Fugas - Vinhos

  • Reserva Especial da Casa Ferreirinha de 2007
    Reserva Especial da Casa Ferreirinha de 2007
  • Luís Sottomayor, o responsável  enológico da Casa Ferreirinha,
    Luís Sottomayor, o responsável enológico da Casa Ferreirinha, Manuel Roberto

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Um Reserva Especial entre os melhores de sempre

A escolha dos lotes e das castas, a combinação do poder e da raça das uvas de baixa altitude com as que provêm de zonas mais frescas e com maior potencial de acidez, a intervenção da enologia na escolha ou no tempero da barrica fazem estes pequenos milagres aos quais é difícil ficar indiferente.

Quem gosta de vinhos com alguma idade, ou quem prefere tintos com mais garra e juventude, tem aqui um excelente pretexto para pôr tudo em questão. Porque o 2007 Reserva Especial tem o potencial aromático e a textura de um vinho muito jovem e até o 1986 é capaz ainda hoje de dar uma lição de sofisticação, nervo e profundidade a muitos vinhos acabados de sair da adega. Se isto não é testemunho de grandiosidade e de excelência, vá-se lá saber o que é a grandiosidade e a excelência nos vinhos.
(Manuel Carvalho)

Não é mas podia ser Barca Velha

O novo Ferreirinha Reserva Especial 2007 nasceu com pedigree de Barca Velha. Até há bem pouco tempo, Luís Sottomayor, o responsável enológico da Casa Ferreirinha e a quem cabe a decisão final, não tinha dúvidas de que estava ali mais uma colheita do melhor vinho tinto português.

O seu extraordinário aroma, muito Douro, e a profundidade e frescura que mostrava apontavam para Barca Velha. Mas a dada altura da evolução do vinho Luís Sottomayor notou que lhe faltava qualquer coisa para poder chegar lá. Não sabe explicar bem o quê. Talvez alguma falta de espessura no primeiro ataque de boca.

A excepcionalidade do Barca Velha 2004, o último a ser lançado, fornecia termos de comparação muito exigentes e, na dúvida, o que prevalece no final é a intuição, o feeling do enólogo. Apesar de serem ouvidas várias pessoas, a última palavra cabe sempre ao enólogo-chefe da Casa Ferreirinha, mesmo que essa decisão signifique uma perda de receita de milhões de euros para a empresa.

O Reserva Especial sai para o mercado a cerca de metade do preço do Barca Velha. O último Barca Velha saiu a 240 euros. Do Reserva Especial 2007 foram produzidas um pouco mais de 30 mil garrafas. É só fazer as contas. Mas é assim que se cria o prestígio de um vinho. Hoje, o Reserva Especial não é encarado como um parente pobre do Barca Velha, mas sim como um Barca Velha mais barato.

Provado à mesa já com a decisão tomada, voltam a aflorar as dúvidas, o mesmo dilema de sempre. Perante as evidências da sua enorme qualidade, Manuel e Fernando Guedes, dois dos membros da família que controla a Sogrape, questionam-se sobre se não foi um erro não ter declarado o Reserva Especial 2007 como Barca Velha.

Luís Sottomayor parece seguro da decisão tomada. Ninguém melhor do que ele conhece o vinho. Acompanhou-o desde que ainda era uva até chegar à garrafa, foi seguindo a sua evolução e, muito importante, nos 25 anos que leva como enólogo na Casa Ferreirinha, já lhe passaram muitos Barca Velha e Reserva Especial pelas mãos.

Não é fácil perceber que falta ao vinho “qualquer coisa por trás da boca”, como sugere. Mas, de facto, insistindo na prova percebe-se que há um pequeno hiato entre a exuberância do aroma e o arrebatamento final. Em vez de uma linha recta, desdobra-se mum sobe e desce sensorial. Falta-lhe a harmonia e a perfeição de nascença que um Barca Velha exige.

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