Fugas - Vinhos

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Martine Saunier: “Acredito que o futuro dos vinhos vai ter de passar por Portugal”

Uma história de família

Os vinhos fazem parte da história de Martine Saunier desde a infância, literalmente. Nascida em Paris na década de 1930, passava os três meses do Verão na Borgonha, na quinta duma tia em Prissé, perto da cidade de Mâcon, na margem do rio Saône. "Ao domingo, no almoço de família, o meu pai servia sempre bom vinho, e eu chorava se não tivesse direito a um bocadinho de tinto no meu copo. O vinho começou, muito cedo, a fazer parte da minha vida", recorda.

O casamento com um americano levou Martine Saunier a radicar-se na Califórnia, em 1964. E por que levava consigo todo um capital de conhecimento e de contactos com as gentes dos vinhos da Borgonha, decidiu estabelecer-se por conta própria nessa área. Com o tempo, tornou-se uma embaixadora dos vinhos do seu país na América. Todos os anos, regressava por três meses a França, e com o seu Citroen 2C – o mesmo que podemos vê-la ainda usar no filme Um Ano na Borgonha – percorria as quintas familiares, para experimentar e comprar as marcas – desde as mais conhecidas, como Beaujolais, Côtes-du-Rhône ou Châteauneuf-du-Pape, mas também Mâcon, Pouilly-Fuissé, Château Rayas ou Henri Jayer –, que depois apresentava e "ensinava" os americanos a beber.

Criou assim a sua marca própria, a Martine’s Wines. Inc, que começou com apenas uma secretária, mas depois foi crescendo até se tornar, como se lhe referiu uma vez a famosa crítica de vinhos Jancis Robinson, "a importadora extraordinária".

Passados quatro décadas de actividade, Martine Saunier vendeu a sua empresa no final do ano passado a um antigo cliente de pequena dimensão – "não queria vender o meu nome a uma grande companhia", justificou na altura –, mas continua ligada a ela como consultora.

Tem agora mais tempo para se dedicar a apresentar aos consumidores americanos novos vinhos, e está apostada em continuar a fazê-lo com os vinhos portugueses, e não só com os Porto. "Acredito que o futuro dos vinhos passa verdadeiramente por Portugal", assegura a especialista, chamando a atenção para a aposta que os homens do Douro, e não só, vêm fazendo, nos últimos anos, nos vinhos de mesa, incluindo neles também os verdes – como o Alvarinho.

Martine Saunier destaca, em particular, a acção da Niepoort. "O Dick fez um excelente trabalho a incitar as pessoas a fazer bons vinhos. Há muitos jovens que tenho encontrado e que estão a desenvolver o potencial das vinhas".

O Vinho do Porto continua a ser, naturalmente, o principal cartão-de-visita dos vinhos portugueses na América. Já não apenas através dos Vintage, mas também dos Colheita e dos Tawny, que têm a vantagem, sobre aqueles, de não terem de ser bebidos mal se abre a garrafa, o que faz com que ocupem um lugar cada vez maior nas casas dos consumidores, e nos restaurantes.

"Há actualmente na América uma verdadeira disponibilidade para os vinhos portugueses – mesmo para o Vinho Verde. Mas "o que verdadeiramente pode salvar os vinhos em Portugal é a aposta na qualidade", assegura a empresária, notando que os americanos começam a ficar fartos da "mediocridade dos vinhos técnicos" que lhes chegam da Argentina, do Chile e da Austrália.

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