Não há muitos anos, quem associava o vinho do Porto ao Verão? Só mesmo os maiores adeptos da bebida, sobretudo do Porto branco, que deve ser bebido sempre fresco. E quem imaginaria uma ligação comercial entre vinho do Porto e jovens praticantes de skate radical? Bem, neste caso, só mesmo algum excêntrico ou visionário. Aos olhos dos guardiães das tradições e dos rituais da mais famoso vinho português, seria uma heresia, uma brincadeira de mau gosto. O Vinho do Porto sempre esteve associado a momentos formais e solenes e celebrar descidas vertiginosas e piruetas em varandins e pistas ovaladas é mais apropriado a bebidas tipo Red Bull ou Coca-Cola.
Mas o mundo mudou e o vinho do Porto também foi obrigado a mudar, para fugir ao mesmo destino triste do Xerês e atrair novos consumidores. E de 14 a 17 de Agosto, a cidade de Vila Nova de Gaia vai acolher a sexta etapa do campeonato do mundo de Downhill em Skate com o patrocínio do Croft Pink, o Porto Rosé da Fladgate Partnership.
Para quem não saiba, o Downhill em skate é a mais radical das provas de skate e os seus praticantes chegam a atingir velocidades da ordem dos 100km/hora. A corrida tem ainda o aliciante de, pela primeira vez, se realizar nas ruas do centro urbano de Gaia, a cidade das caves de vinho do Porto. Os ortodoxos do vinho do Porto podem não achar piada, mas a associação do Croft Pink ao Downhill em skate faz todo o sentido.
A Fladgate explica-a assim: "O Croft Pink é um estilo inovador de vinho do Porto, quebrou barreiras e aproximou-se de forma criativa e singular dos consumidores, desafiando-os a despertar novos sentidos e a descobrir novos sabores. Uma filosofia também partilhada com o Downhill em Skate, uma modalidade não convencional que vem trazer às pessoas uma nova forma de entretenimento com desporto".
Descontando o lado publicitário, vale a pena recordar que a dessacralização do vinho do Porto começou precisamente com o Croft Pink, o primeiro vinho do Porto rosé a ser produzido (a cor rosada deve-se ao limitado contacto do sumo com as películas das uvas durante a fermentação). Estávamos no final de 2007 e, na altura, a novidade foi mal recebida por muitos críticos britânicos e pelos responsáveis de outras companhias do sector.
O mais chocante foi a inovação partir da Croft, uma das mais antigas casas de vinho do Porto, fundada em 1588. Surgiram reclamações até sobre se o novo vinho cumpria a legislação do sector, uma vez que só era permitido fazer vinhos do Porto brancos ou tintos. A questão foi ultrapassada integrando o vinho na categoria dos Porto Ruby, apesar do nome "Pink" e da cor não enganarem ninguém. A anuência/conivência da direcção do Instituto do Vinho do Porto de então teve uma contrapartida verbal: o vinho não podia ser vendido a menos de 7,5 euros a garrafa.
Nos últimos anos, o preço do vinho do Porto rosé tem baixado (anda nos 4,07 euros o litro), mas o estilo impôs-se e as vendas já têm algum significado. Em 2013, foram vendidas cerca de um milhão e 80 mil garrafas, no valor total de três milhões de euros. Cerca de 65% desta fatia é assegurado pela empresa Gran Cruz, de capitais franceses, o que explica que a França seja actualmente o principal destino do Porto rosé. No início, era o Reino Unido, mas agora já compra menos do que a França (45%), a Holanda (20%) e Portugal (13%) e o mesmo do que a Bélgica (6%).