Rui Falcão

O Outono assinala o regresso aos pratos mais substanciais, devolvendo espaço para os vinhos tintos de transição. Conheça algumas das propostas mais racionais, entre a leveza e subtilidade, para a nova estação.

Enquanto por todo o país decorrem as vindimas, naquele que se afirma como um ano atribulado e provocador, como mais um ano atípico pronto para desafiar todas as regras e convenções da natureza, é tempo de começar a celebrar a chegada do Outono com a redescoberta dos vinhos tintos. Sobre esta vindima falaremos um pouco mais adiante, quando o tempo for já propício para conclusões, quando existir substância factual para poder lançar um juízo mais seguro e terminante.

O que se sabe sim, é que com a chegada do Outono, com a diminuição progressiva da temperatura e a redução do número de horas por dia, o chamamento para os encantos do vinho tinto cresce de forma exponencial. Regressam os pratos mais substanciais, a pedir vinhos mais encorpados... tal como regressam os agasalhos, por ora ainda leves, e com eles a tentação de começar a pedir vinhos mais intensos e estruturados, mesmo se os tempos de Inverno e dos vinhos mais corpulentos ainda se afiguram como uma realidade algo distante.

Neste período de transição brilham os tintos mais leves e subtis, estruturados mas não pesados, frutados e alegres, capazes de fazer a ponte entre as duas estações mais estremadas do ano. Um capítulo onde sobressaem de forma especial os vinhos do sul, de clima mais quente e maturações mais consequentes, capitaneados de forma natural pelo Alentejo, embora igualmente bem representados pela península de Setúbal, Tejo e Lisboa.

Entre as muitas opções emblemáticas e atraentes, merecem especial destaque o Loios 2010, de João Portugal Ramos, e o .com 2010, de Tiago Cabaço, ambos do Alentejo, ambos de Estremoz, ambos senhores de uma relação qualidade/preço quase imbatível, propostos abaixo do patamar psicológico dos 5€.

O muito agradável Loios 2010 veste-se de cor vermelha viva e brilhante, apresentando-se repleto de fruta agradável e sociável, num estilo fácil que, embora directo na abordagem, oferece uma frescura notável. Objectivo mas sedutor, o Loios 2010 demonstra ser um verdadeiro mestre na relação qualidade/preço, a equação mais difícil de obter.

O .com 2010, por sua vez, que se apresenta embrulhado numa cor vermelha rubi muito intensa, anuncia-se igualmente expressivo na fruta, profundo e especiado, estruturado e consistente, macio nos taninos, solto e equilibrado, terminando tenso e revigorante graças à frescura vigorosa do final de boca.

Mas o Alentejo dos vinhos tintos agradáveis e propostos a bons preços não se esgota nestes dois vinhos, espraiando-se por mais de uma dúzia de propostas igualmente tentadoras. Basta olhar para o Adega de Borba Premium 2008, que, tal como o nome indica, provém da Adega Cooperativa de Borba, de cor vermelha carmim muito carregada, quase opaca. Tudo nele aponta para um registo francamente frutado, onde as cerejas e ameixas se juntam com os toques herbáceos que se sentem no fundo do copo. Um tinto agradável, prazenteiro, suave, de gosto universal e sedução garantida.

Num registo semelhante descobrimos o Fado Reserva 2008, do produtor Terras d'Alter, sito em Alter do Chão, um tinto de cor vermelha rubi intensa. A fruta delicada irrompe entusiasmada pelo nariz dentro, festejando com uma profusão arrebatada de notas de cerejas, morangos e mirtilos, apontamentos que são prontamente replicados na boca, acompanhados por taninos doces e por uma acidez mais do que conveniente.

--%>