Na década de 90 começa a haver um aumento exponencial da área de vinha na região, com as Adegas Cooperativas a iniciarem uma corrida, com o intuito de serem as que pagam melhor as uvas aos seus associados.
Para dar uma ideia real de preços praticados, dou um exemplo dos preços então em vigor:
- 1996: cerca de 140$00 (0,70 €)
- 1997: cerca de 250$00 (1,25 €)
- 1998: cerca de 400$00 (2,00 €)
Hoje, 17 anos mais tarde, transaccionam-se uvas a cerca de 0,35 €!
Se o Alentejo tivesse investido apenas cerca de 20% do preço das uvas a desenvolver novos mercados, hoje provavelmente estaria a valorizar as uvas pelo dobro do preço agora praticado. Para melhor ilustrar, esse valor não andaria muito longe do valor que hoje dispõe a ViniPortugal para a promoção genérica do vinho português.
Quando entrámos no novo século, começa a dificuldade de equilibrar a oferta à procura, com a proliferação da oferta a atingir proporções inusitadas, com a inerente quebra acentuada dos preços dos vinhos, e, por consequência, do preço das uvas.
As Adegas Cooperativas não conseguiram manter uma política comum de sustentação dos preços e o trade acabou por tirar partido da situação. Por outro lado, também não fazem reflectir a diminuição do preço dos vinhos no preço das uvas e, como tal, começam a surgir graves problemas de sustentabilidade do negócio.
Os novos produtores, que tinham pensado que iriam rentabilizar as suas explorações com a venda de uvas, resolvem adiar ou aumentar o problema, investindo em adegas próprias. Como têm dificuldades em afirmar-se no mercado, começam a vender uvas e vinho a preços mais baixos, pondo obviamente em risco a sua exploração.
As raras excepções são normalmente aqueles que conseguiram imprimir um carácter diferenciador aos seus vinhos.
Depois desta minha visão sobre como vi o Alentejo quando cheguei e como está agora a região, resta falar de como vejo o futuro.
Quando se fala em qualidade de vinho produzido numa determinada região, deve ter-se em consideração a verdadeira qualidade média dos vinhos produzidos por essa mesma região. No Alentejo, e até à data, tem sido fácil, pois é a qualidade tangível da região que está dentro das garrafas, pois todo o vinho é engarrafado.
A crença no Alentejo
Como sempre tenho afirmado, não conheço nenhuma região em Portugal onde não se possam produzir bons vinhos. Julgo mesmo que Portugal vai acabar por ver o seu valor reconhecido, enquanto produtor de vinhos de enorme qualidade e invulgar especificidade. Assisti durante o meu percurso de enólogo e produtor no Alentejo ao enorme sucesso da região e à extraordinária apetência dos consumidores pelos seus vinhos.
O Alentejo funcionou, do meu ponto de vista, como o caminho que se deveria percorrer para ser uma região de eleição. Os seus vinhos, jovens, com ênfase de fruta bem madura e com taninos presentes mas amáveis, vieram mostrar ao consumidor que o estilo de vinho cansado, oxidado, sem fruta, com taninos duros e secos estava definitivamente ultrapassado. A este facto deve o Alentejo e Portugal ao extraordinário desempenho das Adegas Cooperativas da região. As Adegas Cooperativas do Alentejo vieram dar aos consumidores um selo de garantia, que veio de alguma forma terminar com a época dos armazenistas, a maior parte dos quais nem um pé de vinha tinha. Os vinhos passaram a ter "berço", para além da evidente melhoria do perfil e da qualidade.