Um estrangeiro que aterre hoje pela primeira vez em Portugal e passe os olhos pelas marcas de vinho do Douro expostas nas maiores garrafeiras vai pensar numa longa história de produção. Até um português mais distraído julgará que este dinamismo é longevo. Mas a realidade é bem diferente: o fenómeno dos vinhos do Douro tem apenas duas décadas. É este o arco de tempo dos vinhos da Quinta Gaivosa, da família Alves de Sousa, apesar da sua notoriedade nacional e internacional criar a ideia de que o projecto é muito mais antigo.
Engenheiro civil de formação, Domingos Alves de Sousa foi um dos pioneiros na produção de vinhos do Douro de qualidade, juntamente com a Ramos Pinto, a Quinta do Côtto e mais uns poucos. Antes, a oferta resumia-se praticamente ao Barca Velha e a um ou outro vinho de cooperativa. O primeiro tinto da Quinta da Gaivosa, desenhado por Anselmo Mendes com o apoio de Jorge Dias, actual presidente da empresa de vinho do Porto Gran Cruz, foi produzido em 1992. Até aí, a produção era toda vendida para vinho do Porto.
O ano de afirmação do projecto deu-se três anos depois, com o lançamento do Quinta da Gaivosa 1995, um dos melhores vinhos daquela década. Desde então, Domingos Alves de Sousa foi comprando quintas e lançando novos vinhos. Hoje, explora uma área de 130 hectares, distribuídos por seis quintas, e comercializa cerca de duas dezenas de referências de vinhos, exportando 75% da produção para 28 países.
É uma das mais notáveis histórias de sucesso do novo Douro, pelo crescimento e consistência do projecto (a produção é agora assegurada por Tiago Alves de Sousa, que representa a quinta geração da família, mas Anselmo Mendes continua a ser o consultor).
Não há crítico nacional ou internacional que não se deixe encantar pelos melhores vinhos da Gaivosa. Um dos maiores sommeliers do mundo, o francês Olivier Poussier, chegou a escrever na Revue de Vin de France que o Quinta da Gaivosa tinto está para o Douro como o Cheval Blanc está para Bordéus. O Cheval Blanc é um dos quatro únicos Premiers Grands Crus Classé A de Saint-Émillion (a classificação mais alta), e cada garrafa do seu vinho custa centenas de euros. O preço do Quinta da Gaivosa ronda os 30 euros.
Para assinalar as duas décadas que leva na produção de vinhos, a família Alves de Sousa apresentou recentemente três novidades: o Alves de Sousa Berço Branco 2011, o Alves de Sousa Memórias Tinto (não datado) e o Alves de Sousa Porto Vintage 2009. Este último é o primeiro vintage da casa, beneficiando já das uvas da Quinta da Oliveirinha (perto do Pinhão), adquirida em 2007, e promete grandes alegrias, pela riqueza e concentração da fruta e também pela frescura que apresenta (35 euros).
O Berço é o novo topo de gama branco da casa, produzido em Medrões (a aldeia do concelho de Santa Marta de Penaguião de onde Domingos Alves de Sousa é originário), a partir de vinhas plantadas a cotas altas e sob a influência fresca do Marão. Lote de Arinto e Avesso, é um vinho de aroma discreto mas refinado, com a madeira muito bem casada, bastante vertical e suculento no palato, mostrando uma mineralidade magnífica e um final seco e cheio de frescor. Um grande branco (25 euros).
