A Fladgate Partnership, que controla marcas emblemáticas do vinho do Porto como a Taylor’s, a Croft ou a Fonseca Guimaraens, tem uma visão singular sobre o seu futuro. Ao contrário das suas principais rivais, insiste em manter a sua actividade nos Porto de qualidade superior, deixando à margem qualquer ambição de entrar nos DOC Douro.
Para o conseguir, muniu-se de um saber nas áreas da viticultura e em competências na área da enologia que estão na vanguarda do sector, não apenas em Portugal, mas também a nível internacional. Mas a empresa sabe que o caminho que seguiu é estreito e exige reformas institucionais no Douro e no vinho do Porto paras as quais será difícil encontrar aliados.
O universo empresarial do vinho do Porto sofreu uma profunda mudança na última década e Adrian Bridge, o líder da Fladgate Partnership, acredita que a consolidação do sector “está quase no fim”. Hoje resistem cinco grandes conglomerados, a Fladgate, os Symington, a Porto Cruz, Sogrape e Sogevinus e uma rede de seis empresas de dimensão muito inferior – a Noval, Niepoort, Ramos Pinto, Rozés, Poças Júnior e Andresen.
O que agora vai acontecer em Gaia passará, essencialmente, pela redução de marcas no mercado, uma vez que “não há possibilidade de fazer marketing com tantas marcas”, afirmou Adrian Bridge num seminário para jornalistas que decorreu no Porto.
As principais mudanças que a Fladgate reclama para o vinho do Porto passam por alterações legais e institucionais no Douro. E, fundamentalmente, na “protecção” que hoje é concedida aos DOC Douro.
Adrian Bridge afirma que, após estes anos de afirmação que levaram os vinhos tranquilos a representar 21% do rendimento da produção vinícola do Douro, está na hora dos DOC deixarem de ser tratados como um filho com direito a cuidados especiais. Os DOC Douro são sujeitos a uma carga fiscal muito menor (a começar pelo IVA) e estão isentos de custos administrativos que a regulamentação actual impõe ao vinho do Douro.
“Uma nova época de ouro”
Para a Fladgate, a coexistência entre os dois vinhos produzidos na região demarcada implica ou uma liberalização do sector do vinho do Porto, ou a aplicação de regras semelhantes às do sistema de benefício (autorizações de produção de vinho do Porto de acordo com regras estritas) aos vinhos tranquilos. Bridge não acredita que a liberalização seja hoje possível. Por isso, admite a necessidade de alargar aos DOC Douro normas de produção e comercialização que reponham as condições de concorrência dos dois vinhos.
Apesar de acreditar que uma série de reformas no sector poderia abrir “uma nova época de ouro”, a Fladgate Partnership não vislumbra no futuro ameaças graves à sua estratégia actual. No ano passado o grupo facturou 59 milhões de euros e este ano a expectativa de crescimento é de 10%. O negócio de vinhos com alto valor acrescentado é a chave do futuro. É para aí que a empresa tem dirigido os seus planos.
O lançamento do Scion, um vinho de 1855 que foi colocado à venda a 2500 euros por garrafa, a aquisição da Wiese & Krohn, uma empresa conhecida pelo seu valioso stock de vinhos velhos, ou a aposta numa viticultura e enologia que combina o saber histórico da região com a ciência fazem parte desses planos.