Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

Porto Vintage 2011: Nunca tantos vinhos foram tão bons

Por Pedro Garcias

A apresentação mundial dos vintage 2011, realizada no Porto, não atraiu os grandes críticos internacionais que a organização pretendia, mas serviu mais uma vez para confirmar a excelência daquela colheita. Todos os 56 vinhos foram provados às cegas e o grande desafio que se colocou, face à elevada qualidade geral, foi estabelecer uma hierarquização

Os Porto Vintage de 2011 foram alvo de apresentação mundial no dia 21 de Junho, no Porto, naquela que foi a primeira grande prova cega da mais badalada e elogiada colheita das últimas décadas.

As principais instituições do sector- IVDP, CCDRN, associação de empresas do Vinho do Porto e Confraria - reuniram no novo espaço BH, na marginal da Foz, vários jornalistas estrangeiros e nacionais e alguns convidados para um exercício degustativo único e exigente: provar às cegas 56 vintages de 2011 em cerca de quatro horas.

Das principais marcas existentes, só faltaram o Quinta do Noval Nacional e o Vargellas Vinhas Velhas, os dois vintages mais raros e caros do mercado. A prova confirmou a excepcionalidade da colheita de 2011 e mostrou uma qualidade geral como há muito não se via, tornando difícil distinguir os vintages muitos bons dos vintages excelentes. "Não me lembro de um ano vintage com tantos vinhos tão bons", sublinhava Charles Symington, o responsável enológico do grupo Symington.

Dispor de apenas quatro ou cinco horas para provar 56 vintages não era o problema maior. A grande dificuldade residia na natureza dos próprios vinhos, por serem do mesmo ano e da mesma categoria, ou seja, vinhos ainda jovens e muito parecidos nas suas componentes principais: álcool, açúcar, cor, aroma, sabor, estrutura e acidez. Há provadores capazes das maiores proezas, mas, sejamos honestos, é uma utopia pensar elaborar um ranking justo e irrebatível de 56 vintages numa prova única, demore a mesma quatro ou oito horas. A grande estrutura tânica destes vinhos tem um tal impacto sobre o palato de qualquer provador que, ao fim de 10 a 15 vinhos, começa a ser difícil julgar e comparar.

Uma boa parte dos vinhos em apreciação já tinham sido provados pela Fugas em apresentações individuais promovidas pelos respectivos produtores (ver prova da Fladgate Partnership ao lado). Reduzindo o leque da prova, é sempre mais fácil detectar as diferenças e as particularidades de cada marca. A presença dos seus criadores também nos ajuda a perceber melhor a origem do vinho e a valorizar pequenos detalhes.

Por outro lado, o facto de conhecermos à partida o nome da marca acaba, diga-se o que se disser, por influenciar o resultado da prova. Por exemplo, perante o vintage Noval Nacional, o mais caro e exclusivo de todos, qualquer provador sente uma responsabilidade acrescida que o inibe de atribuir uma classificação com base exclusivamente no impacto imediato causado pelo vinho, sobretudo se esse impacto não foi muito positivo.

Nas provas cegas não conhecemos o nome, o preço e a história do vinho, critérios essenciais na hora de tomarmos uma decisão de compra. O que prevalece é a impressão que cada vinho causa no provador. Estará aqui a virtude? Claro que não. Um vinho é muito mais do que uma mera bebida e uma prova cega apenas permite avaliar o gosto do provador naquele dia. Num dia diferente, de certeza que o mesmo provador atribuiria notas diferentes. Acresce que as provas cegas tendem a valorizar os vinhos sensorialmente mais exuberantes. Vinhos mais fechados e austeros acabam quase sempre por ser penalizados.

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