Fugas - Vinhos

  • Reserva Especial da Casa Ferreirinha de 2007
    Reserva Especial da Casa Ferreirinha de 2007
  • Luís Sottomayor, o responsável  enológico da Casa Ferreirinha,
    Luís Sottomayor, o responsável enológico da Casa Ferreirinha, Manuel Roberto

Continuação: página 3 de 3

Um Reserva Especial entre os melhores de sempre

A um bom livro não lhe basta ter um grande começo e um grande final. Necessita de uma estrutura sólida e apelativa para agarrar o leitor. Os vinhos são um pouco assim. Mas têm nuances. Como possuem vida, o tempo vai-os depurando, afinando e enriquecendo e os melhores só ao fim de alguns anos é que atingem a perfeição (embora também haja livros que só ao fim de muitos anos alcançam o reconhecimento e a consagração gerais).

O Reserva Especial 2007 precisa dessa prova do tempo, o mesmo tempo que foi dado, por exemplo, ao Reserva Especial 1997. O vinho era tão bom que a Sogrape demorou dez anos a decidir se o declarava como Reserva Especial ou Barca Velha. Nunca a hesitação foi tão demorada. A empresa já tinha lançado o Barca Velha 1999, mas não seria a primeira vez que lançaria um outro Barca Velha mais velho.

Um ano depois de José Maria Soares Franco ter deixado a direcção enológica da Casa Ferreirinha, Luís Sottomayor teve que tomar a sua primeira grande decisão como enólogo principal e defendeu que o vinho fosse Reserva Especial. Em boa verdade, a opção também foi influenciada por razões de marketing. Anos antes, a Casa Ferreirinha tinha sido impedida pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto de usar a expressão “Reserva Especial”. Em 2007, voltou a poder utilizar o nome original e nada melhor do que assinalar o regresso da histórica marca (o primeiro Reserva Especial data de 1962) com um vinho que podia ser Barca Velha.

Hoje, percebe-se que o Reserva Especial 1997 tem o que se associa a um Barca Velha: complexidade, riqueza, delicadeza e frescura. É um vinho distinto e cheio de carácter, de aroma finíssimo e com uma raça tânica e uma frescura admiráveis. Dezassete anos depois, tornou-se num ícone da Casa Ferreirinha. O tempo é um grande juiz, mas nem sempre a história termina bem. Basta ver o Reserva Especial 1992, feito apenas de Touriga Nacional. Sendo um vinho bastante bom, não merece a chancela Reserva Especial. No caso do 2007, a dúvida é de outra escala.
(Pedro Garcias)

--%>