Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

Alvarinho, uma grande casta

Por Rui Falcão

É uma das grandes castas brancas de Portugal e da Galiza, uma das mais sofisticadas, frescas, temperamentais e interessantes castas brancas do mundo, uma das melhores que o mundo internacional dos vinhos brancos consegue abrigar.

A par com as castas Riesling, Grüner Veltliner, Chenin Blanc, Assyrtiko e, se pensarmos nos exemplares que chegam da Borgonha, Chardonnay, o Alvarinho é uma das castas que integra o grupo reduzido das cinco ou seis melhores castas brancas do mundo.

Apesar de por vezes os nacionalismos exacerbados a quererem baptizar como casta portuguesa, reclamando a sua paternidade e nacionalidade exclusivas, a realidade mostra-nos uma ascendência transfronteiriça que se estende entre o Norte do Minho e o Sul da Galiza, entre aquilo que é conhecido como o Alto Minho português e o Baixo Minho galego. Se em Portugal ficou conhecida como Alvarinho, no lado galego foi popularizada sob o nome Albariño, designação que é hoje, infelizmente, sobejamente mais conhecida internacionalmente que o apelido português Alvarinho.

Durante demasiado tempo a região do Vinho Verde, tal como a sub-região de Monção e Melgaço e tal como Portugal de uma forma mais ou menos geral, gastaram grande parte do seu tempo e energias a reclamar a casta para uso próprio e exclusivo da região, tentando defender o indefensável. Como se o nome de uma casta, mesmo que autóctone, pudesse ser propriedade de uma só região neste mundo global em que vivemos.

Como se fosse moralmente defensável o uso privativo e absoluto de uma casta quando nós próprios nos apropriamos de castas de outros países como o Alicante Bouschet, o Syrah, o Sauvignon Blanc ou tantas outras castas internacionais. Como se fosse razoável exigir o usufruto privado e exclusivo sobre o nome de uma casta que, imagine-se a ironia, é transfronteiriça e consequentemente pertença de dois países. Como se fosse exequível impedir o uso do nome Alvarinho em regiões ou países livres como a Austrália, Califórnia, Brasil ou Uruguai. Como se fosse razoável impedir que regiões portuguesas como o Dão, Alentejo ou a Península de Setúbal estivessem impedidas de mencionar o nome Alvarinho nos rótulos e contra-rótulos, mesmo que a casta fosse extreme ou estivesse presente no lote.

Felizmente que a região do Vinho Verde e a sub-região de Monção e Melgaço, o berço natural da casta Alvarinho, ganharam consciência desta inevitabilidade e da falta de sustentação nos seus desejos instintivos de querer guardar a casta para uso exclusivo. Felizmente que a região deixou de gastar recursos e energias a tentar combater uma guerra perdida e sem nexo, uma campanha tão absurda como seria pretender reservar a casta Touriga Nacional para as regiões do Douro e Dão… ou a casta Cabernet Sauvignon para a região de Bordéus, tentando impedir que qualquer outra região do mundo pudesse utilizar o nome da variedade nos rótulos.

Agora que estas insólitas guerras fazem parte de um passado já resolvido é tempo de a sub-região de Monção e Melgaço afirmar de boca cheia a qualidade dos seus vinhos, aquilo que verdadeiramente interessa. Porque disseminar e popularizar a casta Alvarinho por outras regiões nacionais e outros países não implica necessária e automaticamente que venham a nascer vinhos de qualidade superior nessas regiões. Por muito que isso doa a outras denominações e países, o padrão de qualidade da casta Alvarinho é claramente marcado pela sub-região de Monção e Melgaço e, naturalmente, pelos vinhos galegos que nascem do outro lado da fronteira minhota.

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