Fugas - Vinhos

Fernando Veludo/nFactos

O regresso da família Alves de Sousa ao vinho do Porto

Por Pedro Garcias

Pioneiro na produção de vinhos do Douro de qualidade, Domingos Alves de Sousa está agora a virar o foco para o vinho do Porto, recuperando uma velha tradição familiar. E a aposta promete

Em apenas duas décadas, Domingos Alves de Sousa construiu uma grande reputação nacional e internacional como produtor de vinhos do Douro. Os seus tintos, desde o Quinta da Gaivosa ao Abandonado, passando pelo Vinha Lordelo e o Alves de Sousa Reserva Pessoal, estão na lista dos melhores vinhos durienses da actualidade e os brancos começam a afirmar-se.

Agora, a sua aposta é o vinho do Porto, recuperando uma tradição familiar iniciada na segunda metade do século XIX, quando as anteriores gerações começaram a produzir regularmente vinho generoso para as principais casas exportadoras.

A história bem sucedida do produtor da Cumieira (Santa Marta de Penaguião) emula o caminho percorrido nos últimos 20 anos pela própria região do Douro, que, depois de três séculos dedicada quase exclusivamente ao vinho do Porto, despertou para os vinhos tranquilos de uma forma meteórica. Casas que só produziam vinhos fortificados passaram a produzir também vinhos DOC. Inversamente, com a expansão do negócio e aproveitando a crescente notoriedade das suas marcas, os novos embaixadores dos vinhos tranquilos durienses começaram a apostar também no vinho do Porto.

Foi o que aconteceu com Domingos Alves de Sousa. Ao fim de vários anos a reestruturar e a comprar vinhas (possui hoje 130 hectares distribuídos por seis quintas), a fazer estudos de zonagem e a testar microvinicações das várias parcelas e das diferentes castas da região, passou a ter condições para alargar o negócio dos vinhos tranquilos ao vinho do Porto.

Na verdade, ao longo das últimas duas décadas, Domingos e o filho, Tiago Alves de Sousa (que representa a quinta geração e é o responsável pelas vinhas e pela produção dos vinhos), nunca deixaram de fazer pequenas experiências com vinho do Porto. Mas o foco principal sempre esteve centrado nos vinhos do Douro. Por isso, foi com alguma surpresa que, no final de 2013, na habitual apresentação à imprensa, Alves de Sousa só deu a provar vinho do Porto, mostrando já uma gama bem diversificada. Entre Porto branco, ruby e tawny, foram 11 os vinhos apresentados.

O portefólio começa com o Caldas Porto White, um vinho com uma idade média de sete anos sem o tradicional estágio em madeira (8,50 euros). Mais a puxar ao fruto, é um branco simples e bastante agradável, mas não tanto como o belíssimo Quinta da Gaivosa Porto White 10 anos (15 euros). Agridoce de aroma (citrinos, tostados, melaço), é um vinho muito untuoso, rico e de final fresco e persistente.

Nos ruby, a gama começa com o Caldas Porto Special Reserve (8 euros) e inclui o Quinta da Gaivosa LBV 2009 (15 euros) e os Porto Vintage Quinta da Gaivosa 2003 e 2008 (30 euros) e Alves de Sousa 2009 e 2011 (39 euros). Vinhos que reflectem uma grande riqueza de vinhas e de terroirs, bem patente, por exemplo, nos vintages: mais frescos os da Gaivosa (magnífico o 2008, na sua frescura vegetal e balsâmica), mais concentrados e maduros os Alves de Sousa (juntam uvas de várias quintas). De todos, vale a pena destacar o Alves de Sousa Vintage 2011, um Porto à altura dos melhores vintages das casas históricas do sector e bastante mais barato. Aroma exuberante, grande concentração tânica e enorme frescura. Tem tudo para envelhecer bem durante muitas décadas.

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