Fugas - Vinhos

  • Paulo Pimenta
  • DR

Os verdes atiram-se ao mundo

Por José Augusto Moreira

As exportações não param de crescer e representam já mais de 40% da produção. Concurso para os vinhos da produção e as melhores harmonizações mostram como a qualidade dos verdes tem evoluído.

No mar de dificuldades e constrangimentos a que o sector vitivinícola também não escapa, há uma espécie de oásis chamado vinho verde. As vendas continuam crescer e, com elas, as exportações dão até mostras de um dinamismo que é caso único. Mesmo quando olhado ao nível internacional. Só na última década, as vendas de vinhos verdes para o estrangeiro passaram de um total de 10% para cerca de 40% da produção.

A evolução tem sido particularmente acentuada nos últimos anos e os principais mercados estão, por esta ordem, nos E.U.A., Alemanha e França, mas também destinos como o Canadá, Brasil e Suíça assumem crescente importância nas exportações dos vinhos frescos e diferentes do Noroeste de Portugal.

Para se ter uma ideia desse crescimento recente, diga-se que no último ano foram exportados à volta de 19,5 milhões de litros, quando há quatro anos esse volume era de 13,5 milhões. E os números quase triplicam quando olhados à distância de uma década, face aos 7,9 milhões de litros das exportações em 2003.

Mais interessante ainda é ver que, a par do crescimento em volume, também os preços de venda têm tido sempre um ligeiro incremento, numa tendência que vai ao arrepio daquilo que tem sido a regra para a generalidade das regiões produtoras de todo o mundo. Os preços têm caído, nalguns casos até de forma acentuada, praticamente com uma única excepção para os grandes vinhos franceses.

As contas mostram que o preço médio por litro das exportações de verdes passou de 2,1 para quase 2,3 euros por litro ao longo da última década. Não será uma grande valorização, mas o que a torna mais interessante é verificar que, quando sobrepostos os gráficos da evolução em euros e em volume, o crescimento do valor é sempre ligeiramente superior ao das quantidades. Uma tendência que se mostra crescente e consistente ao longo dos últimos anos.

As razões podem ser muitas e a elas não será alheio o facto de consumidores e especialistas, sobretudo internacionais, reclamarem por vinhos diferentes, mais leves e frescos. Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura Regional (CVR), reclama também uma mudança geracional e de atitude, com efeitos na modernização das vinhas e a qualificação do trabalho nas adegas.

Os números parecem confirmar essa mudança e uma aposta na qualidade em detrimento da quantidade. Dos mais de 46 mil produtores registados em meados da década de 1990, a região passou para 33 mil há dez anos e cifra-se actualmente nos 20 mil. Também a produção total de vinhos verdes que era de 90 milhões de litros em 2005 passou para pouco mais de 50 mil no ano passado.

Melhores combinações

Com qualidade crescente e uma cada vez maior aceitação nos mercados externos, o presidente da CVR acredita mesmo que ainda nesta década as exportações hão-de ultrapassar os 50% da produção, tal como vaticinou na recente cerimónia de entrega dos prémios aos melhores vinhos da região. Manuel Pinheiro crê ainda que o modelo adoptado nos últimos anos para o concurso anual também tem ajudado a definir linhas de evolução qualitativa. Além de especialistas externos, o júri integra também provadores das várias CVR do país, e parece evidente que os verdes se afastam cada vez mais do padrão adocicado e gaseificado que era tradicional.

--%>