Fugas - Vinhos

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    ESPORÃO ALICANTE BOUSCHET 2010

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Alicante Bouschet, a prima donna que se deu bem no Alentejo

A herança dos Reynolds

Apesar de não se saber com segurança quando e como a Alicante Bouschet foi introduzido em Portugal suspeita-se que a família Reynolds, responsável desde sempre pelos vinhos da Herdade do Mouchão, tenha cumprido um papel decisivo na sua popularização pelas vinhas do Alentejo. Para isso muito contribuiu uma das características singulares da Alicante Bouschet, a incrível capacidade corante da casta. Na verdade a Alicante Bouschet é uma das raríssimas variedades tintureiras do mundo, palavrão do mundo do vinho que significa que a cor tinta está presente não só na pele como na polpa de cada bago de uva. Um, atributo que permite aos vinhos elaborados com a casta terem sempre uma cor mais intensa e carregada que com qualquer outra variedade tinta do mundo.

Ora terá sido precisamente essa capacidade tintureira que terá impulsionado a família Reynolds a plantar Alicante Bouschet no Mouchão, condição indispensável para o estilo de vinho produzido nesta propriedade. Convém recordar que a Herdade do Mouchão começou por produzir unicamente vinhos generosos, elaborados segundo a mesma lógica do Vinho do Porto, vinhos fortificados com a adição de aguardente para parar a fermentação.

O maior problema dos Mouchão iniciais, do início do século XX, é que a cor desvanecia rapidamente perdendo uma das distintivas principais dos vinhos fortificados, a cor preta e intensa que deveria sobreviver assim durante mais de uma década. A Alicante Bouschet teria sido introduzida pela família precisamente para obviar essa contrariedade, acrescentando uma casta tintureira que permitisse vinhos muito mais escuros e consentâneos com a tradição dos vinhos fortificados.

No final do século passado, com o renascimento da região e o sucesso dos vinhos alentejanos, depois de muitos ensaios com castas da região, castas nacionais de outras origens e castas estrangeiras, a Alicante Bouschet afirmou-se como uma das referências do Alentejo passando a ocupar um espaço central nas vinhas da região. O que é ao mesmo tempo uma incongruência e uma bênção porque a Alicante Bouschet é desconsiderada em quase todos os outros países e regiões onde é plantada. Tanto em França, como em Espanha, Itália, Suíça, Argentina, Chile, Hungria, Chipre, Israel ou Argélia a casta é menosprezada e entendida como simples e desinteressante.

Em Portugal, e sobretudo no Alentejo, a Alicante Bouschet encontrou o seu local de eleição. Por alguma razão que a razão não consegue justificar a casta adaptou-se de forma notável aos vários climas alentejanos e conseguiu estabelecer-se como a base essencial para a maioria dos vinhos alentejanos, sobretudo na camada superior da hierarquia qualitativa do Alentejo. Curiosamente, a casta só se conseguiu afirmar de forma assertiva numa outra região do mundo, em Sonoma Valley, na Califórnia, região onde muitos produtores lhe devotam uma atenção e considerações especiais.

De forma simplista quase a poderíamos comparar ao papel que a Malbec preenche na Argentina ou ao papel que a Tannat cumpre no Uruguai. Castas que na região natal de Bordéus ainda hoje continuam a ser desprezadas, mas que transformaram a identidade e a alma das regiões de adopção. Com a grande diferença que a Alicante Bouschet é muito melhor e muito mais improvável que castas como a Malbec ou a Tannat.

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