Em 2008, a Real Companhia Velha, da família Silva Reis, fez um grande negócio, ao adquirir ao grupo Proinsa 51 por cento da Quinta de Ventozelo, junto ao Pinhão. Em 1990, já tinha feito um ainda melhor, ao vender 40 por cento da empresa à Casa do Douro por cerca de 50 milhões de euros. A venda salvou a Companhia e afundou a Casa do Douro. Com Ventozelo, quase aconteceu o mesmo: o negócio ia correndo mal ao grupo galego.
Ventozelo é a maior propriedade do Douro, fazendo extrema com a Quinta das Carvalhas, a jóia da coroa da Real Companhia Velha. Juntas, as duas quintas somam mais de mil hectares e uma capacidade de produção anual da ordem das três mil pipas de vinho. Não havia nada igual no Douro.
Dizemos "não havia", porque, no passado dia 14 de Setembro, o grupo galego retomou a propriedade; e fê-lo com grande aparato, instalando segurança à entrada da propriedade e pedindo ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) que selasse os vinhos existentes na quinta. Toda a gente foi apanhada de surpresa, incluindo os responsáveis da Real Companhia Velha. A quinta, com uma área de cerca de 600 hectares, estava em plena vindima.
Apesar das várias tentativas, a Fugas não conseguiu falar com José Juan Fernández, o presidente da empresa que gere Ventozelo. Do lado da Real Companhia Velha, a sua administração também prefere manter o assunto na esfera privada. Mas a razão principal do desfecho é conhecida: crise económica.
O acordo estabelecido em 2008 entre a Real e o grupo Proinsa previa uma troca de participações entre as duas empresas: a companhia ficava com 51 por cento de Ventozelo, assumindo a gestão e exploração da quinta, e os galegos ficavam com 51 por cento de um projecto imobiliário conjunto a ser lançado em Gaia a partir de imóveis e terrenos pertencentes à empresa portuguesa. Este projecto previa a construção de um complexo comercial e de escritórios e iria ser gerido por uma entidade escolhida pelo grupo galego.
Mas a crise financeira e económica mundial veio baralhar os planos e o projecto imobiliário foi sendo adiado, com prejuízo, sobretudo, para os galegos. Sem o imobiliário, a Proinsa tentou obter uma maior fatia nos resultados de Ventozelo, que também foram diminuindo. "Eles julgam que têm ali uma mina. A quinta é interessante, mas com a crise actual é muito difícil tirar dinheiro de alguma propriedade no Douro", comentava um responsável da companhia.
Apesar de a Real Companhia Velha ter tido um papel determinante na resolução dos litígios judiciais que a Proinsa mantinha com o antigo proprietário da quinta, Miguel Viana, o descontentamento dos galegos foi aumentando, até porque existiria um acordo tácito entre as duas partes que garantia à Proinsa um rendimento fixo. Mas isso não terá ficado escrito. Os galegos estavam, sobretudo, descontentes com o pouco envolvimento da empresa portuguesa no projecto imobiliário, suspeitando do interesse da empresa portuguesa em desistir do investimento e alienar os terrenos. Por uma ou por outra razão, o clima de tensão foi-se agravando nos últimos meses e, no passado dia 1 de Setembro, a Real Companhia Velha decidiu resolver o acordo, desistindo de Ventozelo.