Mas o Alentejo exibe igualmente uma paisagem pontuada por planícies ondulantes no coração da denominação, no eixo pontuado por Évora, Borba, Redondo, Reguengos e Vidigueira, regiões de diferentes e acentuados microclimas e enorme variabilidade de solos, condições que ajudam a explicar a justeza e razão de ser das sub-regiões oficiais do Alentejo. E o Alentejo oferece um norte montanhoso, em Portalegre, região onde pontifica a Serra de São Mamede, serra de encostas acentuadas e de vinhas em altitude, vinhas centenárias de castas há muito esquecidas plantadas no inconfundível estilo português que mistura dezenas de castas na mesma vinha. Muito mais que um Alentejo existem diversos “Alentejos” que diferem entre si.
Talvez por isso, e sobretudo por o Alentejo ser responsável por praticamente metade do vinho consumido em Portugal, muitos gostariam de ter um vinho alentejano no leque de oferta. Apesar de hoje muitos pretenderem estender as suas operações ao Douro e à região do Vinho Verde, duas regiões onde muitos produtores consagrados estão a investir, a verdade é que este movimento interno de expansão começou precisamente pelo Alentejo, pela terra onde todos queriam estar presentes.
Empresas vinícolas nacionais tão fortes e reconhecidas como os gigantes Sogrape, Caves Aliança, José Maria da Fonseca, Bacalhôa ou Dão Sul, para nomear unicamente uma mão cheia de nomes, decidiram investir na compra de herdades virgens ou de produtores já estabelecidos numa tentativa de conquistar um lugar no coração do Alentejo, de conquistar uma quota importante do Alentejo e, consequentemente, do mercado nacional e internacional.
Curiosamente, e salvo as devidas e honrosas excepções, os diversos investimentos de grandes empresas vinícolas no Alentejo não resultaram da forma esperada e antecipada por essas grandes empresas. A maioria continua a lutar contra alguma falta de reconhecimento e identidade das suas marcas, debatendo-se em mais de um caso com uma viticultura nem sempre bem alinhada com as exigências e particularidades do Alentejo. Apesar do sucesso inegável do Alentejo têm sido os produtores locais a capitalizar esse sucesso, deixando pouco espaço e alegrias para as grandes empresas de fora da região. É caso para dizer que para além de se mostrar indomável o Alentejo obriga a uma presença forte e uma atenção contínua dos produtores, a um acompanhamento ininterrupto a que muitos não se têm dedicado.
Uma região curiosa que exporta produtores para outras regiões de Portugal mas que raramente se deixa conquistar por quem vem de fora. Uma região com muito mais personalidade do que por vezes alguns querem fazer crer...